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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A Nobreza das Mãos e das Línguas (ou dos cus)

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De sujar suas ávidas mãos,
Há quem de muito nunca se farte,
Gente muito fina de escrúpulos vãos;

Há em cada mão cinco ímpares irmãos,
Por quem, muita porcaria, a mão reparte,
Limpam o belo cu aos ricos, estes cortesãos,
    Para quem lamber ricos cus é uma arte!...

Gente fina de muita fineza,
Capazes da excepcional proeza,
Limpam magras carteira aos pobres,
Sem nunca deixarem de ser nobres,
Na arte de semear a pobreza!...

Que ninguém os roube,
Que ninguém ouse enganá-los;
Houve quem enganá-los não soube,
Alguém que soube como acusá-los,
A justiça, de tanto em si não coube,
    Lambeu-os e mandou libertá-los!...

Há línguas que me levam ao vómito,
Há lábios lambuzados com tanta graxa,
 Que há sempre aquele merdeiro que acha,
Ser o exemplo do puro-sangue indómito,
    E, apesar de ser merda, limpo se acha!...

Se para cada empregado, há um certo patrão,
Quem de vocês não conhece rastejantes assim?...
As línguas folgadas na trampa respondem que não,

   Os que trabalham por todos eles, dizem que sim!...
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Veto do Parto


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As parturientes,
Cerram os dentes,
Sem saberem que não vão parir,
A estéril parteira não para de rir,
Vê terra fértil vazia de sementes,
E fértil em iludir,
Anuncia o florir,
De vetos latentes,
    Prestes a eclodir!...

Só queria que tua alma me visse,
Com os mesmos olhos com que te vê,
Olha o pedacinho de terra no meu porquê,
Só queria a semente que de ti em mim surgisse,
Que fosses a resposta merecida, à minha mercê,
     E, crescendo à mercê do meu sorriso, sorrisse!...
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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pombas... (A Inconsciência da Fome)

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Cultivado na intenção caiu um grão de milho,
E logo alertou a fome duma pomba sorrateira,
Silenciosa caminhou ao longo da calada caleira,
Sob as telhas expostas à sombra da fome do filho,
As penas que escondiam o esfomeado empecilho,
Alimentavam os olhos de uma ocasião matreira,
Conforme revela um ladrão, incendeia o rastilho
    Caiu a pomba infiel aos pés duma fisga certeira!...

Os pombos solitários andam por aí desorientados,
Enjeitando sujas pombas brancas desempregadas,
Negras nuvens de negros abutres voam carregadas,
Trazem as sombras vorazes dos apetites insaciados,
Chuva vermelha cobre a fome de pássaros apeados,
Pombos desarmados abandonam pombas armadas,
Esquecidas das brancas penas de seus voos amados,
     Caídas em cinzas negras de velhas searas queimadas!...

Se por ocasião das colheitas preciso for,
Virão corvos brancos e pacíficos falcões,
Flores vermelhas e os cravos de outra cor,
Cortar o pio medroso de outras ocasiões,
Com dois afiados gumes das expressões,
    Sulcadas na cegueira da fome com fervor!...

Deixaram-se esguiar as asas da liberdade,
Sucumbiram as pombas proibidas de voar,
É tão diferente o céu no inferno da realidade,
Reais diferenças entre a diferente igualdade,
   De ver livres pombas deixarem-se arrastar!...

E é nos ninhos abandonados de filhos sem nome,
Que leio cortes nas asas daqueles que não sabem amar,
Apenas porque lá no alto voam os que não ensinam a lutar,
    E toda a coragem das penas foi caindo na inconsciência da fome!...
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