sábado, 14 de julho de 2018

Indiferença

.
.
.

Indiferente,
Logo à nascença,
Da vida inconsciente,
O seu despertar aparente,
Em silêncio, destino e sentença,
Do seu próprio destino ausente,
Fortuna ou desdita, indiferença;
Fechado em si, se deixou ficar,
Num sono sereno, sem dormir,
Suspenso em seu voo sem voar,
Sem saber como o vento sentir,
Ou daquele estranho sono sair,
 Sem aprender a querer sonhar,
     Com o pranto ou um leve sorrir!...

E ali ficou,
Até que veio outra doença,
Doença indiferente que o abraçou,
Com ela veio a morte que quase o levou,
Nem a morte venceu sua indiferença,
     Indiferente, pouco lhe importou!...

.
.
.
 
 

terça-feira, 3 de julho de 2018

Azar de Truta (Morte do Espírito da Pesca)

.
.
.



Eu sou o rio,
Sou o pescador,
Eu sou quem me rio,
Do rio que se ri de mim,
Rio sem nascente, rio sem fim,
A transbordar de um cacifo vazio;
Cheiram as sujas águas a abafado bafio,
Aprisionadas num oceano de tratado fedor,
Há centenas de esfomeadas trutas ao dispor,
   Lançadas à fome por um pescador tardio!...
    
Acordaram as trutas muito cedo,
Dizem que algumas nem dormiram,
As trutas não sabem morrer de medo,
Morreram no cemitério onde caíram
Resignadas, entregam-se sem luta,
E muitas outras do rio saíram,
     Salvas pelo azar de truta!...

Há um pescador aborrecido,
Em sua pasmaceira absoluta,
    Do espírito da pesca desprovido!...

 

.
.
.