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domingo, 1 de novembro de 2015

"Cuspo na Tua Sepultura"

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Nesta terra com que te enterrei,
Terra onde não há vida nem apreço,
É a terra que me deste e eu escavei,
É só tua a terra que da cova eu tirei,
Terra que por ser tua não mereço,
E por ser tão tua, tua terra te dei,
    Terra que eu não esqueço!...

São teus ódios, agora, de terra
Nesse coração de terra infecunda,
Onde minhas mágoas foram enterradas,
Com a terra de tuas suspeições infundadas,
    De onde nasceu minha felicidade profunda!...

Trago as cicatrizes profundas que me deixaste,
Na alma que, sem tu saberes, Deus me deu,
Trago-te a terra que para mim compraste,
Nada quero do que comigo gastaste,
Com todo o desprezo que era teu,
    Tão teu que, com o meu ficaste!...

Só não te trago paz, meu amor,
Deste céu para o inferno onde estás,
Todos os dias desenterraste a triste dor,
    Desta que todos os dias terra te trás!...
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Folhas de Outono


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Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro adeus finado,
   Pintado nas cores caídas daquele sorriso final!...

Arrefecida folha caída de Outono,
Desnudada de qualquer desejo sem dono,
E entregue ao vento frio que parado a acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre cetim adormecia,
Esse eterno repouso branco da infalível e sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada das predições ao abandono,
Nas cores verdes da primavera emprestadas num assomo,
    De Esperança, na esperança de ter vivido mais um dia!...

Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida imperfeita,
Empresta ao lúgubre destino daquela folha rasgada,
Pedaços de terra indiferente caídos da lágrima cavada,
Que a vela padecida sem tempo ao fim do tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida lágrima congelada,
    Flutuando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...

Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num momento,
Derretendo na tristeza de um regresso comovente,
Acariciado pela suave brisa pousada levemente,
    Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...

Fecha-se a saída à folha onde o corpo jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Por entre portas abertas em alvores de Paz,
   Felizes recordações libertadas daquela dor!...

Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando levemente as faces primaveris do rubor,
    Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...

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Quantas vidas despojadas,
Quanta tristeza enterrada viva,
    Quantas mortes desterradas!...

Quanta unha partida,
Quanta esgadanhada campa aberta,
    Quanta enterrada Vida!...

Quantas almas no desterro,
Quantas frias entradas sem saída,
    Quantas saídas em erro!...

Quanto frio errante!...
Quanta terra cortada à medida,
Quantas lágrimas à despedida,
Quanto silêncio dissonante,
Quanto pranto à partida,
Quantos ais de tristeza redundante,
Quanto brilho finado da vida cintilante,
Quanta lama inglória sob a guerra perdida,
Quantas trincheiras num coração palpitante,
    Quantas mãos segurando as cordas da descida!...

Quanta saudade por suprir,
Quanta imortalidade prometida,
    Quanta promessa por cumprir!...

De joelhos enterrados,
Como raízes numa campa rasa,
Rezas os medos de fins antecipados,
Dos santos mistérios de dias assinalados,
Na pena lacrimada que das lágrimas extravasa,
Espalhando caídas penas de uma ferida asa,
    Roubada ao voo triste de tristes fados!...

Quantos esboços traçados,
Quanta obra interrompida,
Quantos planos rasgados,
Quantos sepulcros escavados,
Quanta vida longa resumida,
     Quantos ânimos desanimados!...

Quanta funesta indiferença,
Quantos de teus ódios sulcados,
Quanta igualdade morta à nascença,
Quanta contrição definhando na doença,
Quantos de tantos remorsos desacreditados,
Quanta vergonha no epitáfio dos dias profanados,
Quantos milagres de santos da casa caídos em desgraça,
   Quantas valas comuns no coração de pecadores perdoados!...

Quanta, quanta...
    Saudade!...

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