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quarta-feira, 19 de julho de 2017

Como Podes...?!

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Como podes julgar-me?!...
Julgar minha Fé expurgada,
Livre das tuas doutrinárias razões,
Que obedece ao canibalismo das comunhões,
Sem razão nem razoável clemência comungada,
Apenas temente à obrigação das cegas adorações,
Da configuração dos homens em suas prisões,
Configurados em cada palavra configurada,
Como se tua palavra fosse sagrada,
        Em teu juízo de divinas privações?!...

Como julgas, julgar-me?...
Julgando como aquele que te julga,
Esse que te obriga a escravizar-me,
E toda a liberdade da fé promulga,
    E da fé decreta libertar-me?!...

Como podes castigar-me,
Se nunca foste castigado?!...
Como podes reconhecer a razão,
Se a razão é um elo quebrado,
Na corrente da manipulação,
Inquebrável, sem nação,
O poder do enviado,
Imposição do diabo,
    Excomunhão?!...

Excomunhão!...
Como podes excomungar-me,
Excluir a minha Fé do Caminho,
Se sinto nosso Deus convidar-me,
    Para comer o Pão, beber o Vinho?!...
Ele é a fome que está a tomar-me,
É a sede que quer saciar-me,
É o murmúrio de carinho,
Que me alivia do teu espinho,
O teu julgamento de crucificar-me,
    Só porque julgas eu acreditar sozinho!...

Como podes libertar-me da minha liberdade,
Sem enclausurar a minha esperança em Deus,
Se não tens lugar à mesa da divina verdade,
    Onde não senta a crença de amigos ateus,
        Amigos teus sem dó nem piedade?!...

Como não é possível julgares-te,
Como podes não castigares-te,
Não excomungares-te,
  Ou libertares-te?!...
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domingo, 7 de agosto de 2016

Autómatos de Deus

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O autómato sintomático,
Com sintomas de automatismos,
Faz um discurso automático,
Cheio de preciosismos!...

Invoca automatismos de Deus,
Como se os autómatos fossem todos ateus,
Faz-se crer um enviado de deus e autónomo,
Sabendo-se um religioso heterónomo,
De automatismos que não são seus,
Preçário automático de fariseus,
Preço de obediente ecónomo,
   Títere articulado por judeus!...

E não faz perceber que se apercebe,
De ser um frio autómato programado,
Em sua celebração os autómatos recebe,
  Fala-lhes dos autómatos, mas nunca da plebe,
Esse rebanho autómato por autómatos orientado,
Automatizando a liberdade desse cordeiro sacrificado,
Obrigado a ser autómato que sangue de Cristo bebe;
É o corpo sem alma,
Corpo que se espalma,
Entre a prisão e a consciência,
Onde se move com triste calma,
Envolto nesse véu de reminiscência,
Quase Espírito sem coexistência,
     Que a razão autómata desalma!...

Passo a passo,
Assoberbam-se do seu Deus,
Nada mais cabe em corações seus,

  Nem para a verdade de Deus têm mais espaço!...
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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Salutares Bofetadas (A herança dos covardes)

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Prometera um par de salutares bofetadas,
Uma herança de todas as ditaduras vencidas,
Por herdeiros das democracias conquistadas,
   Expressão livre das liberdades conseguidas!...

Tão dura fora a dureza da dita que perdura,
Dura ditadura que do nada dito, tudo ditava,
Ditava a dita, um ruidoso silêncio que ficava,
     E nada se dissesse dos homens com bravura!...

Desertores castrados, pelo medo arvorados,
Homenzinhos que nunca partiram e voltaram,
Para se arvorarem com os heróis que ficaram;

São a dita, da dura e velha senhora, herdados,
Herdeiros de doutos juízes e inúteis advogados,
Que os filhos legítimos do povo condenaram!...
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terça-feira, 29 de março de 2016

Hera de uma Era e a Luz

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Arriscando entre a luz em perigo,
Entregou-se à luz ténue da fresta,
Não era a fresta um cómodo abrigo,
Era o caminho que caminhava consigo,
Caminhos entre uma iluminada floresta,
Onde as árvores cresciam em festa,
   Natureza de um costume antigo!...

Espreitou a luz que a espreitava,
Trepou com a luz dos seus sonhos,
Entre trevas e pesadelos medonhos,
E o medo que atrás dela desmedrava;
Enfim, a luz e todos os rostos risonhos,
Não se despedira dos rostos tristonhos,
    Era tanta a luz que os sonhos iluminava!...
Uma luz imensa,
A vida expandida das fontes,
Lembrou-se da fresta, viu pontes,
Abriu suas folhas viçosas à recompensa,
Cresceu rapidamente até novos horizontes,
Até sentir um corte que a deixou suspensa,
Na luz que dela se ia esvaindo!...
Ainda sentiu suas folhas caindo,
Caía nas trevas ao corte da foice fria,
Era o sonho que pela fresta se ia,
O fim da única Primavera,
Triste fim de mais uma Era,
A liberdade em agonia,
Era a luz que morria,
Como quem espera,
O que sempre quisera,
    À luz livre de cada dia!...



“Todos os pecados são enterrados vivos,
Sepultados sem pecado, para viver in Natura,
Vivem alimentados pelos mais puros motivos,
    Das flores que crescem em cada sepultura!...”
  
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Anos das Cabras (Os pastos secos da liberdade)


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… e se onde nasce o Sol a Paz é desejada no ano da ovelha,
Pede ao inferno, o olhar desta terra que se põe, que se abra,
São bípedes abestalhados,
No macio dos tempos bastos,
A engordar nos verdes pastos,
Á sorte selvagem abandonados;
Cresceram as bestas que são agora apanhadas de cernelha,
Afagam-lhes as cruzes fustigadas no lombo que se descalabra,
Arfam os quadrúpedes de língua pendida e olhar de esguelha,
E antes de verem o seu sorriso ser farpado de orelha a orelha,
Vêm uma familiar vaca coberta pelo desejo de ser cabra!...
São as vacas sem vergonha e de rastos,
Já fartas dos seus gordos bois castrados,
Fartas do olhar puro dos puros e castos,
Correm carregadas de pecados vastos,
Aguentam os cornos de bois derreados,
 Enquanto pastavam foram encornados,
     Escondem agora seus cornos já gastos!...

O Sol continua a nascer e cada um tem direito à sua centelha,
Os pastos do olhar deposto são agora sem cor e cor de viagra,
Pequenos olhos tranquilos vêm harmonia e Paz numa ovelha,
Grandes olhos traídos põem-se nos cornos de uma cabra!...

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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Não Veio Para Ficar


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Não veio para ficar,
    Janeiro!...
Do céu só pode nevar,
Há olhos frios no ar,
Dinheiro,
    Não veio para ficar!...
O álcool aquece até queimar,
Do último dia até ao primeiro,
Companheiro,
   Não veio para ficar!...
Mais um passageiro,
Vendido por inteiro,
E ainda por pagar;
Vem lá o mensageiro,
Emissário do despertar,
Do medo verdadeiro,
    Não veio para ficar!...

Sem medo de sorrir,
Há, de acordar a decência,
Há, de perder o medo, a consciência,
    Há, num Janeiro qualquer, de o medo partir,
Há, no fim da noite, de nascer um dia de desobediência,
  Sem medo do que não veio mas há, de estar para vir!...
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sábado, 20 de setembro de 2014

Teoria Absoluta da Liberdade Relativa


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Não fora suposto relacionar,
Quatro bigodes de gato, por cada gato, a dar,
Eram trinta pardos de janeiro, os famintos gatos,
Trinta e um se, por sete vezes, quisermos ser exatos,
E menos um gato de fevereiro, que já era suposto faltar;
 Seriam os pelos mais duros em seus sentidos mais latos,
Os voluntários à força que a fome soube forçar,
Soltaram os 366 miados mais abstratos,
     Mas depressa deixaram de miar!...

A felicidade numa gaiola é relativa,
Como relativa é a felicidade da própria gaiola;
Um passarito baloiça no poleiro de sua perspectiva,
Uma gaiola vê-se fechada no coração de sua tentativa,
Prisioneiros de uma argola livre, presa a outra livre argola,
Solta-se um dos muitos bigodes de gato e abre-se uma alternativa,
Se mais bigodes de gato se soltassem!…
Se as argolas, delas se libertassem!…
Um gato sem bigodes, preso do lado de fora, arranha uma viola,
Sem cordas nem bigodes, sem força nem desespero, mia uma esmola,
Na gaiola feita de bigodes de gato, há uma esperança contemplativa,
Os bigodes vão crescendo no gato e caindo da gaiola evasiva,
Sem perguntas, as respostas são vagas nos elos da escola,
O coração não aprende e os gatos são atitude passiva;
Se, pelo menos, os gatos miassem!…
Se os corações frios sangrassem!…
Se houvesse uma relação entre a liberdade dos gatos orgulhosos,
E os corações, livres de pelos desesperados, livres e carinhosos!…
Se as lágrimas presas nas lágrimas não secassem!…
Se a relatividade não fosse chave de prisão na mão dos poderosos,
Ou um pelo, em desespero, à espera que o arrancassem!…

Gaiolas em projecto,
Corações em gaiolas projectadas,
Gatos fechados em gaiolas relativadas,
Corações de passaritos em prisões sem tecto,
  Relativismos de liberdade com gaiolas relacionadas!...
   
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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dos Gargalichos até à Lua

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A Lua entrou numa órbita de leiloamento,
Cada olhar romântico terá um preço a pagar,
Olhares apaixonados pagarão pelo momento,
Só os donos da lua flutuarão em banhos de luar,
E ai dos amores que forem apanhados a sonhar,
Toda a luz dos sonhos proibidos irá a julgamento,
Será juiz quem comprou direitos do firmamento,
Os castigos serão o que cada um puder comprar,
     Há planetas nas mãos de um vendedor atento!...

Por cá,
 Onde a água vai perdendo a sua liberdade,
  O vento traiçoeiro vai levando os esguichos,
   Ai, a utopia dada à sede de muitos caprichos,
 Que se evapora na escravizada humanidade,
Alguém vendeu as água livres de insanidade,
    Água que enlouqueceu os secos gargalichos!...

Pela garganta dos gargalichos a céu aberto,
Como um rio, corre sem medo o luar,
Procura uns lábios para os beijar,
Ilumina-se o beijo liberto,
Com a lua muito perto,
      Ao alcance do olhar!...
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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Ditadura dos Cravos


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Aquela imagem teimosa,
A criança de rosto empoeirado,
Mãos que sacodem terra do pão,
O sacudir antigo da fome receosa,
Aquele olhar envergonhado,
      E a palidez da razão!...
Uma lágrima caída no chão,
Outra que se esconde, medrosa,
O ranho sujo pela fome provado,
 O insulso sabor da resignação,
    E a palidez silenciosa!...
O prato cheio de fé religiosa,
Na ponta da língua o pai-nosso rezado,
Todas as rezas e o acto de contrição,
O sonhar com a fartura perigosa,
      E a palidez do fado!...
O desespero amordaçado,
A mordaça com cores da nação,
O grito pobre de uma criança ranhosa,
     Moldura à imagem de um Povo amarrado!...

Chegaram os cravos da revolução,
Logo a seguir ergueu-se o punho cerrado,
Abriu-se a mão que se transformou numa rosa,
Setas apontavam um céu azul e o ouro da fartura,
Atrás das costas ficou o mal que nem sempre dura,
E o peso dos sonhos prometidos,
Dos soníferos cumpridos,
E o fim dos pesadelos da ditadura;
Cravos e mais cravos, por cravos protegidos,
Rosas e mais rosas entre cravos floridos,
O florescer livre da arte e da cultura,
O princípio de uma aventura,
     E os manifestos permitidos…
   O futuro…
A velocidade e o muro,
O fim que o cravo não previu,
    E seu esborrachar prematuro!...

Esta imagem que teima,
De crianças sem pais nem abrigo,
A fome da democracia que queima,
     Cravos que a ditadura trouxe consigo!...

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terça-feira, 15 de abril de 2014

Cravos à Força (Abril Nunca Mais)


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Carregaram-os em ombros, aos cravos triunfantes,
Regressaram os cravos pródigos educados no exílio,
Voaram em eufórica Liberdade, como nunca dantes,
Asas e cravos encontraram-se com filhos estudantes,
O povo soltou-se dos braços da pátria em seu auxílio,
Um poeta desertor prestou-se ao seu clamado idílio,
     Ficou marcado esse Abril com seus cravos brilhantes!...

Filhos de cravos, mais filhos do que filhos vulgares
Foram exilados em colégios nobres só para eleitos,
Aos ranhosos fora dada a liberdade e seus efeitos,
Cantar o hino sem obrigação é coisa de outros ares;
 Disse o velho coberto de tempo ao falar de direitos:
 -O sabor da tua colheita saberá ao que semeares!...
Com um punhado de terra negou meses perfeitos,
      Das suas mãos caiu terra fértil e fartura dos mares!...

Jovens cravos transformaram-se em professores,
Sartre alastrava-se e depressa cus se mostraram,
Quando virados para um governante de doutores,
Os cus universitário provocam intelectuais rumores;
Libertou-se a literatura e as liberdades se revelaram,
Beauvoir, libertada de sua timidez,
Alertou para futuros estados de estupidez,
Fosse qual fosse o país que socialistas tomaram,
Ou a ser tomados por capitalistas devoradores!...
O ensino programado é um estado de pequenez,
Tão fácil programar docentes no simulacro das cores,
Acreditaram nos intelectuais, seus excelsos superiores,
Esses mestres incontestáveis que para emigrar pagaram,
-Ou, se sem medo, digamos,
Com língua de palmo, o pagamos!...
Aprenderam tudo que de errado até hoje ensinaram,
E, por cá, dos intestinos apodrecidos de sua altivez,
Filhos desiguais dos altivos filhos que Abril fez,
Já não se revêm nos traidores que lutaram,
    Com cravos, agora, cobertos de palidez!...

Faz-te ao mar pequeno barco servil,
Não percas de vista os beijos no cais,
Regressa ao teu país depois de Abril,
   Cravos de Abril, é que nunca mais!...
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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Cravos à Força


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À força…
Fizeram de ti, terra sem identidade,
Impôs-se o impulso casual e urgente,
Tinhas de ser cravo para a posteridade,
Sem que pedisses para o ser,
Viram em ti proibidos desejos e toda a Liberdade,
Foste Esperança à força nas mãos de tanta gente,
Vergaram tuas hastes numa fartura aparente,
Para criar mais raízes fortes de fertilidade,
Fértil, fértil, foi a ilusão da semente,
Foste renovo para esquecer,
E antes que o pudesses perceber,
    Passaste a ser cravo de orgulho ausente!..

No lugar de cravos floridos de orgulho viçoso,
Movem-se gritos tontos a caminho da fome,
Tontos militares cheiram o seu cravo famoso,
Um cheiro de vergonha liberta-se, silencioso,
   Os cravos sem culpa são do Povo sem nome!...

Já não somos Portugal,
Não sabemos que terra defender,
Sentimos este traidor desapego nacional,
   Elegemos quem nos comeu, come e continua a comer!...
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sexta-feira, 21 de março de 2014

Dia da Poesia?!...


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Porque hoje…
 Querem fazer dos Poemas infinitos,
Um solitário e tão finito quanto único dia,
Boicoto esse convencional delito dos delitos,
Continuando a procurar-me no infinito da Poesia;
Procuro-me na liberdade dos dias e na livre alegria,
Abraço a tristeza que sobrou dos poemas aflitos,
Abro os braços e solto o grito dos gritos,
  Libertando-me dessa hipocrisia!...

A poesia é todo o tempo,
É o princípio dos fins sem fim,
A fonte do livre fundamento,
De onde corre o movimento,
    Que te liberta de mim!...
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Hábito Livre da Livre Rotina

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Sou de Rotinas,
Gosto de passar… e passo,
Pelo nunca onde sempre passei,
Faço-me no caminho que desfaço,
E faço o que desfiz quando cheguei;
Reconstruo partidas das quais partirei,
Livre dos pontos exactos de compasso,
Sem linhas que limitem o meu espaço,
E me prendam à periferia de uma lei,
Obriguem à constância do escasso,
    Curva inconstante do que sei!...
    Sou de hábitos e rotinas…
Dou por mim a ver-me passar,
No verde da mimosa já amarela de cor,
Revivo a sensação nova do revisitado estupor,
Imobilizo-me no sorriso dos lábios florescidos por amar,
E pinto o primeiro quadro que sempre pintei e volto a pintar,
    Único, da delicadeza de Primavera a florir no Inverno em flor!...
   Sou de rotinas…
Neste hábito de sentir nos compassos a incerteza a aflorar
Esquecidos dos círculos fechados incompletos por amor!...
    
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domingo, 29 de dezembro de 2013

A Saudável Transparência da Loucura Consentida


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Há uma mente sã em corpo são ou um corpo perfeito terá, obrigatoriamente, de ser encabeçado pelo armazenamento de um cérebro de noz?!... Podemos ser nós armazenados ou a noz do armazém. Podemos ser um corpo bem empacotado e pronto para despacho, em fim de ano memorável, sem loucura, sereno e natural!...
Tudo normal,
O princípio do fim e o fim do fim,
E o início casual,
Dos casuais assim-assim,
Assim como a loucura mais acidental,
   E os heróis imperfeitos embrulhados em ti e em mim!...
Há coisas a reter no pensamento. Mesmo que o pensamento se retenha nessa estranha forma de retenção selectiva dos pequenos vidros partidos e dos grandes estilhaçados. Os soldados da paz, andam por cá para isso, e para lá do que podemos imaginar num só ano perfeito, sem armas, desarmados, armados até ao pirilampo de alarme, o olho e a simbiose perfeita com o grito da sirene, abrindo alas ao socorro que passa sem olhar para os lados e, às vezes, até o que vem de frente é cegueira justificada, aos olhos postos no fogo por atear ou no fogo posto ao pôr-do-sol. Não é este o presente caso que, por acaso, não envolve o calor do corpo ou do esquentamento sem precaução em baixo inverno, nem as repentinas cheias de verão e transbordos ejaculados para fora da gravidez e respectiva assistência aos partos... ou às mães de pernas abertas ao grito bem seguro pelo cordão umbilical, sem incidentes de maior,
Ou melhor,
Do mal que por mal, mais vale do piorio,
E nada pode ser pior,
No entrelaçar da ajuda e muito suor,
Do que tentar uma gravidez em completo desvario,
De uma mulher em delírio de passada e prenhe de cio,
    E ainda o dito parto por consumar não lhe violara a mioleira,
Como viria a acontecer antes de acontecer naquela cegueira,
E, a verdade não dita, é que tudo se tornou mais frio,
   E nada de concrecto nasceu daquela maluqueira!...
Há anos perfeitos e este foi um deles, o ano dos vidros de janela, à espreita, onde olhos perfeitos e felizes se esconderam da perfeição social e política, para não caírem na perfeita tentação de aceitar telhados de vidro e enormes vidros de proteção que erguessem quantas paredes quisessem. A perfeita transparência do que não se quer esconder, porque numa sociedade perfeita e sã, nada se esconde, nem a sanidade mental nem a loucura mais transparente. O problema seria mesmo de transparência!... Com tudo tão transparente, um telefonema transparente, com 41 de pé, atravessou linhas transparentes da companhia telefónica transparente e chegou aos ouvidos transparentes do operador de telefone, ambos transparentes. A mensagem não podia ser mais transparente: -Socorro, é urgente. Há sangue por todo o lado, vidros partidos e golpes profundos, talvez alguém já tenha morrido e eu estou a segurar o telefone com dois pés que não são meus, porque já nem os meus ricos polegares tenho, nem mais 3 dedos.
Mais claro não poderia ser!...
-Pode repetir?...
-Estou a morrer.
Nada a esconder,
Se mais um vidro se partir,
O mais certo é ninguém sobreviver,
E lá se vai a transparência em vias de se extinguir,
Os ataques de riso e a imensa vontade de rir,
E a fuga em massa prestes a acontecer,
Seria uma ameaça à clareza do porvir,
Futuro das manivelas do transparecer,
alavancas do vidro que teria de ser!...
O que quisessem que fosse a esperança, por longos e saudáveis anos de vidro!...
Antes de Deus ter-se apercebido, e já carregadores de maca, médicos e paramédicos se tinham espatifado na curva mais apertada do fado gingão que os conduzia no desespero, abraçado às guitarras que gemiam... e das suas vozes incrédulas!... Um bêbado, muito bêbado, que passava conforme podia, descalçou o segundo sapato, colou-o às orelhas e participou a ocorrência às entidades competentes, continuando o seu caminho descalço!...
Não tardou a passar a mesma ambulância a uma velocidade espavorida que, entre ziguezagues e muitos esses, nem reparou nesses seus camaradas que, em coisa de instantes e perfeita saúde mental, já haviam voado com os anjinhos, em socorro da tragédia da vidraria global!... E chegaram. Aquilo estava feio!... Globalmente, pouco se notava da transparência dos vidros da vidraria, o sangue convertera aquela fábrica de transparências em inúmeros vitrais a serem montados por quem tivesse paciência para resolver puzzles inconcebíveis da mesma cor. Confirmaram alguns dedos espalhados, quase todos de mãos cheias de indicadores e polegares de consentimento e confirmação. Um verdadeiro massacre de cortes profundos, provocados pela suspeita teórica de suicídio dos irreconhecíveis pequenos vidros quebrados e pequenos estilhaços de grandes vidros polidos!...
Mas Deus é grande e há sempre quem sobreviva. E o que sobrevive, sobrevive acima de todos e de todas as coisas, numa independência só reservada à vontade do inexplicável, mas que encaixa perfeitamente na consagração do milagre, atribuído à intenção da igreja e à integração de novas almas com algum dinheiro ou miséria para denunciar com toda a clareza dos santos mistérios e divina, o que vem sempre a calhar. E alguém imagina maior tragédia do que esta?!... A transparência estilhaçada?!... O milagre estava ali, entre os vitrais pintados com escorridos de sangue; quebrado, partido e era visível o golpe profundo provocado. Sim, provocado, sabe-se lá em qual das múltiplas vítimas. Não havendo tempo a perder, vidro bem seguro e toca a colocá-lo com muito cuidado na maca de serviço!... Demoraram 48 horas, nem mais nem menos segundo, a percorrer 2 km, sem nem mais nem menos milímetro, pois todo o cuidado era pouco para a salvação da transparência e aquele vidro transparente e limpo, era único!...
Não se ouviu a estridência da sirenes e dos pirilampos vermelhos ou azuis de escolta autoritária, nem uma réstia de luz na transparência em deslocação no escuro!...

Tudo silêncio sobre silêncio!...
Sobre silêncio que enchia a almofada suspensa,
Aos passos suaves de coelho, seguia em silêncio, o seguro,
Era importante assegurar a suave transparência do futuro,
E a certeza da transparência máxima da recompensa,
Da clareza mais pura ao braço dado, propensa,
Dada ao sorriso mais sério e mais duro!...
E, eu, suave, delicado e, acima de tudo… educado,
Bem ou mal, sempre curioso e mais ou menos puro,
Sempre desconfiado,
Sem que me tivesse cortado,
Segui a transparência dos estilhaços,
E cortei a bondade oferecida dos espaços,
Em vidros transparecidos do que me fora dado,
Seguindo de perto até ao hospital mais próximo!...
Sempre, sempre em silêncio, na minha forma de ver, até ao destino ou depósito de lixo para reciclagem e alívio de contas públicas.
Entrei por não me deixarem entrar e o que vi, já havia entrado antes de mim, ocupando os corredores pré fabricados até à lotação esgotada e mais um, outros tantos, ainda mais um que estivesse para vir e seguido por outros, sempre bem vindos ao fim do ano!...
Um espectáculo digno de quem sempre quis rir,
E nunca se riu,
Como nunca se viu,
Nem se reviu no que não sabe como sentir!...
Um ano transparente e a transparente sensação,
De não compreender a razão da razão,
Do porquê e porque um sapato caiu,
Caindo da maca onde decantava um vazio garrafão;
Noutra maca, uma página sem sinal de vida que a vida perseguiu,
Fora arrancada ao resto do livro que estava algures sem coração,
E um vidro de leitura, outrora transparente, conseguiu,
    A melhor cama e conforto da global atenção!...

Pode parecer loucura de um ano louco,
Ano de surdos e o fim do ano mais mouco,
Mas, a surdez da loucura está sempre atenta,
Sente o sabor dos cortes que lhes sabe a pouco,
   Cura os vidros com a transparência que enfrenta...
E os vidros que sangram...
   Dessa saudável transparência da Loucura consentida!...

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