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domingo, 30 de julho de 2017

"E"... "A"...

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… e quando a mentira se apega,
Transforma-se numa verdadeira praga,
Que os olhos dos seus apegados cega,
     E a verdade dos seus olhos apaga!...

Só eu já nasci cego,
E por mais que a mentira me traga,
     A nada dela me apego!...
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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Fogo santíssimo

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Fui condenado ao fogo diabólico,
Por combater o diabo em cada mente,
Pelo santo, foi um santo castigo simbólico,
Fizeram de mim,
Um santo, por dizer assim,
Eleito ao inferno, por santos, simbolicamente,
Fazendo-me mais um santo diferente,
Em pedestal de paraíso retórico,
Esculpido pacientemente,
 Pelo julgamento católico,
    Católico até ao fim!...

Mas, o fogo infernal,
O inferno da madeira secando,
A carne em fogo e o pecado original,
O prazer queimando no inferno celestial,
E o fogo que, a quente, a razão foi apagando,
Sem que  os pecadores soubessem até quando,
A alma da seca madeira fosse tão igual,
 Aos santos que em lume brando,
     Ardiam num inferno de moral!...

Não sei se a madeira com que me fizeram,
Foi altar benzido por todos os pecados,
 Ou se todos os pecados quiseram,
    Ser na madeira sacrificados!...
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terça-feira, 12 de abril de 2016

Culto (O Outro Mundo)


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O flash e os olhos cegos,
Olhar em ruínas terrestres,
A humanidade dos mestres
As peças perdidas de legos,
Os artefatos extraterrestres,
Construções e alguns pregos,
     Inocência e amoras silvestres!...

A luz que na luz se apaga,
A penumbra e a cegueira,
Os fanatismos e a asneira,
Silêncio das trevas e a saga,
A consciência sempre vaga,
A mentira sempre ligeira,
Alguma verdade aziaga,
De um mundo inteiro,
A vida pelo dinheiro,
     E a morte que afaga!...

A sombra das pirâmides invertidas,
O Sol no olhar das sombras perdidas,
O Sol despido a perder-se na noite nua,
A virgindade perdida, abandonada na rua,
O fulgor das consciências corrompidas,
A sombra da sombra de muitas vidas,
Os uivos selvagens dedicados à lua,
A crueza fria das almas vencidas,
O calor das lágrimas vertidas,
O sabor da verdade crua,
A luz que se perpetua,
      Das sombras sentidas!...

O eclipse do olhar,
O apocalipse dos credos religiosos,
Os olhos caídos sobre Deus a chorar,
As lágrimas de Deus a transbordar,
A fúria dos mares tenebrosos,
Os crentes cautelosos,
Deuses a mendigar,
Ricos poderosos,
O poder de salvar,
Nos olhares luminosos,
E a morte que avança devagar,
Lenta, muito lenta, sem se apressar,
Tão lenta se arrasta entre momentos preciosos,
Enquanto dorme a justiça à sombra dos vagarosos,
Que, mal a morte deles se aproxima, apreçam-se a acordar,
Á luz dos seus desejos, despem o mundo e cobrem-se, lustrosos,
Despidos de toda a humanidade e esperança de Amar!...

Os olhos de quem de nenhum olhar se liberta,
O olho de milhares de olhos que tudo observam,
Olhos nervosos de pirâmides que não se enervam,
Pedra sobre pedra à volta do coração que se aperta,
Coração empedernido em agonia na alma deserta,
      De escravos dos que todas as verdades acervam!...

Lâminas muito frias de irresistível perfume,
Perfume frio envolto no mais secreto lume,
Lume fechado em doce gelo muito quente,
O fogo afiado no inferno de cada frio gume,
Ardendo até ao frio coração contundente,
Entre as paredes de fogo até ao cume,
O semear da morte e da semente,
Semear a morte que se assume,
E prolifera-se vivamente,
Sem um queixume,
Do obediente,
   O costume!...

Fechamos os olhos desnecessários,
Sem qualquer necessidade de os ter,
Inúteis, esses nossos olhos ordinários,
   Que nunca outros olhos quiseram ver!...




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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crianças, a Fome e a Fome de Leão

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Acordo sem deixar de dormir,
Neste sonho que me enrola,
Ou, talvez não…
Não sei ler e volto à escola,
Não há quem me possa acudir,
Acudo-me num rabisco farsola,
O professor é um terrível anão,
Escreve de espingarda na mão,
Solto um grito e vejo-me a cair,
Caio numa oferta, sou a esmola,
Sou o jantar de um famoso leão,
Engolido, passo por uma argola,
É ouro que a noiva está a vestir,
Visto-me e avisto-me a despir,
Não tenho qualquer ereção,
Revisto-me sem consolação,
Sinto prazer que deixei de sentir,
Sinto uma nudez que me esfola,
Sou coelho a dormir na caçarola,
Ou, talvez não…
Acordo em corvo cor de carvão,
Sobrevoo uma criança sem gramática,
Tão indecifrável é a linguagem do cifrão,
Enrola-se a língua à língua que se enrola,
Blábláblá... qualquer coisa e um pouco de pão,
Voam os chapéus que sacam coelhos da cartola,
Cada cartola mais alta é uma cartola democrática,
Foram-se os coelhos mágicos e só ficou uma pistola,
A fome de uma criança aponta a pistola automática,
Aponta às dores de dentes do regressado leão,
Contrata-se um dentista, por caça, fanático,
E antes que o mudo mundo grite não,
Os pássaros morrem numa gaiola,
As crianças tomam uma decisão,
O medo da vida é sintomático,
     E morrem com determinação!...

Acordo sem deixar de dormir,
Sonho com um leão feito de luz da lua,
Há um sol que para alguns só brilha a fingir,
Caçadores de leões são a humanidade no devir,
    Crianças morrem nos dentes da fome que continua!...
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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Exclusão do Olhar


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Dentro de si,
O sangue corre fora de ti,
Arrefece os caminhos para o peito,
Excluíste do teu coração, o calor e o respeito,
Exclusão que dentro dos excluídos eu vi,
     Incluída fora do pensamento desfeito!...

Vejo-te viver sem qualquer razão,
Respiras caminhos que não sentes,
Vejo-te viver em anuente exclusão,
Há um caminho ao qual tu mentes,
Vejo-te viver sem coração!...

Só vês caminhos recalcados,
E te decalcas em passos perdidos,
Apenas consegues ver objectivos repetidos,
E antes de chegares aos milagres imaginados,
Vais perder-te entre vivos caminhos truncados,
Onde a esperança dos teus olhos desfalecidos,
Pela esperança dos seixos da vida cegados,
    Acaba entre sonhos nunca cumpridos!...

Nunca observaste a vida nos caminhos,
A meta brilhava com uma intensidade maior,
Não viste a exclusão dos que caminhavam sozinhos,
Nunca te deste conta de um caminho melhor,
De todos os caminhos escolheste o pior,
   Caminhar sem sentires os espinhos,
       Nem a flor regada com o teu suor!...

As velas iluminam a triste cegueira,
Os olhos vão derretendo à vista das velas,
Há uma luz divina que, de muito longe, se abeira,
Entre a luz dos olhos e a da alma há uma fronteira,
Ninguém cruza o limite de suas lágrimas singelas,
Enquanto ardem os pecados em cada uma delas,
A cera vai cobrindo uma arrefecida vida inteira,
      Que se derrete à luz das coisas mais belas!...

Um sorriso cheio de luz,
Mães acolhedoras à luz do dia,
A luz que ilumina o caminho da cruz,
Os passos, as Mães, a caminhada macia,
A humildade que não se enfastia,
O Pai e o Pão!...
A partilha e a razão,
O amor que não se esvazia,
Todos os caminhos do coração,
O sangue livre, de uma vida sadia,
Todas as luzes sem ilusão,
A luz nunca tardia,
     Nunca a exclusão!...

    


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sábado, 21 de março de 2015

Eclipse à Luz Florida dos Olhos


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Nos olhos verdes da nossa cegueira,
A prometida flor da fartura vai florescendo,
Aromas de frutos verdes sentam-se à nossa beira,
Prometem sorrisos de esperança numa só promessa,
A olência das promessas amanhecidas vai anoitecendo,
Floresce a sombra breve da desconfiança que acena, ligeira,
Na noite, põem-se os olhos adormecidos que vão amanhecendo,
A razão das flores deitou-se e, com a noite escura, foi adormecendo,
Calafrios de luz atravessam a escuridão que olhos julgavam passageira,
Da luz do sonho, ao frio e à sombra interminável do desassossego da lareira,
   Vai o calor prometido e promessa de toda a luz que se deita e vai esmorecendo!...


Luz e calor na esperança de uma só promessa,
A luz forte que a descrença mais forte atravessa,
E o sombrio negrume intenso das promessas desfeitas,
Ao acordar da flor dos sonhos, florida nas promessas feitas,
E todas as flores caem do inverno sem fruto que regressa,
Cobertas pelo pez mais escuro das mais cegas suspeitas,
E, às cegas, voltar a acreditar na Primavera professa,
Do olhar das cegueiras em cegueiras refeitas,
     Que o olhar cego, ao Sol e à lua confessa!...

  
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sábado, 29 de novembro de 2014

Segue...


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Segue!…
Antes que a felicidade te cegue,
E a infelicidade seja o que reste,
Vai, e antes que o amor te pegue,
 E te arrependas do que fizeste,
Segue!...
Deixa-te levar pelo vento leste,
Esquece o sol que te persegue,
E deixa-o pôr-se onde se ergue,
Que a lua, seu luar te empreste,
E te lembre da jura que fizeste,
Foge de seres a mal empregue,
Despe-te da razão que quiseste,
Dá-te à razão que te entregue,
E seguindo-a, com a razão…
Segue!...

Segue!...
Até onde quem te segue conseguir,
Não pares para olhar o que não tens,
Atrás de ti segue o que está para vir,
Segue o sorriso que te vem a seguir,
  E, sorrindo, segue com quem vens!...
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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Adorável Tristeza Contínua


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Para ser feliz,
Só tinha todos os momentos de cada dia,
Achava que não merecia,
E foi por um triz,
Que em vez de ser o que quis,
Viveu triste como queria…
Deus estava-lhe cravado no sofrimento,
Jesus Cristo era um exemplo que a decorava,
Não tinha a certeza se era a sua morte que adorava,
Ou tristeza de viver a morte a cada momento,
E, abraçada ao seu tormento,
Ali ficava…
Rezando sobre duas chagas de joelho,
Dedicando suas lágrimas à água benzida,
Ao amargurado silêncio do seu espelho, 
   Que reflectia o triste rosto de sua vida!...
Mas as lágrimas, Senhor…
As lágrimas que não a deixavam ver!...
Era tanto o Amor,
A dedicação à dor,
O doloroso entardecer,
A languidez do louvor,
    O macilento amanhecer…
E, sem o saber,
A esperança e o temor,
Sempre à beira de enlouquecer,
 Com a fé na amargura do dia seguinte!...
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Hábito

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Ao vê-las veladas,
Não viu a velha ovelha,
As ovelhas levadas,
Uma vela levou,
Levada velou,
Viu uma abelha,
Uma abelha voou,
Viu o pelo ruivo,
Ouviu um uivo,
  E enviuvou!...
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Custo da Altiva Vez

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-Sou folha da árvore que sou,
Folha que cai dentro de mim,
Sou árvore nua que me vou,
Desta terra mãe onde estou,
     Deixo minhas raízes sem fim!...

Sou o Ser de meu ser com raiz,
Ser de ser Árvore e ser o fruto,
Sou o tudo ser do ser que quis,
Ser como ser árvore e ser feliz,
     Sou em Vida o meu verde luto!...

Fui Raiz enterrada ainda viva,
A causa de vida à existência,
Fui-me tão única alternativa,
    À minha vida verde de diva!...

Na sombra de minha demência,
Fui jejum de minha penitência,
Alimentei a minha raiz sensitiva,
    Com seiva de minha clemência!...
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-Era uma árvore altiva,
Vivendo à sombra de sua altivez,
Não era, amigo arbusto?...
-Sim, arbusto amigo,
Concordo contigo;
Sem sol que iluminasse sua pequenez,
Sua vontade de ser não foi impeditiva,
De tombar por falta de lucidez!...
-Diz-me, amigo arbusto,
Qual o preço a pagar pela altivez?..
-Sem ter a certeza de ser justo,
Há uma relação, talvez,
Na distância entre a raiz e altiva vez,
Quando lá muito do alto... e do susto,
Não ver suas raízes e cair,
Por desmesurado subir,
     A qualquer custo!...
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