sábado, 26 de maio de 2018

Vinho de Amigos

.
.
.



Bebia sempre sozinho,
Bebia com alguma mágoa,
Havia muitos amigos do vinho,
    Em fundos copos vazios de água!...

Saboreio momentos de carinho,
Em que embalo o copo na mão,
Beijo-o com alma e coração,
E por ele já tão caidinho,
Levo um empurrão,
  E caio do vinho!...


É viva minha sede de vinho,
Mato minha sede com água,
Triste sóbrio, acordo sozinho,
    Afogado numa triste mágoa!...

Vamos brindar,
Amigos do vinho,
Até o vinho acabar,
Amigos, vamos cantar,
Vamos beber devagarinho,
   Vamos fazer a amizade durar!...

.
.


 


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Flor das Reticências

.
.
.

Via com admiração,
O fim e sua continuação,
Talvez contínuas desobediências,
À natureza das cores das hortênsias,
O princípio do caos e de toda a ilusão,
Sem Deus com as suas preferências,
Pelo limite da contínua criação,
   Entregue às reticências,
   Das flores ou não!...

Desde então
O amor não mudou,
E se eco algum entoou,
Talvez o eco da cega religião,
Ou o apelo da natureza e razão,
Que também Deus quis e continuou,
Ponto por ponto no coração,
  De cada ponto que ficou,
       Fossem flores ou não!...

Três incertos pontos certeiros,
Sem fim e contínuo quebranto,
Pontos sagrados de crendeiros,
Uns, até certo ponto carneiros,
Outros, flores reais, nem tanto,
Flores sem cheiro nem espanto,
Até certo ponto, algo certeiros,
Esperança sem fim por encanto,
    Incertos, é certo, e verdadeiros!...

Muito perto de nós, perto do fim,
No fim de cada ponto nos pomos,
  Pontos tão certos ou assim, assim…
 E continuamos a ser o que somos,
O ponto final de onde nos fomos,
    Reticências em flor, nosso jardim!...

.
.
.
 


quinta-feira, 10 de maio de 2018

Alma de um Livro Invisível

.
.
.

Sou este meu livro que nunca escrevi,
Aos olhos ínvios de quem nunca me lê,
Sou cada página que à página fala de si,
    Não há uma só folha que saiba porquê!...

Desfolha-me quem não me vai lendo,
Passa pelo livro que sou e não me vê,
Já cheias do que não vou escrevendo,
    Ficam as nuas páginas à minha mercê!...

Há perfume escrito com cores de rosas,
A letra perfumada de uma pétala aflita,
Um jardim cheio de palavras preciosas;

Não lêem o silêncio no livro que grita,
Nem o segredo das páginas silenciosas,
    Murmúrio das palavras jamais escritas!...

.

.

.