sexta-feira, 3 de abril de 2015

Puro Amor


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Não me leves o medo de sofrer,
Quero sentir a dor de cada pecado,
O fogo que na carne não os deixa ver,
Deixa que eu mereça ser o crucificado,
Que meu Amor por eles seja meu legado,
Eles saberão Amar enquanto neles eu viver,
Todo aquele que não Ama, ver-me-á morrer,
Esse não provará o doce sabor de ser Amado,
   Nem verá a Vida, para além da Vida, renascer!...

 Não me abandones, medo de sofrer

  Não me abandones amor amado!...

   
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quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ontem


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Não foi por engano dos dias acabados,
Que ontem foi o dia dos dias de mentir,
Mentiras e os enganos foram coroados,
A mentira do dia, cresceu antes de se ir,
Prometeu que a verdade estava para vir,
Hoje é ontem, o amanhã dos enganados,
Velho futuro revindo dos emparelhados,
   Ontem do amanhã que hoje irão seguir!...

Ontem foi um dia mentido,
A véspera do futuro da verdade,
Ontem continua a ser o futuro mantido,
Que, um dia antes do hoje ter nascido,
Abortou o dia seguinte sem saudade,
Deixando o amanhã sem validade,
Futuro que o podia ter sido,
Mas…
Antes de acabar a validade
E antes que o desmontem,
Já hoje está presente o ontem,
    Amanhã de mentiras sem idade!...

    
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Perto da Longa distância de Mim...


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Sabia que o fim do mundo existia!... Não o fim, não o mundo, nem o fim de qualquer procura cinzelado na poeira do tempo que pudesse perder-se na pré definição de um sonho concrectizado… ou apenas sonho, ou apenas a concrectização irrealizável de acordar no mundo e seu mundo, serenamente expandido dentro de si mesmo até à relação com outros mundos, milhões de mundos. Pelo menos, mais de meia dúzia de mundos e menos do que aqueles, impossíveis de serem tidos como razão!...
A distância e o caminho, o caminho e as encruzilhadas e, ainda, o trajecto da cruz e o carrego, o peso de si mesmo e da distância entre si e si mesmo, distantes da carne e distantes da alma, tudo entrelaçado num ADN de pensamento único. Passava o tempo, passava a distância de um tempo até ao tempo que não era outro, senão aquele que passava, sem relevância, sem esperança de memória. O tempo que passava, não passava das costas, jamais seria tempo de olhar em frente ou uma partícula empoeirada de tempo, com ou sem esperança. O tempo esquecido, não seria lamentado pelos olhos fixos no outro lado das costas voltadas para o que ia passando, deixado lá ficar, caído na sombra do esmorecimento do tempo que não interessava ao futuro afixado nos olhos fixos no outro lado das costas do aborrecimento!... Aí, estavam todas as cores vivas, toda a luz e os olhos cheios, a transbordar reflexos de sorrisos, de beijos transformados em borboletas coloridas com as cores, jamais imaginadas, dos mais belos arco-íris!... A distância do que está perto, entre o tempo dado como perdido, esquecido lá atrás, e o que falta e sempre faltará percorrer, afirmando a certeza de um horizonte lento, muito lento, quase imóvel, a movimentar-se, imperceptível, ao longo de uma linha interminável que vai do olhar que antecede o sentido mais periférico, para os sonhos permitidos aos olhos dos olhares sem periferia, por tão periféricos!...
Há uma sensação de vertigem na sensação dos caminhos que se movem dentro de nós, em meu próprio movimento de mim, e a satisfação plena de anular todas as distâncias entre o que eu sou e o que não sou, por mais longe que eu esteja de tudo, longe do que não é possível estar mais perto, de mim, inclusive!... Talvez me perguntasse, numa encruzilhada por aonde passei,
Por cada cruz e distância que em mim vive,
De mim, até onde jamais me perdi e procurei,
No ser eu, íngreme, e ser meu próprio declive,
A tendência vertiginosa por onde sempre irei,
Achando as dúvidas cruzadas que não contive,
E só Deus sabe das certezas, o que eu não sei,
Talvez eu seja o horizonte onde sempre estive,
    Caminho que me trás ao mundo onde fiquei!...
Regresso, após não ter partido, não ter voado nem levado pela pressa da ventania instantânea, sem instante e sem urgência, apenas o pensamento longo, calmo e silencioso!... O tempo da cor da noite, a noite da cor do luto transcendente, mais do que celebrar a morte, a celebração da vida e, no luto e na cor, a brancura leve de uma pena, até ao resplandecer incomparável de ser princípio e fim do mundo, em si mesmo, com o mesmo amor em continuar o caminho que, partindo do mais íntimo de si, continuava até ao horizonte sempre longínquo, que o atravessava de um ponto, algures dentro de si, até ao ponto mais distante de si mesmo!...
Umas vezes, a brancura da pena do peito que da garça se soltou, flutua num contínuo pairar da sua leveza sobre as coisas mais densas, como o entardecer, como o peso do dia que vai adormecendo e se deita na noite, sem comoção, mas, apenas distante do peito que não é seu!... Perde-se a pena, a garça continua o seu voo em voos curtos sobre as longas margens do rio imperturbável, quase sereno, tão sereno quanto o voo solitário da única ave que ficou para sobrevoar o silêncio, a quietude, a paixão inexplicável pelas árvores vivas que, a seus pés, acarinham os ramos secos das árvores mortas. Um carinho distante, inconciliável, unidos pela mesma paixão da garça!... E o ninho que nunca foi visto, o saca-rabos e a raposa, a distância sempre presente e a ausência de Deus que está longe das garças. Um dia, a vida, no mesmo dia, a morte!... Os saca-rabos que nunca foram vistos e as raposas que, longe dos nossos olhos, existem, à distância de um voo cansado, de um poiso rasteiro… até ao dia seguinte onde apenas um longo pescoço branco, um longo bico pálido e a vida que se ausentou, para sempre, dos olhos de uma garça!... A pena que restou, o acaso da distância e a distância percorrida por essa pena até à minha pena, penas que emplumam a vida sobre as margens de um espaço livre, das dúvidas sem margem!....
Longe de mim, para lá de minha aprendizagem,
À margem dos meus pensamentos que longe de mim se vão encontrar,
Compreendi que, muito longe de nós, somos uma breve passagem,
Passamos por percorrer o mundo que queremos abraçar,
Todo, para lá dos nossos medos e nossa coragem,
Compramos o bilhete de acesso à viagem,
O acesso à liberdade de sonhar,
E depois de tanto procurar,
Encontramo-nos na mensagem:
    Saímos de nós para em nós querermos ficar!...
Longe de nós, onde estamos longe de todos, todos são o que somos, próximos de ir onde nunca fomos, não fosse a vida que em nós caminha, o caminho mais distante para chegar ao outro… seríamos nós, no nosso lugar, esse lugar de onde nunca saímos.
Distante!...
Á distância de mim!...


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sábado, 21 de março de 2015

Eclipse à Luz Florida dos Olhos


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Nos olhos verdes da nossa cegueira,
A prometida flor da fartura vai florescendo,
Aromas de frutos verdes sentam-se à nossa beira,
Prometem sorrisos de esperança numa só promessa,
A olência das promessas amanhecidas vai anoitecendo,
Floresce a sombra breve da desconfiança que acena, ligeira,
Na noite, põem-se os olhos adormecidos que vão amanhecendo,
A razão das flores deitou-se e, com a noite escura, foi adormecendo,
Calafrios de luz atravessam a escuridão que olhos julgavam passageira,
Da luz do sonho, ao frio e à sombra interminável do desassossego da lareira,
   Vai o calor prometido e promessa de toda a luz que se deita e vai esmorecendo!...


Luz e calor na esperança de uma só promessa,
A luz forte que a descrença mais forte atravessa,
E o sombrio negrume intenso das promessas desfeitas,
Ao acordar da flor dos sonhos, florida nas promessas feitas,
E todas as flores caem do inverno sem fruto que regressa,
Cobertas pelo pez mais escuro das mais cegas suspeitas,
E, às cegas, voltar a acreditar na Primavera professa,
Do olhar das cegueiras em cegueiras refeitas,
     Que o olhar cego, ao Sol e à lua confessa!...

  
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quinta-feira, 19 de março de 2015

Botão 26



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Tem destes valores,
A vida e nossos amores,
Tem a vida, janelas de excepção,
Há excepcionais remédios para as dores,
Há o destino guardado no destino do coração,
Por vezes, os corações desconhecidos são o que são,
Podem ser irreveláveis sonhos interiores,
Ou desejos de externos rumores,
Revelados numa sensação,
De ser…
E eu, sem o saber,
Sem da tua imprudência suspeitar,
Vi o teu sorriso deslumbrado aparecer,
Apareceste como quem quisesse amar,
E eu, que mal sabia como te beijar,
Dos teus lábios o fiquei a saber,
Que ainda antes de acontecer,
Já o beijo se mistura no ar,
   Dado antes de nascer!...

Talvez o destino faça o botão despregar,
Apartar-se das velhas linhas que do botão vasa,
Talvez o destino de eu ser botão, fosse abotoar,
Ser coração que uma agulha fosse trespassar,
  Antes de por ti amado, ser botão sem casa,
       Que a casa encontrou e contigo foi casar!...

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terça-feira, 3 de março de 2015

400 Poemas d'Alma


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   Haverá mais poemas que estejam por vir?!...
Talvez um poema se revele no que vou vendo,
Há poesia que, nas palavras, se foi perdendo,
Palavras que deixaram de sentir,
Deixadas partir,
Com algum poema que o fosse sendo,
E com as suas palavras fosse crescendo,
Sentindo a saudade de nele prosseguir,
A saudade do silêncio e de o saber ouvir,
O não saber que do poema sabendo,
O saberia, sabendo como não sorrir,
Com as palavras fosse aprendendo,
E com o poema aprendesse a rir…
Rir de não saber o que se vai lendo,
Sem deixar de ler,
Sem deixar de mentir,
Mentir às palavras sentidas,
E deixar que nelas o poema as queira esconder,
Fazer delas o que lhe apetecer,
Dá-las como perdidas,
Encontrá-las escondidas,
Na vontade de as conceber,
Senti-las vivas e atrevidas,
      E vontade de as ter!...
Há sempre mais um poema à espera de existir,
Todas as palavras desconhecidas existem,
Os sentimentos não desistem,
É sã, a carne viva da emoção de existir,
É tão viva a dor e o prazer da razão de resistir,
Resistência à tentação dos vazios que persistem,
Vazios que se enchem dos interiores persistentes,
 E no sossego do nada desejar em que insistem,
Nadas moles, atormentados e insistentes,
 E nada há que os faça desistir…
O nada dos nadas que do nada não querem sair,
E por nada que seja, sem nada, se deixam ficar,
Sem nada querer, ou não, e gostar,
De todos os poemas ausentes,
      Sem nada das palavras esperar!...

Vagueando entre palavras sem rumo,
Entre costumários sinais de rumo certo,
Na certeza de rever-se num poema incerto,
E na sorte certa de perder-se num breve resumo,
Leve como o desvanecimento de uma língua de fumo,
Que se eleva nos leves braços doutro fumo descoberto,
   E se esfuma na palavra cúmplice com uma leve ironia!...
   Uma baforada de cachimbo, lúdica e plena?!...
  Um beijo e um olhar de melancolia?!...
Flutuando sem destino, desencontro-me do tema,
Procuro-me no destino do tema vadio de uma pena,
Escrevo o destino dos pássaros nas asas de cada dia,
Dou asas à infância escrita nas asas de minha fantasia,
Como se eu quisesse ser fumo que voa de um poema,
Ser todas as palavras de um beijo que bocas silencia,
Ser a criança beijada e ser o beijo que me acena,
Soprado por quatrocentos lábios de poesia!...



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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Meu Deus!... (Tentação)


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   Meu Deus!...
Porque me deste esta língua verdadeira,
E este sabor acre e doce da palavra bifendida,
Porque me deste, do céu os olhos e da terra a poeira,
Ser estas crinas cruzadas e o aro fechado de minha peneira,
E a substância mais grossa de minha obscena verdade vencida,
Que me trespassa como se eu fosse essa Tua luz incompreendida,
      Minha própria sombra indigna e professa de minha língua inteira?!...

Sinto rastejar dentro de mim o que não quero da parte que sou,
Fora de mim, banho-me em Tua luz que anseio compreender,
Tudo é puro, sereno, felicidade plena de Ti a que me dou,
Sinto o teu sorriso singelo da felicidade onde estou,
Quase posso tocar a luz que dá forma ao Teu ser,
Minha alma rejubila por Te pertencer,
     É amor puro que por Ti ressuscitou!...

Mas, de repente,
Revela-se, do fundo, a serpente,
E o outro lado da verdade que penso,
Há uma verdade que serpenteia, pungente,
Com as línguas bifurcadas de um fogo intenso,
Que se aproximam do meu ténue bom senso,
     E arderá alguma de minha razão aparente!...

       Meu Deus!...
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Anos das Cabras (Os pastos secos da liberdade)


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… e se onde nasce o Sol a Paz é desejada no ano da ovelha,
Pede ao inferno, o olhar desta terra que se põe, que se abra,
São bípedes abestalhados,
No macio dos tempos bastos,
A engordar nos verdes pastos,
Á sorte selvagem abandonados;
Cresceram as bestas que são agora apanhadas de cernelha,
Afagam-lhes as cruzes fustigadas no lombo que se descalabra,
Arfam os quadrúpedes de língua pendida e olhar de esguelha,
E antes de verem o seu sorriso ser farpado de orelha a orelha,
Vêm uma familiar vaca coberta pelo desejo de ser cabra!...
São as vacas sem vergonha e de rastos,
Já fartas dos seus gordos bois castrados,
Fartas do olhar puro dos puros e castos,
Correm carregadas de pecados vastos,
Aguentam os cornos de bois derreados,
 Enquanto pastavam foram encornados,
     Escondem agora seus cornos já gastos!...

O Sol continua a nascer e cada um tem direito à sua centelha,
Os pastos do olhar deposto são agora sem cor e cor de viagra,
Pequenos olhos tranquilos vêm harmonia e Paz numa ovelha,
Grandes olhos traídos põem-se nos cornos de uma cabra!...

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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Tempo de Ler-te


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É tempo de ler os livros que nunca li,
É tempo de abrir-me e aprender contigo,
Não sei se é tempo de encontrar o tempo que perdi,
Não sei se vou a tempo de ver o tempo que nunca vi,
É tempo de abrir tuas folhas e folhear-te comigo,
É tempo de seres livro que lê o que digo,
Não sei se é tempo meu que de ti,
   É o tempo que eu persigo!...

Tuas folhas que eu nunca virei,
As folhas que em branco se escreveram,
São folhas brancas onde as palavras se esconderam,
Procuro em tuas páginas o que tanto de ti nada sei,
Não sabendo se dentro de ti, te encontrarei,
Entre as palavras que se perderam,
  Palavras com que não fiquei!...

Quero-te livro aberto à minha leitura,
Quero que sintas cada palavra que de ti leio,
Tuas palavras sejam minha pronúncia em teu seio,
E te cubram, tomando teu corpo com ternura,
E se, porventura,
O prazer em ler-te que tanto anseio,
Puser fim ao fim de minha procura,
O teu fim será o melhor meio,
De ser esta minha sã loucura,
    De voltar a ler-te sem receio!...
                                                                
É tempo de continuar a escrever,
Este mesmo livro que nós somos,
E não sei se haverá maior prazer,
De sermos o que sempre fomos,
     Livro irresistível à vontade de ler!...
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