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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Na queda de Jesus (Vazio de Deus)

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Nada é mais real,
Do que a incoerência,
Jesus passou a ser algo virtual,
E ninguém resiste à inconsciência,
Desse vazio de estranha influência,
Que esvazia o sentido do Natal;
Jesus começou a deixar de existir,
Bebem-se pecados pelo santo Graal,
Nada mais, d’Ele, parece persistir,
Há um abismo em pleno ritual,
Uma ceva sacerdotal,
    Dada a consumir,
        A uma fé digital!...

Como há de o Natal resistir?!...
Como há de resistir Jesus cristo,
Se, por podre causa de tudo isto,
Só os hipócritas jamais irão desistir,
De os condenados animais confundir,
    Com o virtual alimento previsto?!...

Deus já não existe,
Jesus foi um homem qualquer,
A Fé sobrevive na Alma que resiste,
 Não na mentira do venha o que vier!...
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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Fogo de Árvores ao Vento

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Todas as árvores do mundo de todos os montes mais altos,
Amantes do vento que todas as árvores, sem ciúmes, amava,
Murmuravam histórias de cinza que o vento quente soprava,
Falando da morte de todas as florestas em todos os planaltos,
E da respiração dos homens, queimada em inumanos assaltos,
Perpetrados por um assassino que seu próprio filho matava!...

Árvores, por breves momentos de luto, em agonia,
Entre brumas de traição e o inferno que as consumia,
Choravam lágrimas de cinza ao ver o seu amante, o vento,
Soprando o amor que transformava numa infernal ventania,
Daquele amante que, pelo amor de suas amantes sedento,
Continuava a amá-las tanto, quanto do fogo era o sustento,
  Sem compreender que, por tanto amor, ambos destruiria!...

Há um código gravado numa misteriosa linguagem, à parte,
Que o post-scriptun da NASA só induz aos públicos ladrões,
Descodifica a imortalidade no frio sem escrúpulos de Marte,
Conservando os genes intactos para escolhidas ressurreições,
Àqueles que destruíram planetas azuis e seus verdes pulmões,
   Exibindo seus crimes em ricas galerias, como a mais bela arte!...

Depósitos inflamáveis de comerciais intentos mesquinhos,
Trespassam a feição dos ventos que rasgam céus queimados,
E metáforas negras serrando veios nos anéis de valiosos pinhos,
Com fumo negro da energia renovada entre fogos cruzados,
Que assinam de cruz secretos contratos de olhos fechados,
Sobre rescaldos recortados no tição dos caminhos!...

Por todas as árvores inocentes do mundo,
Há mundos estranhos de gigantes ventoinhas,
Cobrindo os altos montes de um vazio profundo,
Despojados do seu respirar humano e fecundo;
Falam de mágicas varinhas,
Com poderes nobres de rainhas,
Mas são os reis de poder rotundo,
  Donos da morte das andorinhas!...

Há cada vez mais Primaveras de luto intenso,
Há ventos nascidos assim, para serem amantes,
Oferecendo verdes sopros de afagos estonteantes,
Às verdes árvores nos altos montes e ao contra senso,
Das ventoinhas, essas substituintes do arvoredo imenso,
Que fora amado pelo vento em todos os instantes!...
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Anuência do Fim do Mundo - Silêncio da Culpa e da Inocência


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Crianças desfilam em passadeiras rendadas,
Despidas da inocência até às rendas adultas das ligas,
O adultério embuçado de silêncio não lhes diz que foram violadas,
Transformando-as em sombra de silenciosas filhas envergonhadas,
Ainda antes que o sol despontasse nos olhos das jovens raparigas!...
Os pais anoiteciam no segredo do ciúme, demasiado cedo,
Mães, entregavam-se às noites da vergonha e do medo,
O silêncio da noite contava às filhas histórias antigas,
Histórias que se escondiam no silêncio das amigas,
E das lágrimas agrilhoadas ao mudo segredo,
     Atrás dos gritos das palavras amordaçadas!...
Hoje, já mulheres desesperadas,
As crianças continuam a desfilar,
Pais pagam para as namorar,
Mães são desprezadas,
   E proibidas de falar!...

Os pequenos lábios vermelhos desfilam, sensuais,
Insinuam-se os olhares perdidos nas cores do pecado,
Os aplausos entrelaçam-se em nós de laços carnais,
E antes que as crianças possam crescer mais,
   Já suas virgindades têm o destino traçado,
Com a anuência destes tempos brutais,
       Num banal espectáculo desgraçado!...
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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quasecaos diÉbólico


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As contas por pagar,
A cabeça tonta a doer,
O fim do mês para fatigar,
Anorexia do salário a enjoar,
Os pelos em pé e varas a tremer,
O que resta da força a desfalecer,
O vómito na boca cheia a sufocar,
Uma conta atrasada por resolver,
O carteiro e mais contas a chegar,
Voltas à cabeça de entontecer,
Frias vertigens a ameaçar,
E a febre!...
De repente, o estômago em alerta,
O gargarejar das tripas e o casebre,
-Ai, Deus me tenha a porta aberta,
O cu que até ao alívio se aperta,
Correr como uma lebre,
Diarreia certa!...

Cercado por extra-humanos para cá da terra,
Talvez o fantasma de um Neil Armstrong lunar,
E da pequena nave onde me puseram a sonhar,
Parece-me ouvir um ranhoso fedelho que berra,
Um cadáver já previsto disse que o iam incinerar,
Os extraterrestres socorrem com ares de guerra,
Um batalhão de luvas brancas está pronto a pagar,
Os herméticos sabem que sou um cão que não ferra,
Aproximou-se uma picada que me fez desconfiar,
E logo me apaguei!...
Um raio de sol e acordei,
Que raio teria acontecido?!...
Não sei se sonhei que tinha morrido,
Talvez tenha mesmo morrido, pensei,
Tentei levantar-me, meio entontecido,
Soltei um peido e por ali me fiquei,
O cheirete deixou-me divertido,
Mas voltou a diarreia comigo,
Mais um e me envergonhei,
Mais um arrepio sentido,
    Senti que me borrei!...

Uma televisão a um canto,
A notícia e uma estória malévola,
É sem grande esforço que me levanto,
Falam dos meus sintomas, para meu espanto,
Para uns, sou a pior bomba a rebentar de ébola,
Para outros sou vacina milagrosa, por enquanto!...

Há um esquálido médico com ar desprezivo,
A sua indiferença nada diz sobre o diÉbolico respectivo,
Da superfície do seu ameaçador silêncio, quer que eu acredite,
Eu sou a cura de marca e o genérico do ébola inofensivo,
Prescreve-me caldos de galinha e um anti gripe!...


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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Gaza


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Do céu, demasiado longe do paraíso,
Do céu, onde se erram as contas de fadas,
Chovem estrelas celestes com negro granizo,
A inocência de crianças morre de improviso,
 Jesus chora entre as crianças assassinadas,
Morrem as Mães em lágrimas afogadas,
Pais implodem-se com a perda do siso,
   Ao Êxodo das lágrimas encantadas!...

Tenta-se enfaixar a dilacerada gaza,
Em sangue de inocentes esvaída,
Com faixas de raiva incontida,
Mas só a vasa que vasa,
Agora sem casa,
     É permitida!...
Do fim do mundo falam do fim,
Falam do princípio da felicidade,
    Prestes a nascer do íntimo ruim!...

E se renasce do ódio a ruindade,
Os genocídios serão um festim,
   Para falcões cheios de maldade!...
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domingo, 18 de maio de 2014

Alumbramento dos Perfeitos


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Não negava ao olhar a vontade de se eximir,
Nos olhos estão as histórias que não se contam,
Outras histórias escondidas no olhar que quer fugir,
Não negavam o silêncio das histórias ficadas por ouvir,
Como olhos apagados que histórias de silêncio despontam;
Por cada silêncio, silêncios de outras histórias se aprontam,
E no vértice da pirâmide, um rádio não se cansa de difundir,
Paliam-se secretismos iluminados que não se confrontam,
Sobre a escravatura das pedras, o peso faz-se repetir,
     Esmaga-se a voz sob o silêncio que poucos apontam!...

Não negava o sonho ao vértice dominante,
Nem o pesadelo à esperança em futuros impossíveis,
Os olhares deverão ser hipnose de silêncios consumíveis,
O capitalismo obeso carrega o cume da pirâmide sufocante,
E, não obstante,
É leve a palavra livre escondida no olho do horizonte,
Longe do peso carregado pela oferta dos vícios aprazíveis,
E de outros vícios dados à felicidade da ignorância a monte,
E outras influências aos viciados mais suscetíveis…
Ácidos hipnóticos e a sucralose são irresistíveis,
Para lá da história dos olhos brota a fonte,
Nos rios dançam peixes invisíveis
Corre a água debaixo da ponte!...

Ainda por cima, e apesar de tudo,
Por cima das pontes e do controlado desalento,
O olho global move-se atento, num olhar de veludo,
Cega o resto da pirâmide que tem como escudo,
    É quase perfeito o poder do alumbramento!...

Não negava o silêncio no olhar,
Nem a nova ordem do encantamento,
    Assassina da velha ordem de o libertar!...
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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Caso Perdido

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Qualquer caso de saúde mental,
É caso para ser um caso perdido,
 O dinheiro é um caso pressentido,
Caso não o tenha é quase mortal,
E em caso da morte ter sucedido,
Sucede-se a óbvia relação causal,
Das causas ao efeito mais natural,
    De para morrer bastar estar vivo!...

Imagina-te bem vivo num caixão,
Há médicos à tua volta atenciosos,
As análises são casos espantosos,
 Das unhas encravadas ao coração,
Dos incríveis vírus muito famosos,
Até à cura por carniceiros zelosos,
Doutores da morte por prescrição,
Tão amáveis e de olhos carinhosos,
   Receitam a morte por procuração!...

Já fora do caixão onde estiveste,
A teu lado vai o caixão a enterrar,
À tua frente há uma porta celeste,
A única porta que nunca quiseste,
Aberta sobre ti convida-te a entrar,
Nas tuas costas há faturas a cobrar,
Dão-te toda a terra pelo que deste,
   Terra que pagaste e morres a pagar;
És um caso perdido,
Que médico algum quer encontrar,
O teu médico amigo,
Caminhou contigo,
Acreditaste que o sorriso te ia salvar,
Milagroso abrigo,
Mas, pobre condenado, até te matar,
Deste muito do que ele quis a ganhar,
         Esse simpático perigo!...
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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mãos Frias Coração quente (Cap.2-Corações frios)


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Um passo na direção do tempo que não morrera e um beijo ressuscitado nos lábios que os lábios mais abjetos do inferno evitou!...  
…Ardendo em convulsivas combustões de ódio,
Sentiu o prazer da repulsa e gritou!...
Uma profunda repugnância cáustica de sódio,
Escorreu sua alma dentro de quem a profanou,
Um pó muito fino que a brancura do tempo gelou,
Reencetava na ampulheta a memória do episódio,
E todo o tempo de que sempre fugira a alcançou!...

Quando o professor lhe fixara, por momentos, o olhar que a acordou para o pesadelo sentido, voltou todo o ódio carregado de desespero. Dentro de si, seu coração congelou e o fluxo sanguíneo fora interrompido por breves momentos, embranquecendo-a, como se um lençol de neve a cobrisse dos pés à cabeça!... Uma explosão dentro de si e seu sangue ferveu tomando-a num esmagador calor insuportável. Deslizou instintivamente, contornando a esquina da arca e entre alguns passos laterais, sentiu a parede do gimnodesportivo colar-se-lhe às costas; até à porta de saída, foi um pequeno salto para a velocidade do medo!... Não evitou as lágrimas que, silenciosas, beijavam seu rosto arroxeado. Lembrou-se da roupa, no balneário. Enquanto pensava numa maneira de lá voltar, sem ser vista pelo professor, reparou no silêncio do pavilhão; a aula, por alguma razão terminara mais cedo!... Havia uma entrada para o corredor que dava acesso aos balneários mas só abria por dentro, por causa de um problema com a fechadura e a entrada pelo polivalente desportivo, de onde há poucos minutos fugira!... Escondeu-se num recanto do hall, aguardando a melhor oportunidade para ir buscar sua roupa. Lembrou-se que as aulas terminavam às 18:30, mas os funcionários auxiliares só costumavam sair uma hora depois. Ainda que perdesse o autocarro que a levava para a sua terra, os pais não se importariam que alugasse um táxi. Esperou que todos saíssem sem a ver. Não queria ter de estar a dar explicações pela sua estranha saída no jogo de handebol. Depois de todos os seus colegas terem saído, aguardava ansiosamente a saída do professor. Minutos de eternidade angustiante. Os minutos iam passando e os nervos foram tomando-a até ao enjoo que lhe arrancou um vômito lá das entranhas. Correu para a casa de banho ali próxima, contendo um líquido azedo em sua boca. Enfiou a cabeça na sanita para vomitar nervos e dores de estômago!...
Lavou a boca e espreitou do medo de alguém!...
Frios silêncios escondidos na passagem de corredores,
Procuram sorrisos escondidos no rosto de ninguém,
Olhos angustiados vão ao encontro do que por aí vem,
Desconhecendo o Destino dos mais íntimos interiores,
Retalhados por afiadas facas de ódios e frios desamores, 
E o Amor que ao encontro do Destino não se detém,
Flutuando serenamente sobre sigilosos rumores,
Fechados na alma violada onde a dor se mantém!...

Os desencontros são caminhos diversos jogados ao acaso pelas mãos arbitrárias do Destino envolto em inocência, num tabuleiro onde a culpa se divide entre homens e mulheres, entre a culpa dos inocentes e a inocência dos culpados. Às vezes, o silêncio é o destino mais provável dos mais reprováveis destinos e o princípio de algo espreita sempre do alto qualquer de um fim incerto!... O gelo faz parte do jogo e o amor, para uns, justifica a vontade do vencedor nunca admitir que jamais vencerá, mesmo que a vitória dependa de quem nunca pensou o sentimento como uma competição de correspondência a conquistar, partindo do campo da derrota!...

Do gelo que se foi aguçando no escorrer da água,
Cresceu a vingança afiada no inferno gelado da mágoa!...
No fundo de um corredor que os olhos não vêm, ouve-se o varrer abafado, pela distância, de uma vassoura em tempos de poupança!... O silêncio percorre todos os corredores gravados na memória, enquanto um intervalo de tempo se esgueirou atrás do vómito regurgitado pelo medo!...
Em bicos de pés, fez-se sombra do passado para conseguir suas roupas no presente. Enquanto corria na direção dos vestiários, o som de múltiplas bolas ecoavam em sua cabeça, como se fosse apanhada entre duas explosões. Sempre correndo. Lembrou-se, a dado passo, que já se esquecera de correr; no handebol, aquilo não era correr, por falta de interesse e de queda e por cada queda a cada passo!...
Pegou sua roupa do armário aberto e continuou a correr. Não voltou por onde veio e, instintivamente, entrou no gimnodesportivo; era só atravessá-lo e respiraria de alívio!...
À altura de sua ansiedade,
Levantou sua mão suada,
Abrindo a porta à realidade,
Frio de gelo o choque com a claridade,
Tão fria quanto a mão gelada,
Que apertavam os pulsos da desgraçada,
E ali ficou por momentos,
Estátua de gelo feita de congelados pensamentos,
Até encontrar o oxigênio e a combustão adequada,
Que incendiou seu coração com mil fundamentos,
Todos os fingimentos,
E o sorriso fingido de criança encurralada… renasceu!..

-Desculpa, pensei que era um ladrão; dizem que andam por aí a assaltar escolas.
-Senti-me mal e fui à casa de banho. O professor tem as mãos tão frias!!...
-Mão frias coração quente…
-Já estou atrasada; não quero perder o autocarro. Com licença.
-Espera…
Enquanto mantinha o diálogo possível, escapuliu-se subtilmente até ter o campo aberto. A porta de saída estava a pouco mais de cinquenta metros.
-Se quiseres eu levo-te a tua casa no meu carro.
-Não, não é preciso, vou chegar a tempo.
Ela olhou a porta, lá no fundo de si, no fundo de tudo!...
Há portas que ninguém quer ver e outras que nos escancaram toda a verdade, por onde muito poucos querem entrar e, dos que entraram, poucos saíram. Mesmo esses, continuam a ver portas abertas lá num fundo inatingível de tudo, as mesmas que se fecham atrás de si, empurrando-os para o meio de nada, onde um espaço vazio se faz glaciar!... Há saídas que são apenas uma entrada para o que os olhos não querem ver. Há sempre uma arca congeladora no canto de cada um, variando no tamanho e intensidade do que congela. Por enquanto, a dela, era microscópica e envolvida por fogo intenso alimentado por raiva, repulsa e muito medo!... Mas, num ápice, tudo pode mudar.

Um corpo conhecido que fora seu,
Repousado sem vida a um canto,
Olhava da morte que a vida lhe deu,
A morte que agora congelava o pranto,
Das lágrimas congeladas de espanto,
Retidas na morte que o Destino teceu!...

Ajoelhada, contemplou piedosa, seu amor, fonte de sangue jorrado do coração da nascente, ainda um tanto de nada quente!... Um rio se alargava e se tornava cada vez mais claro como água.
Ela olhou a arca, ambas frias, mais geladas do que nunca, congeladas, uma apenas por dentro e outra apenas no coração e por fora do olhar cortante. Abriu a porta da congeladora horizontal e viu…
Quão gélidas podem ser as noites insensíveis,
Que encobrem sua negra sombra diabólica,
Escorrendo da lâmina de geladas facas invisíveis,
Frias, hirtas e afiadas…
Feridas de morte por tanto ódio terrível!...

Dois corpos frios, declives rochosos, por onde escorre a água de um Inverno seco, agora sem estalactites!...

Olhou o relógio. Perdera o autocarro que a levaria para a sua terra. Os pais não se importavam que ela alugasse um táxi.
-Já vai menina?
-Já sim, senhora Maria!...
-Dê cá um beijo, menina!...
-Sim senhora!...
A senhora Maria, que arrastava a vassoura, pegou-lhe nas nãos enquanto lhe dava dois beijos de despedida e lhe desejava um feliz fim-de-semana.
-Tem as mãos tão frias, menina!!...
-Mãos frias, coração quente...
-Amor para sempre,- completou dona Maria!...


E dois cadáveres unidos pela morte,
Viveram um amor de calor diferente,
Ao lado de um corpo ainda quente,
Um corpo já frio adivinha-lhe a sorte,
Vai derretendo o gelo de um golpe forte,
De dois corações jorra abundantemente,
Água do crime e sangue que não mente!...

Com afiadas estalactites de dor, 
Gelo de Inverno acabou com o Amor!...

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FIM