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sábado, 1 de outubro de 2016

Todo o Vinho do Mundo

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Mais cedo ou mais tarde,
Todos sentir-se-ão à rasca,
Há algo nos outros que nos arde,
Não será um fogo de muito alarde…
Talvez as uvas madura se refugiem na casca,
E a velha videira sofra de um enxerto impessoal,
Mais dia, menos dia, todos se sentem muito mal,
Uns procuram o remédio santo na santa tasca,
    Outros são vindimados na cura do hospital!...

O diagnóstico desconfia da mesma origem
Há o temor embriagado que o vinho se acabe,
Muitos doentes, por abstinência, se afligem,
   Por o soro não saber ao que o vinho sabe,
        Mas já nem o vinho nas veias, exigem!...

Há um pássaro cor de vinho a pairar,
Vão escurecendo as penas da sua cor,
De gota em gota, vai morrendo a dor,
Um pássaro negro parou de voar,
Tanto vinho bebido com amor,
   Onde o amor se foi afogar!...

Talvez lá no fundo,
No fundo dos copos por esvaziar,
    Tivesse bebido todo o vinho do mundo,
     Vinho que acabou por acabar!...
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terça-feira, 28 de julho de 2015

Ritual da Troca ( Corrupção do Desígnio)



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O soslaio do olhar,
A ordem das coisas, o trocar,
Diabo por Deus, o novo ofício,
A vida, a morte, o querer salvar,
A morte, a vida, o matar,
A inocência e o sacrifício…
O último pecado,
O princípio do fim,
Deus desautorizado,
Proibido de ser Deus, ignorado,
Cisma dos sem Deus…
                                                         Assim!....

Juntaram desejos comuns e os significados,
À volta do medo de uma morte anunciada,
Em silêncio, era outra a morte desejada,
Havia silêncio nos olhares trocados,
Por Deus podiam ser castigados,
A noção da morte trocada,
     Desejos desesperados!...
                
Olharam, inconformados,
 O vivo em julgamento dispensável,
A morte de quem faz falta é impensável,
A vida só devia ser dada aos autorizados,
Todos os pobres teriam os dias contados,
Só o filho de alguém seria saudável,
      Á luz negra dos olhos cegados,
         Da perdida alma insensurável!...

E seria a morte amável,
Se o homem de outra levasse,
Falso desígnio que em vida ficasse,
Em vez da oferta pela morte irrecusável,
Oferecida à morte que noutro homem ficasse,
Em vez do pai, do filho e do marido indispensável,
Mas, não!…
Nem o desapego,
O bruxedo enrodilhado,
Apaziguaria o desassossego,
De tão cego egoísmo embruxado,
Enegrecido pela recusa do desígnio sagrado,
Desígnio de Deus que fora sempre aconchego,
Até chegar a hora do destino marcado,
Esse dia que sem amor nem apego,
Tem por destino ser recusado!...

Juntaram-se à volta da pouca sorte,
Rezaram silêncios cúmplices numa só direcção,
Apontaram o inocente que estava mais à mão,
-Toma-o, ó morte!...
Abraça esse inútil e devolve-nos a paz,
Leva a vida em vão desse que nada nos trás,
Troca-a pela morte do meu, deixa-o ivo e forte!...
Em silêncio, te imploramos que leves o outro, ó morte,
Leva esse pai dos filhos dos outros, só o nosso nos apraz,
    Deixa-nos a vida dos nossos e leva a daquele que nada faz!...

Olharam com condolência,
O vivo!...
Procuraram nele um motivo,
Havia-lhes nos olhos uma confidência,
Encontraram um olhar compreensivo,
E a pena resumida num só substantivo,
Do silencioso egoísmo e da consciência
Ao sentir uma inexpressiva experiência,
     Do merecimento de viver ser subjectivo!...

À noite, a noite silenciosa,
Olhou a madrugada por um longo momento,
À noite, a noite silenciosa,
Olhou o dia e o amaldiçoou, angustiosa,
À noite, na noite de um lamento,
Adormece uma fria lágrima ao relento,
Coberta por uma lágrima piedosa,
  Levada pelo destino sempre atento!...

Ao anoitecer da vida, num dia qualquer,
Todos partirão, sem querer nem alento,
      Mas só quando Deus quiser!...


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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Passar sem Vinho


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Não…
Não deixem entrar as rãs!...
Não…
Não afoguem as manhãs!...
Não…
Não me deixem afogar,
Quero acordar,
Há buracos nos divãs,
Não deixem mais água entrar,
É em água à minha volta que eu sei nadar,
Uma hidra de água alaga-me com suas irmãs,
 Dentro de mim, vomitam água, alguns hidrófilos titãs,
Absorvem-me a desesperada necessidade de respirar,
Entram-me pelos ouvidos os anfíbios verdes a coaxar,
Tento evadir-me de mim em aflitas tentativas vãs,
Fora de mim, sinto-me no interior a naufragar,
Alcanço o limiar do meu pesadelo sedento,
Com tanta água para me rebentar,
É de sede que eu rebento,
   E acordo a transpirar!.. 

Só Jesus Cristo me valeu,
O que já água alguma me valia,
Até Jesus agradeceu o vinho que Bebia,
A Deus que a beber de seu sangue Lhe deu,
Era sangue da Vida que em Vinho bem Lhe sabia,
   E em cálice sagrado que todo o Apóstolo bebeu!...

Há uma triste sede em nossa mágoa,
Quando a sede só nos permite um caminho,
Não conseguimos passar pela vida sem água,
  Mas é triste passar pela vida sem vinho!...
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domingo, 23 de novembro de 2014

As Abelhas


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Abelhas rastejam até onde podem,
A fome alastra até onde a obrigam a ir,
Tristes e tristeza perderam-se no pó do sorrir,
Não pensam como é que os mortos se sacodem,
Nem se haverá alguma salvação que os possa sacudir,
Caídas, as leves asas sem pólen não os podem acudir,
Há novas semente nos cemitérios em desordem,
E antes do voo da morte que esteja para vir,
     Amam-se venenos que a vida acodem!...

O voo livre das abelhas foi censurado,
O sorriso das abelhas foi alvo de censura,
Vendem-se sorrisos aos crimes de Estado,
Os estados pagam com asas de ditadura,
Talvez algumas abelhas tenham voado,
E com elas, suas livres asas levado,
Talvez voltem com doce bravura,
O voo do mal nem sempre dura,
Talvez o mel esteja guardado,
     No cheiro da flor mais segura!...

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Uma abelha trabalha entretida,
Prova néctares de flor em flor,
Apresenta o Sol a uma formiga,
Dá-lhe calor onde ela se abriga,
E a luz meiga do seu esplendor,
É a Natureza perfeita do Amor,
    Nas asas de uma abelha amiga!...
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domingo, 29 de dezembro de 2013

A Saudável Transparência da Loucura Consentida


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Há uma mente sã em corpo são ou um corpo perfeito terá, obrigatoriamente, de ser encabeçado pelo armazenamento de um cérebro de noz?!... Podemos ser nós armazenados ou a noz do armazém. Podemos ser um corpo bem empacotado e pronto para despacho, em fim de ano memorável, sem loucura, sereno e natural!...
Tudo normal,
O princípio do fim e o fim do fim,
E o início casual,
Dos casuais assim-assim,
Assim como a loucura mais acidental,
   E os heróis imperfeitos embrulhados em ti e em mim!...
Há coisas a reter no pensamento. Mesmo que o pensamento se retenha nessa estranha forma de retenção selectiva dos pequenos vidros partidos e dos grandes estilhaçados. Os soldados da paz, andam por cá para isso, e para lá do que podemos imaginar num só ano perfeito, sem armas, desarmados, armados até ao pirilampo de alarme, o olho e a simbiose perfeita com o grito da sirene, abrindo alas ao socorro que passa sem olhar para os lados e, às vezes, até o que vem de frente é cegueira justificada, aos olhos postos no fogo por atear ou no fogo posto ao pôr-do-sol. Não é este o presente caso que, por acaso, não envolve o calor do corpo ou do esquentamento sem precaução em baixo inverno, nem as repentinas cheias de verão e transbordos ejaculados para fora da gravidez e respectiva assistência aos partos... ou às mães de pernas abertas ao grito bem seguro pelo cordão umbilical, sem incidentes de maior,
Ou melhor,
Do mal que por mal, mais vale do piorio,
E nada pode ser pior,
No entrelaçar da ajuda e muito suor,
Do que tentar uma gravidez em completo desvario,
De uma mulher em delírio de passada e prenhe de cio,
    E ainda o dito parto por consumar não lhe violara a mioleira,
Como viria a acontecer antes de acontecer naquela cegueira,
E, a verdade não dita, é que tudo se tornou mais frio,
   E nada de concrecto nasceu daquela maluqueira!...
Há anos perfeitos e este foi um deles, o ano dos vidros de janela, à espreita, onde olhos perfeitos e felizes se esconderam da perfeição social e política, para não caírem na perfeita tentação de aceitar telhados de vidro e enormes vidros de proteção que erguessem quantas paredes quisessem. A perfeita transparência do que não se quer esconder, porque numa sociedade perfeita e sã, nada se esconde, nem a sanidade mental nem a loucura mais transparente. O problema seria mesmo de transparência!... Com tudo tão transparente, um telefonema transparente, com 41 de pé, atravessou linhas transparentes da companhia telefónica transparente e chegou aos ouvidos transparentes do operador de telefone, ambos transparentes. A mensagem não podia ser mais transparente: -Socorro, é urgente. Há sangue por todo o lado, vidros partidos e golpes profundos, talvez alguém já tenha morrido e eu estou a segurar o telefone com dois pés que não são meus, porque já nem os meus ricos polegares tenho, nem mais 3 dedos.
Mais claro não poderia ser!...
-Pode repetir?...
-Estou a morrer.
Nada a esconder,
Se mais um vidro se partir,
O mais certo é ninguém sobreviver,
E lá se vai a transparência em vias de se extinguir,
Os ataques de riso e a imensa vontade de rir,
E a fuga em massa prestes a acontecer,
Seria uma ameaça à clareza do porvir,
Futuro das manivelas do transparecer,
alavancas do vidro que teria de ser!...
O que quisessem que fosse a esperança, por longos e saudáveis anos de vidro!...
Antes de Deus ter-se apercebido, e já carregadores de maca, médicos e paramédicos se tinham espatifado na curva mais apertada do fado gingão que os conduzia no desespero, abraçado às guitarras que gemiam... e das suas vozes incrédulas!... Um bêbado, muito bêbado, que passava conforme podia, descalçou o segundo sapato, colou-o às orelhas e participou a ocorrência às entidades competentes, continuando o seu caminho descalço!...
Não tardou a passar a mesma ambulância a uma velocidade espavorida que, entre ziguezagues e muitos esses, nem reparou nesses seus camaradas que, em coisa de instantes e perfeita saúde mental, já haviam voado com os anjinhos, em socorro da tragédia da vidraria global!... E chegaram. Aquilo estava feio!... Globalmente, pouco se notava da transparência dos vidros da vidraria, o sangue convertera aquela fábrica de transparências em inúmeros vitrais a serem montados por quem tivesse paciência para resolver puzzles inconcebíveis da mesma cor. Confirmaram alguns dedos espalhados, quase todos de mãos cheias de indicadores e polegares de consentimento e confirmação. Um verdadeiro massacre de cortes profundos, provocados pela suspeita teórica de suicídio dos irreconhecíveis pequenos vidros quebrados e pequenos estilhaços de grandes vidros polidos!...
Mas Deus é grande e há sempre quem sobreviva. E o que sobrevive, sobrevive acima de todos e de todas as coisas, numa independência só reservada à vontade do inexplicável, mas que encaixa perfeitamente na consagração do milagre, atribuído à intenção da igreja e à integração de novas almas com algum dinheiro ou miséria para denunciar com toda a clareza dos santos mistérios e divina, o que vem sempre a calhar. E alguém imagina maior tragédia do que esta?!... A transparência estilhaçada?!... O milagre estava ali, entre os vitrais pintados com escorridos de sangue; quebrado, partido e era visível o golpe profundo provocado. Sim, provocado, sabe-se lá em qual das múltiplas vítimas. Não havendo tempo a perder, vidro bem seguro e toca a colocá-lo com muito cuidado na maca de serviço!... Demoraram 48 horas, nem mais nem menos segundo, a percorrer 2 km, sem nem mais nem menos milímetro, pois todo o cuidado era pouco para a salvação da transparência e aquele vidro transparente e limpo, era único!...
Não se ouviu a estridência da sirenes e dos pirilampos vermelhos ou azuis de escolta autoritária, nem uma réstia de luz na transparência em deslocação no escuro!...

Tudo silêncio sobre silêncio!...
Sobre silêncio que enchia a almofada suspensa,
Aos passos suaves de coelho, seguia em silêncio, o seguro,
Era importante assegurar a suave transparência do futuro,
E a certeza da transparência máxima da recompensa,
Da clareza mais pura ao braço dado, propensa,
Dada ao sorriso mais sério e mais duro!...
E, eu, suave, delicado e, acima de tudo… educado,
Bem ou mal, sempre curioso e mais ou menos puro,
Sempre desconfiado,
Sem que me tivesse cortado,
Segui a transparência dos estilhaços,
E cortei a bondade oferecida dos espaços,
Em vidros transparecidos do que me fora dado,
Seguindo de perto até ao hospital mais próximo!...
Sempre, sempre em silêncio, na minha forma de ver, até ao destino ou depósito de lixo para reciclagem e alívio de contas públicas.
Entrei por não me deixarem entrar e o que vi, já havia entrado antes de mim, ocupando os corredores pré fabricados até à lotação esgotada e mais um, outros tantos, ainda mais um que estivesse para vir e seguido por outros, sempre bem vindos ao fim do ano!...
Um espectáculo digno de quem sempre quis rir,
E nunca se riu,
Como nunca se viu,
Nem se reviu no que não sabe como sentir!...
Um ano transparente e a transparente sensação,
De não compreender a razão da razão,
Do porquê e porque um sapato caiu,
Caindo da maca onde decantava um vazio garrafão;
Noutra maca, uma página sem sinal de vida que a vida perseguiu,
Fora arrancada ao resto do livro que estava algures sem coração,
E um vidro de leitura, outrora transparente, conseguiu,
    A melhor cama e conforto da global atenção!...

Pode parecer loucura de um ano louco,
Ano de surdos e o fim do ano mais mouco,
Mas, a surdez da loucura está sempre atenta,
Sente o sabor dos cortes que lhes sabe a pouco,
   Cura os vidros com a transparência que enfrenta...
E os vidros que sangram...
   Dessa saudável transparência da Loucura consentida!...

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Saúde dos Sinais

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Dizem os sinais,
Amiúde,
Na quietude,
Dos desiguais:
- Sem saúde,
                 Não há hospitais!...

Afirmam mais,
Com magnitude,
Coisas iguais,
Os quais,
Dizem em tom rude:
- Sem hospitais,
      Não há saúde!...

Vamos adoecendo,
Vendidos à saúde viável,
Compramos saúde improvável,
Vamos empobrecendo,
Esmorecendo,
Até ao inevitável,
Consumo que vai crescendo,
    Nas entranhas do hospital saudável!...

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