domingo, 1 de junho de 2014

As Cruzes no Abutre


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Desprezo e dó,
Político e abutre de carreira,
No olhar habitual da sua cegueira,
Amassa-se na lama e faz-se pão de pó,
Rodeia-se de mais abutres e nunca está só,
Ondula ao vento com as cores de uma bandeira,
     Dá dura terra a comer e vende-se como pão-de-ló!...

De toda a terra já comida e de muito do mar sugado,
Chegada que foi a vez, do corpo dar sua carne a comer,
Exigiu-se todo o açúcar do sangue e muito suor salgado,
Esse abutre, ao doce sabor do povo sempre habituado,
Estranhou a liberdade de consumo incapaz de se deter,
Apelou a mil diligências e todos os formulários de poder,
Voaram papéis da ordem do seu papel e foi desprezado,
    As cruzes derrotadas viram os quadrados vazios vencer!...

Um abutre comeu menos e outros abutres comeram mais,
Todos os abutres comeram da mesma carne mais popular,
O abutre que menos comeu vê um abutre a quem culpar,
Disfarça-se de pardal e nega os secretários gerais,
Esperam mais carne do povo, os pardais;
Já não se abstém o povo de ver os abutres pairar,
Votam no desprezo em urnas consensuais,
Nulos e brancos são abutres a debicar,
 As cruzes de nulidades mentais!...    
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1 comentário:

  1. Sem lugar para a esperança ou o sonho, “As Cruzes no Abutre”, Poesia de expressão político-social e compromisso histórico, representa o estágio mais profundo do lirismo sensível de A. Pina diante do resultado das Eleições Parlamentares Europeias de 2014.

    Acostumada a identificar a Poesia d’Alma como o resultado das confluências de determinado contexto político e sociocultural, e, passível de ser considerada como intervenção social e política, neste Poema, por meio de associações, metáforas e comparações [“As cruzes derrotadas viram os quadrados vazios vencer!...”], a alternativa estética, por ser fruto da experiência, da vivência e, sobretudo, da habilidade intelectual para transformar a realidade mascarada de democracia, a consciência cívica é a sua própria negação, ou abstenção.

    Confrontando a ambição burguesa [“Um abutre comeu menos e outros abutres comeram mais,”] à gula dos ‘pardais’ que recolhem migalhas no solo [“Esperam mais carne do povo, os pardais;”], a Arte poética e o ofício crítico são fomentos para a indignação.

    E o Poema tem o poder de fazer-se eleito sem nunca ter sido candidato. Só assim, permanece registrado, mesmo que apenas nos versos e não na história, o desespero destes desafortunados eleitores que, ainda, acreditam no poder do voto.


    Boa semana.

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