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terça-feira, 12 de setembro de 2017

HOSPITAL (Familiar Cais do Inferno)

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Mais, sempre mais,
Espera a morte no cais,
Veste-se a morte de timoneiro,
Vende salvação a troco de dinheiro,
Por dinheiro anestesia a dor viva dos ais,
Pode ser médico ou santo milagreiro,
Ou, aos médicos das barcas, iguais,
    Iguais ao desprezo de enfermeiro!...

Azar da sorte a quem o azar calha,
Calha a quase todos, sempre cedo,
Mataram o “olha que Jesus ralha”,
E, qual esperança feita de palha,
Há o inferno que mete medo,
Fogo que arde em segredo,
Chama, inferno e mortalha,
Condenação ao degredo,
    Ai, que Deus lhe valha!...

Fardas inocentes de mau agouro,
Batas brancas de branco imaculado,
Alimentam o insaciável comedouro,
É o infeliz doente mal alimentado,
Com o destino nunca imaginado,
    Com que alimenta o matadouro!...

Há um espectáculo que distrai,
Assiste uma plateia de doentes,
Há mais um doente que cai,
Riem Estados entre dentes;
Filhos, de alívio suspiram,
Da sua ingratidão muito rentes,
Juram que seus doentes nunca viram,
E, se por tão abandonados eles caíram,
Levantam-se os filhos, de suas culpas ausentes,
Silenciosos, agradecem aos carniceiros confidentes,
    Que, com eles, a morte do fardo consentiram!...

Mais, sempre mais,
Em cada hospital há um cais,
Onde, na barca, aguarda o barqueiro,
Que, a troco do tão sujo e vil dinheiro,
Leva para o inferno os derradeiros ais,
     Antes que a salvação chegue primeiro!...
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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Fogo de Árvores ao Vento

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Todas as árvores do mundo de todos os montes mais altos,
Amantes do vento que todas as árvores, sem ciúmes, amava,
Murmuravam histórias de cinza que o vento quente soprava,
Falando da morte de todas as florestas em todos os planaltos,
E da respiração dos homens, queimada em inumanos assaltos,
Perpetrados por um assassino que seu próprio filho matava!...

Árvores, por breves momentos de luto, em agonia,
Entre brumas de traição e o inferno que as consumia,
Choravam lágrimas de cinza ao ver o seu amante, o vento,
Soprando o amor que transformava numa infernal ventania,
Daquele amante que, pelo amor de suas amantes sedento,
Continuava a amá-las tanto, quanto do fogo era o sustento,
  Sem compreender que, por tanto amor, ambos destruiria!...

Há um código gravado numa misteriosa linguagem, à parte,
Que o post-scriptun da NASA só induz aos públicos ladrões,
Descodifica a imortalidade no frio sem escrúpulos de Marte,
Conservando os genes intactos para escolhidas ressurreições,
Àqueles que destruíram planetas azuis e seus verdes pulmões,
   Exibindo seus crimes em ricas galerias, como a mais bela arte!...

Depósitos inflamáveis de comerciais intentos mesquinhos,
Trespassam a feição dos ventos que rasgam céus queimados,
E metáforas negras serrando veios nos anéis de valiosos pinhos,
Com fumo negro da energia renovada entre fogos cruzados,
Que assinam de cruz secretos contratos de olhos fechados,
Sobre rescaldos recortados no tição dos caminhos!...

Por todas as árvores inocentes do mundo,
Há mundos estranhos de gigantes ventoinhas,
Cobrindo os altos montes de um vazio profundo,
Despojados do seu respirar humano e fecundo;
Falam de mágicas varinhas,
Com poderes nobres de rainhas,
Mas são os reis de poder rotundo,
  Donos da morte das andorinhas!...

Há cada vez mais Primaveras de luto intenso,
Há ventos nascidos assim, para serem amantes,
Oferecendo verdes sopros de afagos estonteantes,
Às verdes árvores nos altos montes e ao contra senso,
Das ventoinhas, essas substituintes do arvoredo imenso,
Que fora amado pelo vento em todos os instantes!...
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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Maio das Flores e as Cores do Vento

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Via em cada partícula de cada pétala de cada flor, por mais pequena que Deus a tivesse feito,
Uma flor total e única, como todas as flores que se despediam da árvore ou do seu frágil caule. Deixavam o fruto que abraçaram conforme Deus quis, hesitavam na brisa e partiam com o vento!... Via em cada lufada fresca de vento, um lago de fores que ás vezes floria num mar de pétalas de todas as cores suaves, diluídas num sereno mar de delicadeza melancólica… e via o rosto insólito de Deus, meigo, condescendente, perfeito, a repousar no oceano interminável da sua forma tão invisível quanto pleno de todas as formas que eu imaginava!...
E eu que de alguma forma, voava,
Levado pelo vento que me trazia,
Pressenti que Deus se desfolhava,
A flor única das flores que eu via,
E era esse o desfolhar que sentia,
   Por cada flor que Deus me dava!...
Um melro branco de frio, olhava-me sem medo e com medo de o ver fugir, parado e silencioso, oferecia-lhe o sorriso que a mim mesmo devia. E o melro, já preto, sorria… a princípio, talvez um sorriso amarelo e só depois, desfolhado do medo, libertava um lindo sorriso que continua por aí à solta, entre pétalas muito leves que o vento levou!... Os estorninhos sem sorriso amarelo, pétalas menores das mesmas flores e aquele grande corvo negro no batatal que nunca semeei, passeando entre a rama verde das batatas, passeando entre as suas luzidias penas pretas e o seu bico muito preto e forte, parecia mais flor do que as flores… e floria o seu contraste, como se tivesse uma consciência para ter a consciência disso!... Nunca o vi entre flores, não sei se por culpa das flores ou por qualquer florir acidental...  
Acidente, de propósito, provocado,
 Pela primavera em seu intenso estado,
De muito fazer crer no bico amarelado,
De um verdadeiro corvo no meu batatal,
Que não fosse um negro melro disfarçado,
De um corvo que se disfarçasse muito mal,
Julgando passar-se por um melro, tal e qual,
Como as flores de um jardim bem cuidado,
   Onde cada flor a outra flor pensa ser igual!...
Como as flores são diferentes!... Umas mais flores do que outras, por serem tão flores quanto outra flor é igual a outra flor que se sente mais flor!... Depois, vem a sensação de ser botão, dono de um par de casas trespassadas por agulhas, quando floresce… e desabrocha, incrédula, no momento em que tudo acaba, em que descobre o seu destino imprevisível e o destino do fruto que jamais conhecerá, em sua maturação mais sensível!...
E é cada flor tão invisível,
Tão visível às cores do olhar,
As flores proibidas de chorar,
Sempre de sorriso irresistível,
Até já não ser mais possível,
    Ser flor tão triste e disfarçar!...
O vento também floresce e veste-se com as mais leves flores que leva consigo. E essas flores, que começaram por ser uma brisa de pequenas malvas silvestres, lufadas frescas de narcisos orgulhosos de si e rodopios estonteantes de apaixonadas margaridas,
Fizeram-se vento, um vento forte,
Vento florido de tristes despedidas,
O adeus às cores das flores da sorte,
Rosas negras de saudade e a morte,
E todas as pétalas, perfume de vidas,
No perfume seco do vento perdidas,
E, por fim, a última flor, último corte,
A marcha fúnebre e lágrimas sentidas,
Um carro negro, das flores, transporte,
   Que carrega o luto das flores coloridas!...
Flores que todos os jardins cobrem, flores que hão de nascer e todos os jardins hão de cobrir... talvez todas as flores sejam terra, fresca e revolvida, de braços abertos à semente, às flores e ao retorno do processo orgânico, de onde todas as flores brotam depois de regadas com as lágrimas do adeus e da saudade e fértil sentimento que, lentamente, passa como passam as flores por cada momento!...
Serão passo flridos do passar lento,
O desabrochar da cor, o florir,
O ameno desvanecimento,
As cores do tempo,
As cores a fugir,
O lamento,
O sorrir,
O desalento,
Lágrimas e o sentir,
   Todas as flores e o vento!...
E, em Maio, todas as flores são uma flor única que oferece o fruto a quem nasce, e suas pétalas que acompanham a alma, cobrem a última viagem da vida que parte e fica nos jardins dos que ficam, como flores ainda mais flores, no coração de cada flor nascida para cuidar da cor e do perfume que na vida aconteceu...
E do perfume da alma não parte,
Como se aquela flor fosse pura arte,
Fruto do talento natural e da sedução,
E de toda a beleza, um natural baluarte,
    Capaz de fazer florir a beleza no coração!...
Depois... depois, despedem-se as cores que o vento leva, deixando atrás de si o que tantas
 vezes, da vida, levou enfeitado de flores que continuam a voar por aí... em nós!...
       
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terça-feira, 7 de março de 2017

Mimosas de Março ( Flores Tardias 3 )

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Nunca as mimosas sobreviveram tanto,
Revelam-se, dia após dia, mais viçosas,
  Vivas, aos olhos dos vivos, por enquanto,
     Sempre verdes as duradouras mimosas!...

Crescem as flores vivas dentro do corpo,
Dentro do corpo espalham-se as raízes,
Florescem flores no jardim quase morto,
     Fora do Jardim, brincam crianças felizes!...

A flor já é maior do que o cuidado jardim,
Há flores tuas que estão dentro de mim,
Raízes sacrificaram a beleza dos amores;

Todas as flores vão florescendo até ao fim,
Fora de si, florescem jardins dos horrores,
 E floresce o adeus: -Adeus meus Amores!...
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sábado, 4 de março de 2017

Mimosas de Março ( Flores Tardias 2 )


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E antes que eu morra,
Florirei mais uma vez,
Talvez ainda te ocorra,
Entre laivos de timidez,
A salvação!...
Mas, não…
Do viço à palidez,
Vai mirrando o coração,
Esvanece sua robustez,
    Tanta beleza em vão!...

O tempo das flores doentes é escasso,
Tão escasso quanto o delicado florido das mimosas,
E do movimento suave de suas flores graciosas;
Hoje é o quarto dia de Março,
Para as raízes do tempo sobra muito espaço,
Tempo que falta à suavidade das flores silenciosas,
     Que morrem sem sentir o calor terno de um abraço!...

O amarelo é de um verde suave,
De uma estranha suavidade forte,
Como o voo inocente da inocente ave,
    Que trás consigo a mensagem da morte!...

Voltou a neve e a beleza da brancura,
Ainda trás consigo o manto frio do Inverno,
Morrem as flores mimosas em fria amargura,
Mas não trouxe a esperança do milagre da cura,
    Com as flores das mimosas, se vão do seu inferno!...
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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Loucura da Morte Gravitacional

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Pela madrugada, logo a seguir ao almoço,
Levava consigo as pintas da cadelita que deixara na cama,
Gravitavam essas pintas até à boca dourada do velho poço,
Boca de um laço dourada onde se enlaçara, era ainda moço,
Profundo e cheio de céu com as cores da natureza humana,
Essa doce loucura que é amor e o amor de terna porcelana,
Onde pode ser servida a relatividade de um beijo insosso,
E a quebra prometida e jurada desde a carne até ao osso;
Uma brisa salgada acariciava a fina ideia de um pijama,
   Tão fina como a marca que lhe tatuara o pescoço,
E o momento nu em suspensão,
Na mesma madrugada que todos os dias se diluía,
O mar de sangue em ondulação,
Emquanto se afogava a emoção,
Todas as madrugadas e todo o amor se extinguia,
Pela madrugada, logo a seguir ao almoço, triste e fria,
Fibras de cánhamo, talvez refeição,
A corda e o laço apertado da rejeição,
De toda a luz do universo à mais ínfima luz sombria,
O último olhar da cadelita, em vão,
E cada pinta sua que à sua volta se desvanecia,
E por cada pinta, cada pinta permanecia,
No alinhamento do fim da sua ilusão,
As pintas, a memória vazia,
O vazio morto do coração,
Todo o amor que se ia,
E amorte da razão,
Ainda nesse dia,
    De contrição!...

Pela madrugada, logo a seguir à traição,
A pequena cadelita e os seus latidos,
Com suas pintas e seus gemidos,
E os gemidos de outra paixão,
Loucamente perdidos,
Fim louco da relação,
Últimos momentos vividos,
O sangue e a corda em sua mão,
  Pela loucura da morte unidos!...
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Mensageira e a Morte

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Ordenou-lhe que, por si, se adiantasse,
Que fosse à sua frente e cumprisse sua missão,
Ordenou-lhe que o último baque não roubasse,
Por mais vontade que tivesse e que a tentasse,
Teria de cuidar da última réstia do coração!...

Jamais alguém a convidou,
Mal vinda, fez-se convidada,
Sempre bateu à porta e entrou,
Por medo, quase ninguém a notou,
    É o fim do tudo e o inicio do nada!...

O mal inesperado já estava feito,
As primeiras lágrimas desferiram o corte,
Juntaram-se todas as lágrimas no peito,
Choradas pelo coração mais forte;

As lágrimas murchas, lençol do leito,
As súplicas a Deus e à maldita da sorte,
A revolta profunda de não haver o direito,
     De abrirem-se todas as portas à morte!...

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   Truz, truz…
     Já se foi a doença?!...
    Não que isso importe,
    Sou quem o medo pensa,
    Sou a…
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sem Medo das Palavras

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Desafiava a palavra mais forte,
Encarava-a de frente,
E, de repente,
Num golpe de fino recorte,
Sem perder o porte,
Desferia um golpe certeiro na língua da serpente,
Cortando-lhe o verbal veneno da bifurcada sorte,
Para que a crua verdade ficasse bem assente,
     No traje da vida e na nudez da morte!...

Assim viveu,
Sem medo das palavras ditas,
Sem medo do que sempre foi seu,
   A vida das suas palavras escritas,
      Palavras vivas com que morreu!...
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terça-feira, 19 de julho de 2016

A Paz da Consciência em Guerra

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Na guerra como nunca se viu,
Os deuses fazem guerra contra Deus,
A vida é derrotada como nunca se sentiu,
É o triunfo da morte e o adeus!...
Adeus… adeus…
Adeus deuses e Deus,
Até nunca mais ver,
Oh, crentes e ateus,
Já nada custa morrer,
Vivem os vivos por viver,
   Indiferentes à morte dos seus!...

Por cada vida milagrosa,
 Pelo admirável milagre da vida,
É a lenta morte, mais ambiciosa,
Antecipa-se à vida muito vagarosa,
    E triunfa sobre a esperança perdida!...

Que raio de vida é a tua,
    Tu que temes viver uma vida sem medo?!...
Levantas-te, de madrugada, muito cedo,
Cedo, sais da tua imunda consciência nua,
Como se te procurasses no lixo da rua,
    Lixo que te reveste sem segredo!...

Houve uma guerra que todos viram,
Há uma guerra que ninguém vê,
Está, da morte, a vida à mercê,
De ver, já os olhos desistiram,
    E ninguém confessa porquê!...

Ainda não te despeças,
A morte ainda vem a caminho,
Ainda estás vivo, não o esqueças,
 Vive a Vida, ainda devagarinho!...
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terça-feira, 29 de março de 2016

Hera de uma Era e a Luz

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Arriscando entre a luz em perigo,
Entregou-se à luz ténue da fresta,
Não era a fresta um cómodo abrigo,
Era o caminho que caminhava consigo,
Caminhos entre uma iluminada floresta,
Onde as árvores cresciam em festa,
   Natureza de um costume antigo!...

Espreitou a luz que a espreitava,
Trepou com a luz dos seus sonhos,
Entre trevas e pesadelos medonhos,
E o medo que atrás dela desmedrava;
Enfim, a luz e todos os rostos risonhos,
Não se despedira dos rostos tristonhos,
    Era tanta a luz que os sonhos iluminava!...
Uma luz imensa,
A vida expandida das fontes,
Lembrou-se da fresta, viu pontes,
Abriu suas folhas viçosas à recompensa,
Cresceu rapidamente até novos horizontes,
Até sentir um corte que a deixou suspensa,
Na luz que dela se ia esvaindo!...
Ainda sentiu suas folhas caindo,
Caía nas trevas ao corte da foice fria,
Era o sonho que pela fresta se ia,
O fim da única Primavera,
Triste fim de mais uma Era,
A liberdade em agonia,
Era a luz que morria,
Como quem espera,
O que sempre quisera,
    À luz livre de cada dia!...



“Todos os pecados são enterrados vivos,
Sepultados sem pecado, para viver in Natura,
Vivem alimentados pelos mais puros motivos,
    Das flores que crescem em cada sepultura!...”
  
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