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Dentro de
si,
O sangue
corre fora de ti,
Arrefece
os caminhos para o peito,
Excluíste
do teu coração, o calor e o respeito,
Exclusão
que dentro dos excluídos eu vi,
Incluída fora do pensamento desfeito!...
Vejo-te
viver sem qualquer razão,
Respiras
caminhos que não sentes,
Vejo-te
viver em anuente exclusão,
Há um
caminho ao qual tu mentes,
Vejo-te
viver sem coração!...
Só vês
caminhos recalcados,
E te
decalcas em passos perdidos,
Apenas
consegues ver objectivos repetidos,
E antes de
chegares aos milagres imaginados,
Vais
perder-te entre vivos caminhos truncados,
Onde a
esperança dos teus olhos desfalecidos,
Pela
esperança dos seixos da vida cegados,
Acaba entre sonhos nunca cumpridos!...
Nunca
observaste a vida nos caminhos,
A meta
brilhava com uma intensidade maior,
Não viste
a exclusão dos que caminhavam sozinhos,
Nunca te
deste conta de um caminho melhor,
De todos
os caminhos escolheste o pior,
Caminhar sem sentires os espinhos,
Nem a flor regada com o teu suor!...
As velas iluminam a triste cegueira,
Os olhos vão derretendo à vista das velas,
Há uma luz divina que, de muito longe, se abeira,
Entre a luz dos olhos e a da alma há uma fronteira,
Ninguém cruza o limite de suas lágrimas singelas,
Enquanto ardem os pecados em cada uma delas,
A cera vai cobrindo uma arrefecida vida inteira,
Que se derrete à luz das coisas mais belas!...
Um sorriso
cheio de luz,
Mães
acolhedoras à luz do dia,
A luz que
ilumina o caminho da cruz,
Os passos,
as Mães, a caminhada macia,
A
humildade que não se enfastia,
O Pai e o Pão!...
A partilha e a razão,
A partilha e a razão,
O amor que
não se esvazia,
Todos os
caminhos do coração,
O sangue
livre, de uma vida sadia,
Todas as
luzes sem ilusão,
A luz
nunca tardia,
Nunca a exclusão!...
Nunca a exclusão!...
Ler e permitir que o Poema “Exclusão do Olhar” ganhe sentido e razão à identificação que se supõe, é o meu primeiro desafio.
ResponderEliminarA imagem, ainda que seja significativa e de alguma forma, o compreenda, não é uma cópia fiel do objeto. A imaginação é, ao mesmo tempo, cópia e original. Cópia, enquanto criação. E original, enquanto substância. E o desafio não consiste apenas em separar o invisível do visível, ou a criatividade da realidade, mas em agregar à criação a organização perceptiva. A prática poética comporta na aparência a estruturação de duas forças contrárias, mas heterogêneas, em perfeito equilíbrio com a dinâmica: a luz e a escuridão. A chama sobre uma santa e sob os olhos marejados de uma criança representa a atenção que A. Pina dá ao tema, um olhar sinalizador e esclarecedor, ao mesmo tempo em que puro.
Diante dessas descobertas, grande parte do meu desafio já foi vencido. Mas ainda resta um caminho, a tal dinâmica do deslocamento, e onde esse percurso pode me levar.
O movimento poético, em oposição ao título, consegue, na minha cegueira, iluminar o trajeto e se destacar à luz de uma cultura cristã e incluente. Mediante tal revelação, minha estratégia de abordagem é buscar as contradições binárias, ou o fundamento em torno do qual se produz a sensibilidade da Poesia d’Alma. E, encontro, quase sem querer, num processo repentino, à leitura de uma caminhada de fé, e disposição, que essa Poesia se dá nas margens, ou nas fronteiras, numa espécie de experiência limítrofe entre a Arte e a vida; fé e descrença; razão e coração; humanidade e desumanidade; fogo e água. Afinal, o caminhar para o conhecimento e para o entendimento do mundo, nem sempre se dá por vias diretas, ou fáceis, nem precisa ter uma ligação com o cristianismo. Às vezes, basta que seja simplesmente uma representação, que pode ser através de uma imagem, ou muitas, ou mesmo uma Poesia, inteira ou não, ou um verso ou dois: “Entre a luz dos olhos e a da alma há uma fronteira, / Ninguém cruza o limite de suas lágrimas singelas,”.
Por ser criativa, a imagem, mesmo assim, não é um componente de mera ilustração: Há uma história a ser contada, e um passado a ser relatado. E nada melhor que a Poesia d’Alma para preservá-la como presente e provocar o futuro que nos aguarda.
Boa semana, A.