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Como
sofria aquele Zé Ninguém!...
De
olhar caído nos subúrbios de Deus,
Pendia
dos cílios de uma solitária mãe,
Adormecida
no sonho de ser alguém,
Amplexo comprimido dos olhos seus!...
Deixando
afogar-se em remoinhos salgados,
Sentia
o oxigénio fugir na frialdade dos castigos,
Que
emergiam na superfície os oculares abrigos,
Escondidos
na dor da retina de olhares segregados,
Quase
cegos pela sobrevivência dos amores antigos,
Afogados
na separação das lágrimas de olhos amigos,
Pelo transbordo incerto de opostos ângulos
cruzados!...
Como
sofria aquele Zé Ninguém!...
Entre
sulcos de rugas inertes dos rostos abandonados,
E os raros cabelos grisalhos, penitentes de
cabelos caídos!...
Possuídos
por espíritos em agonia,
Despidos
da luz de muita alma dilacerada,
Rasgou-se
a lâmina atrás da pálpebra suturada,
Pelas
vacilantes tentativas da suicida travessia,
Dos
caminhos sem saída, empedrados de nostalgia,
Esses atalhos resignados de tristeza
consumada!...
Como
sofria aquele Zé Ninguém!...
Pelos extenuados olhos tristes cheios de nada,
Espelhos embaciados por esquálida
melancolia!...
Corpos
moribundos arrastavam-se no negrume da tristeza,
Esgadanhavam
ténues memórias de punitivas loucuras carnais,
Onde
carpiam desabafos abafados às lágrimas de sua fraqueza,
E
ali definhavam as almas abandonadas à verdadeira crueza,
De corpos irreconhecíveis na humanidade de
trapos imorais!...
Como
sofria aquele Zé Ninguém!...
Ao ver aqueles pecados vivos transformarem-se em mortais,
Enterrando a felicidade viva, na sombra
morta da beleza!...
Ninguém
amava o amor que o amava,
Fazia
amor com o amor que amor com ele fazia,
Lambiam
mel sem fim que dos seus corpos escorria,
Entre
orgasmos intensos do prazer que os abraçava,
E
os pecados simultâneos que a felicidade defendia,
Perdoados
por Deus que suas almas não julgava,
Pelo prazer do Amor recíproco que Ele
protegia!...
Afirmam ser um pecado mortal de alguém,
Mais de mil anos de prazer e Amor imenso,
Do Amor fiel e o libertador orgasmo intenso,
Almas abandonadas que olham com desdém,
O respeito pelo Amor e aplicado bom senso!...
Como sofriam todos aqueles,
Os que sofriam sentindo-se alguém,
Cheios de todos quanto os cheios deles…
E como sorria aquele Zé Ninguém,
Como ninguém, sorria por eles!...
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