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Dos rostos mais feios da espécie que nos devora,
É a vergonha mastigada por uma adefagia doente,
Uma fome alimentada com a maldade de muita gente,
Diferente fartura de Espírito, alimento das almas de outrora,
A mesma fartura em falta da fria humanidade que já não chora,
Chorando solidariedade hipócrita na exposta miséria conveniente,
Sedutor donativo depositado para abastados vencimentos na hora,
Herdadas contas insaciáveis de candidaturas legítimas a presidente,
Prometida manteiga a derreter no ougado pão que à boca demora,
É tudo isso calor do momento que a fresca esperança não melhora;
Estando a mesa de reis garantida, esquece o rei seu povo indigente,
Continuando o resignado castigo de um comido povo imprudente,
Avesso virado no interior de anorética moda disfarçada por fora!...
Rei dos espermatozoides mais fracos,
Impunha sua lei de ejaculações contidas,
Estrangulando inatingíveis orgasmos velhacos,
Com a verga amolecida por desidratados buracos,
E simulava falsas palpitações de farturas fingidas,
Como se nadassem em prazer pelo prazer nutridas,
Mas tudo se foi desmoronando em orgânicos cacos,
Quando muita da fome encoberta por olhos opacos,
Revelou dispensas vazias de fertilidade desprovidas,
Restando um forte bafio exalado de esquálidos nacos,
Herdeiro possível de escondidas migalhas perdidas!...
Gratos pelo fundo migado da lambida tigela,
Mimos empedernidos cavam salgados granitos,
Matando a fome com a sede mortal dos malditos,
Cozinhando vómitos com as migas que o medo martela,
Mas são deliciosas as migas guardadas pelo Amor bendito,
De pais sacrificados na luta contra a fome que filhos flagela,
Trabalhando os calos ásperos de ódio por salário magricela!...
Sobre o caruncho dos ossos de mesas quebradas,
Sentam-se costas de cadeiras coladas ao abdome,
Esperando o bolor esquecido em pratos sem nome,
Enquanto à farta vergonha de lágrimas esfomeadas,
Se junta a seca penúria de alcunhas envergonhadas,
Alimentando o choro com tristes lágrimas de fome!...
Atentados à pobreza são pagos em instituições de caridade,
Com a caridade dos pobres servida à mesa pelo pobre cicerone,
Repastos de pobreza cozinhada na inópia da mirrada solidariedade!...
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