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Haverá
mais poemas que estejam por vir?!...
Talvez um poema se revele no que vou vendo,
Talvez um poema se revele no que vou vendo,
Há poesia que, nas palavras, se foi
perdendo,
Palavras que deixaram de sentir,
Deixadas partir,
Com algum poema que o fosse sendo,
E com as suas palavras fosse crescendo,
Sentindo a saudade de nele prosseguir,
A saudade do silêncio e de o saber ouvir,
O não saber que do poema sabendo,
O saberia, sabendo como não sorrir,
Com as palavras fosse aprendendo,
Com as palavras fosse aprendendo,
E com o poema aprendesse a rir…
Rir de não saber o que se vai lendo,
Sem deixar de ler,
Sem deixar de mentir,
Mentir às palavras sentidas,
E deixar que nelas o poema as queira
esconder,
Fazer delas o que lhe apetecer,
Dá-las como perdidas,
Encontrá-las escondidas,
Na vontade de as conceber,
Senti-las vivas e atrevidas,
E vontade de as ter!...
Há sempre mais um poema à espera de
existir,
Todas as palavras desconhecidas existem,
Os sentimentos não desistem,
É sã, a carne viva da emoção de existir,
É tão viva a dor e o prazer da razão de
resistir,
Resistência à tentação dos vazios que
persistem,
Vazios que se enchem dos interiores persistentes,
E
no sossego do nada desejar em que insistem,
Nadas moles, atormentados e insistentes,
E
nada há que os faça desistir…
O nada dos nadas que do nada não querem sair,
E por nada que seja, sem nada, se deixam ficar,
Sem nada querer, ou não, e gostar,
De todos os poemas ausentes,
De todos os poemas ausentes,
Sem
nada das palavras esperar!...
Vagueando entre palavras sem rumo,
Entre costumários sinais de rumo certo,
Na certeza de rever-se num poema incerto,
E na sorte certa de perder-se num breve
resumo,
Leve como o desvanecimento de uma língua
de fumo,
Que se eleva nos leves braços doutro fumo
descoberto,
E
se esfuma na palavra cúmplice com uma leve ironia!...
Uma
baforada de cachimbo, lúdica e plena?!...
Um beijo e um olhar de melancolia?!...
Flutuando sem destino, desencontro-me do
tema,
Procuro-me no destino do tema vadio de
uma pena,
Escrevo o destino dos pássaros nas asas
de cada dia,
Dou asas à infância escrita nas asas de
minha fantasia,
Como se eu quisesse ser fumo que voa de
um poema,
Ser todas as palavras de um beijo que
bocas silencia,
Ser a criança beijada e ser o beijo que
me acena,
Soprado por quatrocentos lábios de poesia!...
Soprado por quatrocentos lábios de poesia!...
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Escreve-se um Poema. E muitos. Quatrocentos. Poemas que propõem o deslocamento através de Verbos livres da ação-reação. Verbos que traduzem um movimento que não são vencidos pelo tempo. Ou pela época. Permanecem e superam qualquer drama ou rumor, como um discurso de poder. Não se refere a enunciar uma verdade, ou revelar alguma obscuridade, ou mesmo refazer um percurso, mas àquele momento. O momento que cobra um posicionamento ou uma atitude, para dar visibilidade ao trajeto que foi proposto, senão outra finalidade, a de experimentá-lo. Ver, Ler, Ouvir, Sentir, Nomear e Escrever a partir de, na intenção do comentário é um desafio permanente à minha posição, ou lugar de origem. Uma vez dentro, por mais contraditório que possa parecer, impossível não se sentir fora.
ResponderEliminar“400 Poemas d'Alma” tem o sabor de toda a Poesia d’Alma. É sensível, criativo e estimulante. Não se trata de versos organizados como numa escala hierárquica, exclusivamente dependentes de outros, mas de um plano que segue uma fórmula exata. Ainda que o caminho seja sinuoso e imprevisível, como pensamos a princípio sobre qualquer Poema d’Alma, na contramão, a projeção de uma Vida inteira dedicada à Arte, sempre distante o bastante de qualquer individualismo. Pelo coletivo e pela coletividade, aqui, a honra é a moeda de troca.
Sou uma admiradora dos Poemas d’Alma. Não obstante, do movimento que eles me provocam, e do sentimento, de acolhimento ou de repulsa, que a Poesia faz fluir em mim. António Pina instigou meu interesse na medida em que não me pesava a responsabilidade de ser leitora, ou comentadora. Surpreendeu-me pelo posicionamento social e sensitivo. Foi, digamos, o meu primeiro contato com o mundo poético, ao mesmo tempo em que tão estranho, por tão ousado. E lá se vão quase 6 anos. A convivência com um mundo, não diferente, mas imaginariamente diferente, fazia toda a diferença em termos de preferência. O Poeta que eu julgava originariamente perfeccionista e preocupado com a estética, na construção das rimas e da dinâmica, revelou-se espontâneo. Era natural ser Poeta, ou poético. É natural! Mas a verdade é que enquanto A. desafiava o leitor a ser quem ele deveria ser, eu perdia minha ingênua posição de comentadora para ser devoradora dos temas, e, me permitindo seguir o trajeto da Poesia, me deixava ser levada pela emoção, procurando, e encontrando, uma justificativa para aquela história fazer algum sentido à minha vida. Tudo aquilo que ele teorizava eu trazia à minha vida e criava uma leitura de modo criativo. Por muitas vezes tive a certeza de que a Poesia, a sua Poesia d’Alma, tivesse me salvado. Além disso, à medida que passei a desenvolver uma leitura criativa, percebi que a humildade d’Alma era uma extensão de sua maneira de proclamar verdades absolutas sobre a forma heroica de Vida. Ou de se Viver. Para ambos. E senti vontade de me aprofundar em suas teorias. Qual o objetivo? Aquele ritmo presente em seus Poemas, afinal, que representavam?
Curiosamente, pouco tempo depois troquei todas as perguntas por uma única resposta: A cumplicidade. Ser leitora e admiradora da Poesia d’Alma implica em ser cúmplice daquele tema ou daquela dinâmica. O que A. Pina faz é dialogar com o leitor, é trazê-lo para dentro de suas razões. E tudo isso é feito com muito carinho. E amor. Como então não se envolver com seus Poemas? Como não admirar esse fazer poético capaz de concentrar todas as dificuldades e soluções num mesmo Poema? E então que a Luz se revela. Tão dourada que faz qualquer escuridão reluzir como uma manhã de primavera.
Que venham mais Quatrocentos.