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quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Terra que nos Preenche (Tráfico)


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Assassinados!...
Á facada,
Por envenenamento,
Á pedrada,
Por enforcamento,
Por consentimento,
Por nada!...

Estranho mundo de engravatados,
Estranhos olhos em cada gravata,
Cegos pela indiferença dos atados,
Atidos à riqueza que, nunca farta,
Têm nas mãos o que muito mata,
Poder sobre os apoderados,
Donos de muitas vidas…
    Vidas incumpridas,
Dos raptados,
Dos vendados,
Vendidos e vendidas,
Por bandidos e bandidas,
Por senhores acima de qualquer suspeita,
Os suspeitos do costume e a Lei por eles feita,
A angústia de nada saber e o tormento,
Uma nesga de luz muito estreita,
O apagar da esperança desfeita,
O esmagamento,
A inocência que com as trevas se deita,
Inocência que não dorme, por muito que tente,
O pesadelo do medo desperto,
O extenuante despertar,
A morte,
Talvez a morte,
E a morte bem viva de frente,
A vida na vida de quem a vida não sente,
Um desejo de morrer muito forte,
A morte proibida,
De uma criança perdida,
Que, ainda sem o saber,
Seria, um dia, proibida de viver,
Vivendo na humanidade esquecida,
Esquecida dos dias com amanhecer,
Pesadelo nas noites dos despojados,
     E nem as preces as deixam morrer!...

Na terra que nos preenche com uma estranha altivez,
Onde enterramos a humanidade de nossa consciência,
Brinca uma criança com o seu sorriso e a sua inocência,
Há um silêncio que a vai cercando revestido de placidez,
Na terra que nos preenche cresce em silêncio a mudez,
Entre a serenidade e a indiferença, acontece a ausência,
Perdemos a memória e não recordamos sorrisos, talvez,
Da terra que nos preenche vai germinando a indecência,
     Cresce na terra que nos preenche, a terra por nossa vez!...

Mundo Mudo,
A Vida por nada,
     A morte por tudo!...
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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Colheita Perdida


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Mordeste a terra deixada ao abandono,
Cemitério onde enterraste teus dentes,
Sonhavas com trabalho, esse teu dono,
O pesadelo de perdê-lo tirou-te o sono,
     Hoje não dormes por muito que tentes!...

Mordeste a terra alheia, tão fértil e pura,
Viste teus dentes caírem a cada dentada,
Mastigaste teu árduo suor da tua agrura,
Semeaste-te em campos de escravatura,
     Colhes a tua raiva dentro de ti enterrada!...

Hoje, ainda vês teus campos reverdecer,
Nos olhos que ainda procuram abastança,
Olhas teu prato onde nada há para comer,
    Vês a desilusão nos pratos da tua balança!...

Semeaste uma desenterrada lembrança,
Teu olhar ainda semeia o que teve de ser,
Esqueceste onde semeaste a esperança,
    Ai, se soubesses onde a esperança colher!...
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Não Veio Para Ficar


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Não veio para ficar,
    Janeiro!...
Do céu só pode nevar,
Há olhos frios no ar,
Dinheiro,
    Não veio para ficar!...
O álcool aquece até queimar,
Do último dia até ao primeiro,
Companheiro,
   Não veio para ficar!...
Mais um passageiro,
Vendido por inteiro,
E ainda por pagar;
Vem lá o mensageiro,
Emissário do despertar,
Do medo verdadeiro,
    Não veio para ficar!...

Sem medo de sorrir,
Há, de acordar a decência,
Há, de perder o medo, a consciência,
    Há, num Janeiro qualquer, de o medo partir,
Há, no fim da noite, de nascer um dia de desobediência,
  Sem medo do que não veio mas há, de estar para vir!...
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Carne e Osso


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Depois, com a nossa carne totalmente empenhada,
Obrigaram-nos a comprar sonhos que eram nossos,
Nos gordos pesadelos, foi a nossa carne desossada,
 Ossatura sustida com promessas de não doer nada,
 E depressa damos por nós a roer os próprios ossos,
   Com o parvo espírito de nossa crença desdentada!...

E ainda com a nossa carne nos dentes,
Com facas arrancadas de nossas costas,
Cortam os nossos sonhos muito rentes,
Servem-nos mais promessas às postas,
Em pratos políticos sempre coerentes,
Às perguntas grátis vendem respostas,
E como saem caras as facadas expostas,
Infectadas por outras facadas recentes,
Perfídia sobre memórias decompostas,
   Compostas por propostas indecentes!...

Amanhã, com a memória das pessoas esgotada,
Formatada que foi a humana razão porque lutar,
Estranha a carne que sangrar por cada chicotada,
Sem os entardeceres nem a brisa da madrugada,
Sensações sem rosto, sem estímulo para copular,
Sem sentir o abrir-se da carne à carne sem aleijar,
Cicatrizaram feridas da humanidade equivocada,
     Cicatrizes sem memória do velho desejo de Amar!...

   
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sábado, 30 de agosto de 2014

Adestramento Global


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As janelas globais,
Estão cheias de inocentes,
De inocência em flagrante delito,
Apanham-se humanos em teias virais,
E se os blocos de vírus não são suficientes,
Volta a dar-se o dito por tudo quanto foi dito,
Até que ditadura das imagens sejam sementes;
Vê-se dos olhos fechados abrolharem outras mais,
As árvores são ensinadas a crescer todas iguais,
Envoltas numa subtileza global das serpentes,
Há no silêncio da floresta árvores diferentes,
Proibidas de crescer nos conselhos gerais,
Caridosas serpentes estrangulam o grito,
E o mundo em seu tormento infinito,
Vê humanos em seus suicidas rituais,
Vê-se mundo cansado, o mundo aflito,
Um mundo global de globais vítimas casuais,
O adestrar globalizado de todos os indiferentes,
Com descontrolo global de inconscientes mentais,
    E dos humanos corações mentalmente doentes!...

Deus, sempre sereno, vê os donos de um deus,
Vê-os implorarem por dinheiro em seu nome,
Vê a Fé em Si, ser guerra entre filhos Seus,
Os novos apóstolos, por Ele, são ateus,
-É por ele, -diz o ateu que tudo come,
-Que ao pão do mundo, dirás adeus,
     E, por deus, morrerás de fome!...

As almas perdidas alimentam satanás,
Fizeram-nas almas corrompidas com divina calma,
É global o encolher de ombros do nada se fez e nada se faz,
E sem nada fazer pelo tanto deixado por fazer ficado para trás,
  Morrem por Deus sem saberem que perderam a Alma!...
  
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domingo, 18 de maio de 2014

Alumbramento dos Perfeitos


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Não negava ao olhar a vontade de se eximir,
Nos olhos estão as histórias que não se contam,
Outras histórias escondidas no olhar que quer fugir,
Não negavam o silêncio das histórias ficadas por ouvir,
Como olhos apagados que histórias de silêncio despontam;
Por cada silêncio, silêncios de outras histórias se aprontam,
E no vértice da pirâmide, um rádio não se cansa de difundir,
Paliam-se secretismos iluminados que não se confrontam,
Sobre a escravatura das pedras, o peso faz-se repetir,
     Esmaga-se a voz sob o silêncio que poucos apontam!...

Não negava o sonho ao vértice dominante,
Nem o pesadelo à esperança em futuros impossíveis,
Os olhares deverão ser hipnose de silêncios consumíveis,
O capitalismo obeso carrega o cume da pirâmide sufocante,
E, não obstante,
É leve a palavra livre escondida no olho do horizonte,
Longe do peso carregado pela oferta dos vícios aprazíveis,
E de outros vícios dados à felicidade da ignorância a monte,
E outras influências aos viciados mais suscetíveis…
Ácidos hipnóticos e a sucralose são irresistíveis,
Para lá da história dos olhos brota a fonte,
Nos rios dançam peixes invisíveis
Corre a água debaixo da ponte!...

Ainda por cima, e apesar de tudo,
Por cima das pontes e do controlado desalento,
O olho global move-se atento, num olhar de veludo,
Cega o resto da pirâmide que tem como escudo,
    É quase perfeito o poder do alumbramento!...

Não negava o silêncio no olhar,
Nem a nova ordem do encantamento,
    Assassina da velha ordem de o libertar!...
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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Chulos da Pátria

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Aí vêm eles a rebentar de cobiça,
Os chulos!...
Aí vêm os arautos da liberdade e da sua justiça,
Noutros tempos vinham à liça,
Aos pulos!...
Os chulos!...
-Vamos à luta,
Instigavam protegidos no exílio dos casulos,
Partindo da inconfessada premissa,
De criar uma Pátria submissa…
E prostituta,
Servindo-se do trabalho de quem labuta,
Para cobrirem de ouro toda a sua preguiça,
Escondida nas costas de uma coragem postiça,
   E fazer de cada Português um filho da puta!...

Vamos contar os chulos que restam,
Olhar a podridão dos cravos bem de frente,
E se algum tiver o verde sorriso de ficar contente,
Vamos mostrar-lhes o vermelho dos que se prestam,
A esmaga-los com a brutalidade de um povo tão ciente,
Quanto impaciente,
Porque do sangue, das lágrima e do suor,
Restou apenas o pior,
De cada filho de boa gente,
Que sempre deram o seu melhor,
   E que pelos seus se ressente!...

Aí vêm os verdadeiros filhos da prostituída,
Filhos de uma Nação que não é nossa Mãe,
Nem quiseram ser nossos irmãos também,
Nem pais daqueles que por eles dão a vida,
Esses violadores da própria pátria possuída,
     Que desonraram sem vergonha de ninguém!...

Aí vêm os chulos floridos e os outros cravos,
Esses que nos olham com disfarçado desdém,
 Aí vêm os que nos venderam como escravos,
     Cravos portugueses maltratados por alguém!...
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Aí vem o que resta,
De um País desgovernado,
   Por gentalha que não presta!...

De fininho…
Com medo do povinho…
Aí vêm os chulos,
   Eleitos pelos votos mais nulos!...
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Atrás deles,
Vêm os Doutores falhados,
Mais políticos e outros renegados,
Vêm sacrifícios oferecidos por altruístas,
Sacerdotes, carpideiras e outros hipócritas artistas,
Ainda mais atrás vem o mecanismo dos aparelhos apoiados,
Desviem-se dos comentadores políticos e outros vendidos comprados,
Abram alas à passagem dos candidatos à mentira do século e a outros malabaristas,
Não sujem o tapete da Liberdade feito de cravos espezinhados,
Saúdem os geniais asnos e outros economistas,
Calem de uma vez por todas os fadistas,
Essas vozes de sentimentos fingidos,
    Na voz dos políticos escondidos!...
Aí vêm eles…
Em descarados artigos,
Já ilegíveis de tão corrompidos,
Serão a globalização dos novos fascistas?!...
 Fascismo já globalizado por distintos jornalistas,
A convergir para o mesmo sistema sustentado de opinião?!...
Aí vêm eles…
Com o credo numa mão,
E na outra a traição,
 Dos pecados,
Pedem-te para que não desistas,
De ser mais um dos muitos explorados,
Implorando-te para que não insistas,
    Em ser mais um dos revoltados!...

E é quando tu te revoltas,
Que eles, os que aí vêm, ficam fulos,
Porque sabem que quando tu te soltas,
Dá-lhe a maldita sorte tantas reviravoltas,
      À volta do azar de terem sido uns chulos!...

Olha!...
Aí vêm eles de semblante bem feito,
Trazem a terra de jardins atraiçoados,
 Inocência dos cravos envergonhados,
    Tristes e murchos a chorar no peito!...

    Mas…
Não deixem de olhar a posta-restante,
Porque os covardes não vêm comemorar o festim,
Durante trinta e tal anos andaram a dizer que sim,
Encheram-se com a melhor carne e não obstante,
Ainda tiveram o desplante,
          De desprezar o patriótico cravo do seu Jardim!!!!!!...
Os covardes sempre foram assim,
E retornam agora aos casulos do fascismo,
    Seu lugar comum de parasitas do oportunismo!...

Olhem agora!...
Onde estão aqueles que não vêm?!...
Aí vêm eles escondidos pelo lado de fora,
Misturados com o julgamento chegado da hora,
Vejam bem os covardes que coragem já não têm,
Misturados com o Povo onde a vida feliz já não mora!...
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     Pois é!...
Quando a coragem já não lhes cabe no odre,
Revelam-se odres políticos cheios de medo,
Fogem como fedelhos já fartos do brinquedo,
 Neste Portugal envelhecido mas jamais podre,
    Reincidem os desertores apontados a dedo!...

   Olhem bem para esses traidores!...
Como já não precisam de auxílio,
Escondem-se como ratos no exílio,
Criações da hipocrisia dos criadores,
Espelhados no plano de todas cores,
    Beneplácito refletido nos concílios!...

Olhem melhor,
     Vejam a bênção dos clérigos!...
      Confesso não saber o que é pior!...
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