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segunda-feira, 8 de abril de 2019

Indiferença.Poema 2 - Fechado em Si

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De intuito um tanto torto,
Impensável sem o parecer,
Sem pensar e em si absorto,
Sepultado em si, sem o saber,
Não houvesse quem por si haver
Haveria de o pensamento já morto,
    Pensar em não pensar em morrer!...

Viveu como quem não morresse,
Vida sua que, de si, em si morreu,
E se vida houve que Deus lhe deu,
Foi a vida do que lhe apetecesse,
Talvez agradecer sua vida devesse,
   Rebentou de ingratidão e morreu!...

Engana-se a vida e morte, por aí,
Vida que morre dentro de alguns,
Uns dizem que é um pouco de ti,
Outros já sem a vida dentro de si,
   Afirmam-se vivos como nenhuns!...

Indiferentes a tal forma de azar,
Pouco lhes custará a sua morte,
Não quiseram viver para se dar,
Morreram sem a sua vida pagar,
   Por sua vida e desgraçada sorte!...
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sábado, 3 de março de 2018

Lágrimas de Salgueiro ( e a Mimosa)

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Minhas lágrimas sobre mimosas,
Mimosas que nesse dia sorriram,
Sob minhas lágrimas sucumbiram,
Lágrimas envolventes, silenciosas,
Fugidas de meus olhos, perigosas,
O delicado amarelo delas cobriram,
Pelas lágrimas envolvidas, curiosas,
    Mais lágrimas sobre elas sentiram!...

Veio o frio triste e elas congelaram,
Congelaram suas lágrimas primeiro,
Tão verdes as mimosas de Fevereiro,
Tantas mimosas lágrimas dobraram,
Muitas, de tanta tristeza quebraram,
Outras floriram do amor verdadeiro;
À beira do rio, um solitário salgueiro,
A quem até o frio do amor roubaram,
     Sorria ao, da mimosa, sentir o cheiro!...

São frágeis as mimosas deste mundo,
Que ao frio do mundo sobreviveram,
Mimosas floriram do medo profundo,
Lágrimas se perderam num segundo,
    Durante séculos, lágrimas morreram!...

Beijam minhas lágrimas tua frágil cor,
Refloresces sem queixumes nem apelo,
Cobriram-te minhas lágrimas de calor,
  Minhas lágrimas que já foram de gelo,
     Sou velho salgueiro solitário de amor!...


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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Vazio Abismal

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O abismo faz-se entre os nossos desvios,
Faz-se alma inerte no vão do nosso peito,
Escurecem penhascos no vazio imperfeito,
É interminável a queda de corações vazios,
    Perdidos no abismo solitário do vazio leito!...

A queda interminável,
Talvez o vazio abismal,
A desistência e o mal,
O medo inconfessável,
     O vazio da queda final!...

Houvesse um pouco de amor,
Que nos concedesse o favor,
De ensinar-nos a amar,
E aprender a ensinar,
A ver o Criador,
    E amor criar!...
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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Beijo Íntimo

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Os beijos lambem-se no perfume do seu tecido,
Beijam-se fechados em sua louca sofreguidão,
Os beijos escondem-se do beijo apetecido,
Beijam-se, solitários, com a sua solidão,
Os beijos escondem-se no coração,
Escondem o beijo escondido,
Há um beijo oferecido,
Beijos de paixão,
Beijo perdido,
     E encontrado... só!...
Só, em íntimos murais,
Murais pintados de moral,
A moral dos beijos providenciais,
Beijados pelos lábios do céu, celestiais,
Ao som de uma só voz entoada num madrigal,
Beijos puros, feitos de céu, ternura e pouco mais,
Desconsolo do beijo, proibição da carne, do beijo carnal
   O desejo de beijar e ser beijada pelos lábios de beijos iguais!...
   E o pecado!...
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Salto aos Olhos da Malta


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Aproximam-se do arco da ponte mais alta,
Caindo do chão até às vertigens oscilantes,
É tão antecedente a cruel tristeza que salta,
Ante os olhos da pouca felicidade que falta,
 Há o abraço vazio abrindo-se por instantes,
E antes que as angústias se façam distantes,
    Despediu-se o adeus à indiferença da malta!...

A malta guinda-se até ao fundo do próximo dia,
Descem comprimidos para amortecer o abraço,
A malta vende dias anteriores à memória vazia,
 Descontinua-se o pilar da ponte sob a travessia,
 Sucumbe a ponte que é testemunha do cansaço,
     E de sua tristeza que pela fria malta se angustia!...

Tantos dias a construir a ponte, agora oscilante,
Sem que soubesse de alguém que o soubesse,
Talvez o seu silêncio triste no-lo dissesse,
Mas o dia a dia foi sempre hesitante,
Talvez a ponte não fosse o que parece,
E o amanhã não parecesse tão adiante,
Dessa solidão de todos os dias tão distante,
Tantos dias, e um só dia que fosse, assim o quisesse,
   Como se, em vez do salto, fosse travessia confiante...

Ao olhar da malta!...
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sonhar o Sol

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Com os meus sonhos por sonhar,
Nesse teu sorriso que não adivinhei,
Despertam as manhãs com que sonhei;
Fui adormecer sem sonhos no teu despertar,
Só queria metade dos nossos dias que eu te dei,
    Para nossas noites que me deste, poder eu te dar!...

Foram todas as nossas noites, dias até ao anoitecer,
Amanhecíamos em nós com o sorriso que amanhecia,
Talvez fosse a nossa felicidade vinda de nós, a acontecer,
Foram todos os nossos dias, dias de sol até ao amanhecer,
    Aquela nossa mais bela noite beijando nosso mais curto dia!...
     Como contar os dias, se eram noites felizes do que acontecia?!...
Apenas o calor dos nossos corpos e a luz em olhos de prazer,
    Como contar noites se na noite dos teus olhos, dias eu vivia!...

 Sonhos que dormem longe do Sol e tão perto da Lua,
E só o Sol ilumina os sonhos que se querem iluminar,
Caminha uma só sombra solitária à meia-noite na rua,
     Não há em seus olhos solitários qualquer eclipse solar!...
   
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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Bordados Involuntários

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Cruzavam-se em qualquer caminho,
Dos seus caminhos traçados no deserto,
Cada qual, dentro de si caminhando sozinho,
Consumidos por ásperas vendas de bordado linho,
Fitas rasgadas nos olhos fechados em ponto aberto,
E nos olhos bordados,
Relevos desencontrados,
Cresciam atrás de agulhas do bordado mais incerto,
Não eram agulhas de aço a entristecer de desalinho,
Nem o tecido era toalha de altar dos pecados liberto,
Eram veredas, o caminho por toda a solidão coberto,
     Silêncio bordado no coração triste aberto ao espinho!...

Sem desígnios, os espectros transversais,
Bordam-se com a poeira que os atravessa,
Tempestades exaustas morrem nos areais,
A praia deserta e desertos são almas iguais,
    De olhos postos em alguém que as impeça!...

Todos vão passando pelo que passamos,
E não vemos passar quem por nós passa,
Somos caminho único da nossa desgraça,
    E por nossa desgraça todos desgraçamos!...
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Atacadores


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Depois do sonho que o atacava,
Abeirava-se da velha cama sonolenta,
E deparava-se com o que sempre sonhava;
Ali estavam eles sobre a bota que descansava,
Estendidos no sono de mais uma volta truculenta,
Mal desatados por mais uma noite de tormenta,
     Nas voltas solitárias que na noite o sobressaltava!...

Sentado à beira do abismo de estrito uso pessoal,
De braços atados pelo nó cego da cegueira da sorte,
Contemplava seus pés de um despido branco forte,   
Pendentes de uma crua indiferença quase vegetal,
A crescer no olhar vazio de um pálido vazio mental,
   Já sem as lembranças vivas da vida nem da morte!...

Escolheu vinte dias em que ficou descalço no frio,
Entrou em dezanove abismos e saiu por cada ilhó,
Passou por todos eles como atacador de ponta só,
Até encontrar seu par atacador em igual desvario,
Uniram-se pelas botas num abraço de amorfo nó,
   Fazendo-se ímpar atacador de fatal nó corredio!...

Haurido pelo olho trespassado dos velhos ilhós,
Debruava buracos abertos ao silêncio das dores,
Cegos nós na garganta estrangulavam-lhe a voz,
Como quem ata olhos de solidão de homens sós,
      Ao silêncio de uma bota desatada por atacadores!...

Vinte ilhós e outros tantos longos dias depois,
Puxou tenazmente as pontas dos fortes atacadores,
Cada um apertou sua bota cheia de vidas anteriores,
 …e partiram os dois!...
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