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sábado, 18 de fevereiro de 2017

A Curva do Ângulo Recto Manipulado

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O planeta deixou de ser redondo,
Afigura-se uma nova consciência  desenquadrada,
Em cada esquina há sentimentos que se vão pondo,
  Do santíssimo triângulo, sobra quase nada!...

Pouco mais resta a esta humanidade disforme,
Cheia das mais desumanas formas com que se ilude,
Já não há enviados crentes em Cristo que a informe,
  De forma que, por Ele, a humanidade mude!...

Desenham-se novos estilos equidistantes de leitura,
Capazes de não ler as distâncias da inconstante figura,
 Dos ângulos rectos, distantes do que seria de esperar;

A morte arredonda-se no choque da quadratura,
Procura-se a vida no choque do vício da morte circular,
   Cada recta gira à volta da impossibilidade regular!...
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terça-feira, 15 de abril de 2014

Cravos à Força (Abril Nunca Mais)


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Carregaram-os em ombros, aos cravos triunfantes,
Regressaram os cravos pródigos educados no exílio,
Voaram em eufórica Liberdade, como nunca dantes,
Asas e cravos encontraram-se com filhos estudantes,
O povo soltou-se dos braços da pátria em seu auxílio,
Um poeta desertor prestou-se ao seu clamado idílio,
     Ficou marcado esse Abril com seus cravos brilhantes!...

Filhos de cravos, mais filhos do que filhos vulgares
Foram exilados em colégios nobres só para eleitos,
Aos ranhosos fora dada a liberdade e seus efeitos,
Cantar o hino sem obrigação é coisa de outros ares;
 Disse o velho coberto de tempo ao falar de direitos:
 -O sabor da tua colheita saberá ao que semeares!...
Com um punhado de terra negou meses perfeitos,
      Das suas mãos caiu terra fértil e fartura dos mares!...

Jovens cravos transformaram-se em professores,
Sartre alastrava-se e depressa cus se mostraram,
Quando virados para um governante de doutores,
Os cus universitário provocam intelectuais rumores;
Libertou-se a literatura e as liberdades se revelaram,
Beauvoir, libertada de sua timidez,
Alertou para futuros estados de estupidez,
Fosse qual fosse o país que socialistas tomaram,
Ou a ser tomados por capitalistas devoradores!...
O ensino programado é um estado de pequenez,
Tão fácil programar docentes no simulacro das cores,
Acreditaram nos intelectuais, seus excelsos superiores,
Esses mestres incontestáveis que para emigrar pagaram,
-Ou, se sem medo, digamos,
Com língua de palmo, o pagamos!...
Aprenderam tudo que de errado até hoje ensinaram,
E, por cá, dos intestinos apodrecidos de sua altivez,
Filhos desiguais dos altivos filhos que Abril fez,
Já não se revêm nos traidores que lutaram,
    Com cravos, agora, cobertos de palidez!...

Faz-te ao mar pequeno barco servil,
Não percas de vista os beijos no cais,
Regressa ao teu país depois de Abril,
   Cravos de Abril, é que nunca mais!...
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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ABC-Insoletrável



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Triste!...
Em vez do ABC,
Este inteligente PC,
Que tudo sabe por mim,
Palavra triste do meu fim,
Insoletrável para quem a lê!...
 Triste...
Eu ser usado para escrever,
Vazio de gramática e sem caligrafia,
Feliz analfabeto a quem dizem o que ler,
Bem escrevendo palavras feitas sem o saber,
Denominador comum de escusada ortografia,
Sem memória das velhas palavras que lia,
Sobre palavras em vias de entristecer,
Nem pronome nem sujeito em teoria,
   Impraticável conjugação do verbo aprender!...

Triste!...
Triste o autómato escravizado,
A tristeza da tinta e do papel censurado,
As palavras que não te direi quando se apagar a voz,
Ai, se apagar-se a luz à nossa volta, apaga-se em nós,
Extingue-se o nosso nome nunca soletrado,
  Morrem as palavras e ficamos tão sós!...
   Ai, tão obscuro o saber oculto na escuridão!...
Ó iluminados deuses da iluminância concedida,
Dais a luz que a luz nos roubas sem nossa permissão,
Não há no desligado computador os gritos da revolução,
    Apagaram-se as palavras escritas na velha escrita esquecida!...

Triste!...
Triste!...
  Pudesse eu dizer!...
 Triste!...
   Soubesse eu escrever,
   Soubesse eu amanhecer,
     A Palavra da noite... 
  Triste!...
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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Chapéu

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Cortei o cabelo no velho barbeiro,
O grisalho da nostalgia demasiado rente,
Um pouco mais de tempo rente ao dinheiro,
As tesouras matreiras tosavam um corte certeiro,
Cortavam velhos tempos e vendiam quentes chapéus,
O Vento barbeava a geada de cortar o gelo dos céus,
Vesti o quente capote e espreitei o azulado do céu,
   Comprei um chapéu!...
Ensaio o bater do dente,
Saio de cabelo varrido e sigo em frente;
Vou estrear o chapéu, quando passa o Tibério carpinteiro,
Saúdo de cabeça descoberta, o respeito vem sempre primeiro,
Um desdenhosos cabeludo que passa oferece-me um pente,
Penteio um sorriso e devolvo-lhe o presente,
Depois da frescura do corte,
Entranha-se-me um frio mais forte,
Mas eu tenho um chapéu que o barbeiro me vendeu,
E o meu cabelo que por lá ficou, que o tenha como seu,
Para o frio, tenho um chapéu e sinto-me com sorte!...
Apresso-me a estrear o chapéu que é meu,
Minha cabeça gelada já o sente a assentar,
Tão feliz por um chapéu poder usar,
É então que, de repente,
Me saúda o Carlos Clemente,
-Saúdo quem me respeitar-
Com o chapéu na mão dormente,
Faço uma vénia, sem parar,
Crianças brincam com gelo que não quer derreter,
Uma velhota escorrega no gelo e faz-me doer,
Arrepio-me até às orelhas cheias de frieiras,
Pego no chapéu e dou os bons dias a duas freiras,
Passa o Manel a correr,
Passa o senhor Joaquim,
-Como vai o amigo, está bom ou não quer dizer?...
-Assim, assim…
E agora sim,
Vou andar de chapéu, enfim!...
Adianto o passo e passa-me o frio de tão comovido,
Um estalo no toutiço faz-me o chapéu saltar,
-Há quanto tempo não te via!!!...
Era o Zé de cabelo branco tingido,
Havia desaparecido,
E logo agora havia de voltar!!!!!...
Apanhei o chapéu preto e quentinho,
Uma rajada de vento fê-lo voar,
Corri atrás dele como um maluquinho,
   Olhei para os lados e estava sozinho!...
Só não olhei para a frente onde me olhava o João,
Passei pelo cabeludo Joãozinho,
Pelo Quinzinho,
 Passou o Carlão,
O filho do vizinho,
E o Sebastião,
O gato vadio e até o velho cão,
Que corria atrás do Quim manquinho,
  Por todos tirei o chapéu em humilde saudação!...
Há tanto tempo que não via minha professora da escola:
-Olá senhora professora, como passou?
Ela quer saber como estou,
-Com um friozinho…
Estende-se a mão de um pedinte e dou uma esmola,
Tropeça em mim o Felício que não é bom da cachola,
A vesga padeira dá-me um encontrão,
E lá volta o chapéu para o chão,
Apressa-se o gordo padre que me confessou,
Apanha-me o chapéu o magro sacristão!...
Aí vem a dona Maria do Toninho,
Mais o Toninho que se engasgou,
Com os filhos, pequeno Bonifácio e o grande Zezinho,
Perguntam-me como vou…
Ai, como vou, como vou…
A mais de muitos digo que vou devagarinho,
   Encolho os ombros a mais um que me saudou!...

Chego a casa com um estranho calor,
Tantas foram as vezes que não pus o chapéu,
Quanto todas aquelas vezes que o quis pôr,
Não me falem de chapéus por favor,
   Vou continuar de cabeça ao léu!...
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