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Meu Deus!...
Porque me deste esta língua verdadeira,
E este sabor acre e doce da palavra
bifendida,
Porque me deste, do céu os olhos e da
terra a poeira,
Ser estas crinas cruzadas e o aro fechado
de minha peneira,
E a substância mais grossa de minha obscena
verdade vencida,
Que me trespassa como se eu fosse essa
Tua luz incompreendida,
Minha própria sombra indigna e professa de minha língua inteira?!...
Sinto rastejar dentro de mim o que não quero da parte que sou,
Sinto rastejar dentro de mim o que não quero da parte que sou,
Fora de mim, banho-me em Tua luz que
anseio compreender,
Tudo é puro, sereno, felicidade plena de
Ti a que me dou,
Sinto o teu sorriso singelo da felicidade
onde estou,
Quase posso tocar a luz que dá forma ao Teu ser,
Minha alma rejubila por Te pertencer,
É amor puro que por Ti ressuscitou!...
Mas, de repente,
Revela-se, do fundo, a serpente,
E o outro lado da verdade que penso,
Há uma verdade que serpenteia, pungente,
Com as línguas bifurcadas de um fogo
intenso,
Que se aproximam do meu ténue bom senso,
E
arderá alguma de minha razão aparente!...
Meu Deus!...
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