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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Irremediável (Perda de Tempo)

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Deixei em ti morrer,
Enquanto em mim morria,
O que deixei deixar de querer,
Tudo que de nós mais queria;
Troquei tudo por um dia,
Por dias de não saber,
Mal eu saberia,
    Quão mal sabe o nada ter!..

Ai, se ontem eu soubesse,
O que de ti, amanhã quisesse,
É a presente contrição tão severa,
Deste vazio presente que me exaspera,
Oxalá voltasse o passado que me desse,
O que por mim, ficando, por ti espera,
    E por nós, novo amanhecer viesse!...

É tua tristeza que não mereço,
Tristeza tua que me entristece,
     Triste saudade que eu conheço!...

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terça-feira, 10 de maio de 2016

52 - Passado da Vida Eterna

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Fui eu nascer neste estranho dia,
Nasceu este dia no dia que teve de ser,
Fui eu acreditar nesta Europa de alegria,
E logo vi a alegria desta Europa fenecer,
Foi pela morte que a vida fui temer,
   Nesta Europa a deixar-se morrer!...

Tantos anos de tão poucos,
Tão poucos de tantos anos,
Vivemos tão pouco por tão loucos,
Loucos por tantos enganos,
Pensamos ouvir gritos humanos,
    E, desumanos, somos tão moucos!...

Olho para o passado,
Perco-me neste futuro,
Sou presente pouco seguro,
Ausente deste maldito fado,
Que morreu e foi enterrado,
Pelo poder mais obscuro,
     Sempre assegurado!...

Pró diabo, estes cinquenta e dois,
Mais estes ares de Primavera moderna,
O futuro ficou lá atrás, para depois,
     No passado da vida eterna!...
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Braços caídos - Até ao Futuro

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Em teus braços de verdes ramos,
Por tuas verdes folhas envolvidas,
Dormem cores de Outono caídas,
   No velho regaço dos verdes anos!...

O aconchego no ninho de inverno,
Calor da ternura, o afago do vento,
Sem o existir das horas e do tempo,
      Mais um dia, mais um abraço terno!...


Há milagres esperando os penitentes,
A negra esperança, o abraço nefando,
 De braços caídos em anos descrentes;

Inesperada luz que foi desmaiando,
Anoitecendo as auréolas inocentes,
    Pra trás da inocência foram ficando!...


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quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ontem


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Não foi por engano dos dias acabados,
Que ontem foi o dia dos dias de mentir,
Mentiras e os enganos foram coroados,
A mentira do dia, cresceu antes de se ir,
Prometeu que a verdade estava para vir,
Hoje é ontem, o amanhã dos enganados,
Velho futuro revindo dos emparelhados,
   Ontem do amanhã que hoje irão seguir!...

Ontem foi um dia mentido,
A véspera do futuro da verdade,
Ontem continua a ser o futuro mantido,
Que, um dia antes do hoje ter nascido,
Abortou o dia seguinte sem saudade,
Deixando o amanhã sem validade,
Futuro que o podia ter sido,
Mas…
Antes de acabar a validade
E antes que o desmontem,
Já hoje está presente o ontem,
    Amanhã de mentiras sem idade!...

    
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Perto da Longa distância de Mim...


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Sabia que o fim do mundo existia!... Não o fim, não o mundo, nem o fim de qualquer procura cinzelado na poeira do tempo que pudesse perder-se na pré definição de um sonho concrectizado… ou apenas sonho, ou apenas a concrectização irrealizável de acordar no mundo e seu mundo, serenamente expandido dentro de si mesmo até à relação com outros mundos, milhões de mundos. Pelo menos, mais de meia dúzia de mundos e menos do que aqueles, impossíveis de serem tidos como razão!...
A distância e o caminho, o caminho e as encruzilhadas e, ainda, o trajecto da cruz e o carrego, o peso de si mesmo e da distância entre si e si mesmo, distantes da carne e distantes da alma, tudo entrelaçado num ADN de pensamento único. Passava o tempo, passava a distância de um tempo até ao tempo que não era outro, senão aquele que passava, sem relevância, sem esperança de memória. O tempo que passava, não passava das costas, jamais seria tempo de olhar em frente ou uma partícula empoeirada de tempo, com ou sem esperança. O tempo esquecido, não seria lamentado pelos olhos fixos no outro lado das costas voltadas para o que ia passando, deixado lá ficar, caído na sombra do esmorecimento do tempo que não interessava ao futuro afixado nos olhos fixos no outro lado das costas do aborrecimento!... Aí, estavam todas as cores vivas, toda a luz e os olhos cheios, a transbordar reflexos de sorrisos, de beijos transformados em borboletas coloridas com as cores, jamais imaginadas, dos mais belos arco-íris!... A distância do que está perto, entre o tempo dado como perdido, esquecido lá atrás, e o que falta e sempre faltará percorrer, afirmando a certeza de um horizonte lento, muito lento, quase imóvel, a movimentar-se, imperceptível, ao longo de uma linha interminável que vai do olhar que antecede o sentido mais periférico, para os sonhos permitidos aos olhos dos olhares sem periferia, por tão periféricos!...
Há uma sensação de vertigem na sensação dos caminhos que se movem dentro de nós, em meu próprio movimento de mim, e a satisfação plena de anular todas as distâncias entre o que eu sou e o que não sou, por mais longe que eu esteja de tudo, longe do que não é possível estar mais perto, de mim, inclusive!... Talvez me perguntasse, numa encruzilhada por aonde passei,
Por cada cruz e distância que em mim vive,
De mim, até onde jamais me perdi e procurei,
No ser eu, íngreme, e ser meu próprio declive,
A tendência vertiginosa por onde sempre irei,
Achando as dúvidas cruzadas que não contive,
E só Deus sabe das certezas, o que eu não sei,
Talvez eu seja o horizonte onde sempre estive,
    Caminho que me trás ao mundo onde fiquei!...
Regresso, após não ter partido, não ter voado nem levado pela pressa da ventania instantânea, sem instante e sem urgência, apenas o pensamento longo, calmo e silencioso!... O tempo da cor da noite, a noite da cor do luto transcendente, mais do que celebrar a morte, a celebração da vida e, no luto e na cor, a brancura leve de uma pena, até ao resplandecer incomparável de ser princípio e fim do mundo, em si mesmo, com o mesmo amor em continuar o caminho que, partindo do mais íntimo de si, continuava até ao horizonte sempre longínquo, que o atravessava de um ponto, algures dentro de si, até ao ponto mais distante de si mesmo!...
Umas vezes, a brancura da pena do peito que da garça se soltou, flutua num contínuo pairar da sua leveza sobre as coisas mais densas, como o entardecer, como o peso do dia que vai adormecendo e se deita na noite, sem comoção, mas, apenas distante do peito que não é seu!... Perde-se a pena, a garça continua o seu voo em voos curtos sobre as longas margens do rio imperturbável, quase sereno, tão sereno quanto o voo solitário da única ave que ficou para sobrevoar o silêncio, a quietude, a paixão inexplicável pelas árvores vivas que, a seus pés, acarinham os ramos secos das árvores mortas. Um carinho distante, inconciliável, unidos pela mesma paixão da garça!... E o ninho que nunca foi visto, o saca-rabos e a raposa, a distância sempre presente e a ausência de Deus que está longe das garças. Um dia, a vida, no mesmo dia, a morte!... Os saca-rabos que nunca foram vistos e as raposas que, longe dos nossos olhos, existem, à distância de um voo cansado, de um poiso rasteiro… até ao dia seguinte onde apenas um longo pescoço branco, um longo bico pálido e a vida que se ausentou, para sempre, dos olhos de uma garça!... A pena que restou, o acaso da distância e a distância percorrida por essa pena até à minha pena, penas que emplumam a vida sobre as margens de um espaço livre, das dúvidas sem margem!....
Longe de mim, para lá de minha aprendizagem,
À margem dos meus pensamentos que longe de mim se vão encontrar,
Compreendi que, muito longe de nós, somos uma breve passagem,
Passamos por percorrer o mundo que queremos abraçar,
Todo, para lá dos nossos medos e nossa coragem,
Compramos o bilhete de acesso à viagem,
O acesso à liberdade de sonhar,
E depois de tanto procurar,
Encontramo-nos na mensagem:
    Saímos de nós para em nós querermos ficar!...
Longe de nós, onde estamos longe de todos, todos são o que somos, próximos de ir onde nunca fomos, não fosse a vida que em nós caminha, o caminho mais distante para chegar ao outro… seríamos nós, no nosso lugar, esse lugar de onde nunca saímos.
Distante!...
Á distância de mim!...


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sábado, 29 de novembro de 2014

Segue...


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Segue!…
Antes que a felicidade te cegue,
E a infelicidade seja o que reste,
Vai, e antes que o amor te pegue,
 E te arrependas do que fizeste,
Segue!...
Deixa-te levar pelo vento leste,
Esquece o sol que te persegue,
E deixa-o pôr-se onde se ergue,
Que a lua, seu luar te empreste,
E te lembre da jura que fizeste,
Foge de seres a mal empregue,
Despe-te da razão que quiseste,
Dá-te à razão que te entregue,
E seguindo-a, com a razão…
Segue!...

Segue!...
Até onde quem te segue conseguir,
Não pares para olhar o que não tens,
Atrás de ti segue o que está para vir,
Segue o sorriso que te vem a seguir,
  E, sorrindo, segue com quem vens!...
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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Carne e Osso


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Depois, com a nossa carne totalmente empenhada,
Obrigaram-nos a comprar sonhos que eram nossos,
Nos gordos pesadelos, foi a nossa carne desossada,
 Ossatura sustida com promessas de não doer nada,
 E depressa damos por nós a roer os próprios ossos,
   Com o parvo espírito de nossa crença desdentada!...

E ainda com a nossa carne nos dentes,
Com facas arrancadas de nossas costas,
Cortam os nossos sonhos muito rentes,
Servem-nos mais promessas às postas,
Em pratos políticos sempre coerentes,
Às perguntas grátis vendem respostas,
E como saem caras as facadas expostas,
Infectadas por outras facadas recentes,
Perfídia sobre memórias decompostas,
   Compostas por propostas indecentes!...

Amanhã, com a memória das pessoas esgotada,
Formatada que foi a humana razão porque lutar,
Estranha a carne que sangrar por cada chicotada,
Sem os entardeceres nem a brisa da madrugada,
Sensações sem rosto, sem estímulo para copular,
Sem sentir o abrir-se da carne à carne sem aleijar,
Cicatrizaram feridas da humanidade equivocada,
     Cicatrizes sem memória do velho desejo de Amar!...

   
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quarta-feira, 26 de março de 2014

Duernos de Infância


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Hiatos de tempo hesitantes,
Abandonados no passado à pressa,
 Duernos de sépias folhas sussurrantes,
Impressas por embranquecidos sibilantes,
Escrevem-se histórias no interior da promessa,
O passado lembra-se do futuro e o atravessa,
 Há vozes que brincam aos risos dissonantes,
E cabeças carecas,
Muito quietas,
Descoloridas por abandonos sufocantes,
Permanecem na memória do tempo,
À espera da memória dos poetas;
A vida hesita por um momento,
Volta o olhar num lamento,
   Último adeus às bonecas!..

Separam-se duas folhas com cuidado,
Quatro páginas escritas que o vazio protegem,
      Reescreve-se uma folha em branco do passado!...  
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