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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Gelo do Fogo Posto

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É tão fácil culpar as chamas,
Pelo fogo que te vai consumindo,
É tão fácil ser livro feito de lindas flamas,
Livro que vai ardendo nesse fogo que amas,
Sem frases que, ardendo, fossem luzindo,
Por cada página que te vai consumindo,
    Ao abrigo do fogo que tanto clamas!...

É tanto o calor,
É insuportável o frio sem rosto,
São tão tristes as cinzas frias do amor,
  São tantos os corações vítimas de fogo posto!...
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Tempo de Ler-te


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É tempo de ler os livros que nunca li,
É tempo de abrir-me e aprender contigo,
Não sei se é tempo de encontrar o tempo que perdi,
Não sei se vou a tempo de ver o tempo que nunca vi,
É tempo de abrir tuas folhas e folhear-te comigo,
É tempo de seres livro que lê o que digo,
Não sei se é tempo meu que de ti,
   É o tempo que eu persigo!...

Tuas folhas que eu nunca virei,
As folhas que em branco se escreveram,
São folhas brancas onde as palavras se esconderam,
Procuro em tuas páginas o que tanto de ti nada sei,
Não sabendo se dentro de ti, te encontrarei,
Entre as palavras que se perderam,
  Palavras com que não fiquei!...

Quero-te livro aberto à minha leitura,
Quero que sintas cada palavra que de ti leio,
Tuas palavras sejam minha pronúncia em teu seio,
E te cubram, tomando teu corpo com ternura,
E se, porventura,
O prazer em ler-te que tanto anseio,
Puser fim ao fim de minha procura,
O teu fim será o melhor meio,
De ser esta minha sã loucura,
    De voltar a ler-te sem receio!...
                                                                
É tempo de continuar a escrever,
Este mesmo livro que nós somos,
E não sei se haverá maior prazer,
De sermos o que sempre fomos,
     Livro irresistível à vontade de ler!...
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domingo, 17 de junho de 2012

Mão Frias Coração Quente (cap.I- Coração Quente)


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…O pequeno bilhete vincado em partes multiplicadas, fora reduzido a um pequeno selo branco que escondia na perfeição, um beijo, um abraço, talvez todo o amor do mundo concentrado naquele discreto espaço que deslizou de mão em mão, até ao outro lado de um mundo muito particular, o seu em que o seu era dela e o dela jurara para sempre ser dele. Ainda pensou fazer um pequeno avião de papel; sobrevoaria as cabeças de todos os colegas de turma, arriscava uma gincana entre as longas e afiadas estalactites de gelo que pendiam do vão das rochas naquele Inverno muito seco e atrevia-se, corajosamente, a dar duas voltas à cabeça do professor, antes do pousar suavemente nas mãos mais delicadas. Sorriu, largou os comandos ultraleves do pensamento e confiou a mensagem ao bilhete onde um pequeno poema, quando fosse lido pela destinatária, daria asas à imaginação que nunca lhes faltara. A cumplicidade fizera-lhes férteis, os muitos caminhos do amor sem fim a explorar. Às vezes desmontavam a turma, colega por colega, amigo por amigo, e baralhavam as peças como se nunca as tivessem visto e um dos dois escondia uma delas, o delator ou professor, de preferência. Acabavam por derivar para a montagem do puzzle, de olhos fechados, servindo-se apenas do tacto concentrando todo o prazer na textura suave e apurada das pontas dos dedos e das impressões nas mãos que levemente os guiavam até à inevitabilidade merecida da sensação e sabor de duas línguas que se tocavam em pontas, antecedidas por um sedoso toque de lábios leves e quentes!...
O bilhete, ao fim daquela tarde invernia, fosforescia por cada mão que passava e se algumas serviam de sombra ao brilho estonteante, outras quase sucumbiam à tentação de contar os vincos das dobragens e seus segredos. Havia sorrisos cúmplices!... Olhando as estalactites da perspectiva do bilhete, brilhava uma sensação atrevida na pontinha mais afiada do escorrer lento, pela falta de água naquele inverno muito frio… um piscar cintilante, como se, também esse pedaço de gelo se derretesse por eles e lhes piscasse um olhar conivente!... E tudo se iluminou no olhar anoitecido que se fechou sobre o congelamento...
Frio desesperado a congelar o pensamento,
E todo o calor do inferno que vira nascer,
Uma centelha rendida ao momento,
De sentir na carne o desejo de arder,
Naquela fogueira de ansiado prazer,
Onde o fogo se congelava lento,
 Prolongando o Inverno… como se algo congelasse na memória um sentimento incandescente, capaz de cortar o vento mais arrepiante!... E as arcas congeladoras davam sempre jeito.
 Desde as almas rubras de quem se merece,
Ao desejo carnal das paixões merecidas!...
Alguém leu a mensagem, sem que ele o quisesse,
E clamou a intimidade apaixonada de duas vidas:
“No frio de nossa noites mais aborrecidas,
Dormirei por ti teu sono que me adormece,
Serei teu gelo que derrete quando acontece,
Seres o Sol de minhas noites adormecidas,
Fogo de minhas confissões correspondidas,
Confessando teu amor que em nós cresce…
Como se as vezes do amor não fossem repetidas,
E sempre pela primeira vez o amor se fizesse!...”
Todos riram, uns por acharem ridículo o conteúdo, outros porque a única coisa que os enchia era um riso de corações vazios e todos riam porque o professor ria daqueles dois clássicos “nerds”. Alguns congelaram de riso e uma gargalhada mais pungente abafou-se em silêncio, cravada que fora pela mais sólida estalactite guardada na desdenhosa frieza do ciúme mais impensável!... Porque há coisas que têm dessas coisas e outros mistérios bem escondidos entre a diferença do que pode ser revelado e o que, por razões fracas, prefere o segredo íntimo do medo por uma possível rejeição à frente dos olhos de todos!... O riso, quanto mais divertido, mais humilha o alvo.
Ele há coisas surpreendentes e como se de um filme já muito gasto de amor se tratasse, o bilhete foi devolvido ao remetente e entregue entre os lábios de um longo beijo, ali mesmo, à frente de todos, como tantas vezes, enquanto o resto da sólida e afiada água escorrida se derretia no final do Inverno!... Os aplausos cobriram-nos e ele lá a cobriria mais tarde!... Um final já muito batido de um filme para adolescentes. A noite fazer-se-ia de tristeza melancólica evoluindo para uma raiva impassível de efervescência metabólica. Um calor que chegava a ser desprezível… a coberto da noite!...
Gélida é a noite insensível,
Que encobre sua sombra diabólica,
Escorrendo da lâmina de uma faca invisível,
Fria, hirta e afiada…
Ferida negra de ódio terrível!...

Ninguém se lembrou da Primavera que começara e já a universidade espreitava os melhores finalistas, depois de doze anos a moldar-lhes o carácter e o espírito!... Sentia-a, cada um à sua maneira que era comum a todos. As flores, com todas as suas cores, passavam desapercebidas e algumas só existiam para ser esmagadas por corpos que se rebolavam sobre elas, em desfloramentos incontidos, porque há uma primeira vez para tudo e, embora as flores não crescessem na regra, os apetites adolescentes não faziam parte de qualquer excepção!...
Em diversos casos, o amor costuma começar no fim de cada ciclo e quando a Primavera é Primavera, a adolescência desabrocha e floresce do coração e desejo quase incontrolável das mais estranhas criaturas, hipnotizadas por toda a natureza… e tudo é beleza irresistível a exalar os ácidos estonteantes da frescura do sexo fresco que arde na denúncia de oferecer-se ao apaziguamento!...
No fim da tarde, o gimnodesportivo tornava-se um espaço um tanto sombrio!... Sexta-feira, último dia da semana e última aula do dia; cansativo ao entrar e mais ainda ao sair!... O andebol era-lhe extenuante e ela não tinha grande inclinação para levar com as bolas em tudo que era corpo. Sorria ao pensar noutras bolas a baterem-lhe noutras partes e ninguém lhe lia os pensamentos, o que a fazia sorrir mais ainda. Sentiu falta do seu diamante, como ela o chamava, por o ter como puro e duro. Riam-se com a cumplicidade de sempre quando ela lhe sussurrava uma pontinha de língua, quente e húmida, no ouvido, arrepiando-o!... 
Naquele dia sairia mais cedo para uma consulta no dentista e regressaria antes do fim da última aula, para a levar à estação de camionagem. Ela vivia noutra cidade. Aproximavam-se dois longos dias de fim-de-semana, longe um do outro. Dois dias sem beijos nem apaziguamentos!...
Era decepcionante a falta de aptidão para a educação física, mas o sonho de entrar em medicina e vir a ser uma médica reconhecida, enchia-a de coragem. Um dia, aquelas correrias disciplinadas talvez deixassem de contar para a média final, pensou enquanto, exausta, se chegou até á arca frigorífica que sempre estivera lá no fundo, a um canto do pavilhão. Todos os professores de educação física, relutantes no princípio, lá acabavam por concordar que dava muito jeito ter gelo sempre à mão, por causa de contusões e outros traumatismos do género. E havia sempre água fresca para arrefecer alguns ânimos mais exaltados nas derrotas ou pela sede de vitórias. Um problema qualquer fazia com que congelasse muito rápido, qualquer líquido que lá guardassem, por isso, um dos alunos era sempre destacado para controlar o tempo, não fossem as garrafas de água congelar!... Por assim dizer, a frescura e o calor eram seu suporte, como se...
Dois corações e uma só batida!...
Por cada batimento mais forte,
Debate-se com o bater da sorte,
No desencontro da flor abatida,
Bate mais forte na flor da vida,
Que vai ao encontro da morte!...


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(Continua...)