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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Mundo do Fim do Mundo



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Nunca um fim do mundo,
Se fez tanto deste mundo,
Nunca estive eu tão perto,
Do medo de estar tão certo,
Desilusão e medo profundo,
Tu, que não o vês, decerto,
Tal é a cegueira, lá no fundo,
    Por tanta guerra encoberto!...

Sou profeta da desgraça,
Uma desgraça de profeta,
Sou o teu baço da vidraça,
Sou as línguas de fumaça,
Sou a curva em linha recta,
Por onde meu fumo passa,
Esfumando-se e logo afeta,
   O coração que despedaça!...

Há em cada fim de cada dia,
A esperança que adormece,
Descansa em serena sintonia,
Com uma maciez de nostalgia,
E a esperança que amanhece,
Em mais um dia que acontece,
Esperança de ser o que seria,
 Se o mundo a Paz quisesse!...

Neste mundo onde vivemos,
Sem saber com que fim, afinal,
Somos bestas da morte bestial,
Neste mundo onde morremos,
Somos bestas que nos fizemos,
    Sepulturas abertas a tanto mal!...

E é neste mundo que estamos,
Mundo que é mundo, por enquanto,
Refugiados no egoísmo do nosso canto,
E é neste estranho mundo que ficamos,
A matar a vida, antes que morramos,
   Em rituais suicidas e sem espanto!...
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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Salutares Bofetadas (A herança dos covardes)

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Prometera um par de salutares bofetadas,
Uma herança de todas as ditaduras vencidas,
Por herdeiros das democracias conquistadas,
   Expressão livre das liberdades conseguidas!...

Tão dura fora a dureza da dita que perdura,
Dura ditadura que do nada dito, tudo ditava,
Ditava a dita, um ruidoso silêncio que ficava,
     E nada se dissesse dos homens com bravura!...

Desertores castrados, pelo medo arvorados,
Homenzinhos que nunca partiram e voltaram,
Para se arvorarem com os heróis que ficaram;

São a dita, da dura e velha senhora, herdados,
Herdeiros de doutos juízes e inúteis advogados,
Que os filhos legítimos do povo condenaram!...
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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Cancro que Somos

Ignorado,
Escondido,
Odiado,
     Temido!...
O medo de o ter,
Medo de não o deter,
Não senti-lo a nascer,
Senti-lo a crescer,
Senti-lo vivo no ser,
O medo de o saber,
E saber,
Querer viver,
 E viver,
Querer ganhar e não poder,
Apostar a vida e perder,
Fogo infernal e o sofrer,
A vida a arrefecer,
A vida e não a ver,
Medo de morrer,
Morrer sem querer,
Querer morrer,
     E morrer!...

Num dos lados da consciência,
Distante do lado que havia sucumbido,
Aproximação de todas as dores da penitência,
A lonjura da saudade que não havia morrido,
Ablativo sem dó, o remorso e reminiscência,
     O sangue, o fim do sangue, o fim sofrido!...

Sangrado das pústulas que ficaram,
O alcatrão espalha-se sobre a verdura,
As pústulas da morte e morte da postura,
A terra arável, as sementes que germinaram,
Os monstros de betão que lembranças esmagaram,
Lembranças de sementes livres da ditadura,
Sonhos livres das moléstias violentas,
A impiedade densa da negrura,
     As eternas raízes virulentas!...

A dissecação do crânio vazio,
Vaso ósseo do mais negro corrimento,
Escorre sobre o abafado céu bafiento,
Inferno mórbido exalando bafio,
Cérebro de morte sedento,
      Até ao fim!...  
E a pergunta inocente,
Inocência final e descrente:
      Pai, porque somos assim?!... 
















terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Meu Deus!... (Tentação)


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   Meu Deus!...
Porque me deste esta língua verdadeira,
E este sabor acre e doce da palavra bifendida,
Porque me deste, do céu os olhos e da terra a poeira,
Ser estas crinas cruzadas e o aro fechado de minha peneira,
E a substância mais grossa de minha obscena verdade vencida,
Que me trespassa como se eu fosse essa Tua luz incompreendida,
      Minha própria sombra indigna e professa de minha língua inteira?!...

Sinto rastejar dentro de mim o que não quero da parte que sou,
Fora de mim, banho-me em Tua luz que anseio compreender,
Tudo é puro, sereno, felicidade plena de Ti a que me dou,
Sinto o teu sorriso singelo da felicidade onde estou,
Quase posso tocar a luz que dá forma ao Teu ser,
Minha alma rejubila por Te pertencer,
     É amor puro que por Ti ressuscitou!...

Mas, de repente,
Revela-se, do fundo, a serpente,
E o outro lado da verdade que penso,
Há uma verdade que serpenteia, pungente,
Com as línguas bifurcadas de um fogo intenso,
Que se aproximam do meu ténue bom senso,
     E arderá alguma de minha razão aparente!...

       Meu Deus!...
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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Dizendice do Amoranço e Odieira


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Nossa dormideira é doce minha e doce,
Deveras assolapada nesta caídeza por ti,
Esta abestalhada sintura ainda que fosse,
Fosse ela por ti e é em vistança do que vi,
Sentidão afundada em fanicos dados de si,
 O amoranço sem tino que em mim pôs-se,
    E põe-se na gozadura que nasce e que ri!...

Derreto-me aburricado e me alambuzo,
Pensadote na beijocada de tua linguaroca,
Meu cobrão cata-se em olhos na tua toca,
Enterradão no calo da manápula em abuso,
E amaluco-me pensadoiro na tua mamoca,
Alongo a língua ao melado dessa tua beijoca
      E eu madoido em amoranço e desaparafuso!...

Arremeteste-me toda nua para esta doideira,
Abriste-me com tuas pernonas escancaradas,
Arrebentou no meu tesudão uma comicheira,
Abusadonas as tuas mamalhonas descaradas,
      Foram-se lentas e doidas e nunca apalpadas!...

Acoitado que estava nas belgas da cumeeira,
Contava os caibros e vaginolas às punhetadas,
E buliam as manhosas nalgas estremunhadas,
Que á noiteca das tardes já cheia de canseira,
É ordenança obrigadona de ordens altivadas,
    E ai se não fossem amoranço, eram odieiras!...
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