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Estranha, estranha, esta gente,
Estranha, ainda que nem tente,
Ser o que por estranheza não é,
Ser palavra de Deus com pouca fé,
Nem tentar sentir o que não sente,
Sentir-se ser mar sem uma única maré,
Enfrentar de costas o que vem pela
frente,
Como velho veleiro sem leme e sem velas,
até,
Nem tentar ser o vento, do seu propósito
ciente,
E ali deixar-se afundar em águas supostas de ter pé!...
Estranho o quadro salpicado de pintas,
Cada pinta contagiada por salpicos sem
cor,
Estranha, a forma informe e o apaixonado desamor,
Dos refúgios em tristes quintais pintados às quintas,
E das quintas como qualquer dia ou seja o
que for
Dias
de pintores que estão-se para as tintas!...
Estranho, esse estranho romantismo,
A contemplação da lua no céu iluminado,
Estranha, cada estrela que revive do
abismo,
E das lendárias luas iluminadas pelo
erotismo,
Do desencanto de mais um príncipe
encantado,
Que cavalgava nas frigideiras de fundo
anoitado,
E nalgumas histórias de romântico
simbolismo,
Onde só na noite brilhava um ovo estrelado!...
Como estranhar as barbas sem pelos,
Se tão estranhos são os dourados desvelos,
Dos descabelados ourives de cabeludo
couro,
Ao descobrir que nem tudo que brilha é
ouro,
E procura um barbeiro que já pelos
cabelos,
Cortara
o mal pela raiz do mau agouro?!...
Por sorte,
Cortaram-se à morte,
E lá se enforcaram com as que à vida se
fizeram,
Outros ourives falam que outros barbeiros
houveram,
Que subiram na estranheza da vida à custa
do pulso forte,
Pulsos como os de ourives que todo o ouro
tiveram,
Quase dourados e de tão verdadeiro
recorte,
Já fartos com o que nunca souberam,
Abandonaram o estranho porte,
E, estranhamente, se detiveram!...
E é Deus tão estranho nos pregões dos fiéis,
Tão estranho é o pregão na vaidade do narciso,
Coroado por si mesmo com a bênção de cordéis,
Têm Deus sempre presente no discurso muito liso,
Mas quando o verdadeiro calor humano é preciso,
Quando muita doença e a fome são destinos cruéis,
Escondem-se nos estranhos bolbos, os ricos anéis,
Oferece-se Deus dos ocos com estranho sorriso,
E a sorrir, com Deus na boca, se sentem Reis!...
Estranha, esta gente,
Com o pão sempre escondido,
Comungando como quem mente,
Egoismo vaidoso de si, e só de si, ciente,
Aceita o divino título a si, só por si concedido,
Encontrando-se em cada pensamento perdido,
Para acabar por ser esquecido, estranhamente!...
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