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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Maio das Flores e as Cores do Vento

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Via em cada partícula de cada pétala de cada flor, por mais pequena que Deus a tivesse feito,
Uma flor total e única, como todas as flores que se despediam da árvore ou do seu frágil caule. Deixavam o fruto que abraçaram conforme Deus quis, hesitavam na brisa e partiam com o vento!... Via em cada lufada fresca de vento, um lago de fores que ás vezes floria num mar de pétalas de todas as cores suaves, diluídas num sereno mar de delicadeza melancólica… e via o rosto insólito de Deus, meigo, condescendente, perfeito, a repousar no oceano interminável da sua forma tão invisível quanto pleno de todas as formas que eu imaginava!...
E eu que de alguma forma, voava,
Levado pelo vento que me trazia,
Pressenti que Deus se desfolhava,
A flor única das flores que eu via,
E era esse o desfolhar que sentia,
   Por cada flor que Deus me dava!...
Um melro branco de frio, olhava-me sem medo e com medo de o ver fugir, parado e silencioso, oferecia-lhe o sorriso que a mim mesmo devia. E o melro, já preto, sorria… a princípio, talvez um sorriso amarelo e só depois, desfolhado do medo, libertava um lindo sorriso que continua por aí à solta, entre pétalas muito leves que o vento levou!... Os estorninhos sem sorriso amarelo, pétalas menores das mesmas flores e aquele grande corvo negro no batatal que nunca semeei, passeando entre a rama verde das batatas, passeando entre as suas luzidias penas pretas e o seu bico muito preto e forte, parecia mais flor do que as flores… e floria o seu contraste, como se tivesse uma consciência para ter a consciência disso!... Nunca o vi entre flores, não sei se por culpa das flores ou por qualquer florir acidental...  
Acidente, de propósito, provocado,
 Pela primavera em seu intenso estado,
De muito fazer crer no bico amarelado,
De um verdadeiro corvo no meu batatal,
Que não fosse um negro melro disfarçado,
De um corvo que se disfarçasse muito mal,
Julgando passar-se por um melro, tal e qual,
Como as flores de um jardim bem cuidado,
   Onde cada flor a outra flor pensa ser igual!...
Como as flores são diferentes!... Umas mais flores do que outras, por serem tão flores quanto outra flor é igual a outra flor que se sente mais flor!... Depois, vem a sensação de ser botão, dono de um par de casas trespassadas por agulhas, quando floresce… e desabrocha, incrédula, no momento em que tudo acaba, em que descobre o seu destino imprevisível e o destino do fruto que jamais conhecerá, em sua maturação mais sensível!...
E é cada flor tão invisível,
Tão visível às cores do olhar,
As flores proibidas de chorar,
Sempre de sorriso irresistível,
Até já não ser mais possível,
    Ser flor tão triste e disfarçar!...
O vento também floresce e veste-se com as mais leves flores que leva consigo. E essas flores, que começaram por ser uma brisa de pequenas malvas silvestres, lufadas frescas de narcisos orgulhosos de si e rodopios estonteantes de apaixonadas margaridas,
Fizeram-se vento, um vento forte,
Vento florido de tristes despedidas,
O adeus às cores das flores da sorte,
Rosas negras de saudade e a morte,
E todas as pétalas, perfume de vidas,
No perfume seco do vento perdidas,
E, por fim, a última flor, último corte,
A marcha fúnebre e lágrimas sentidas,
Um carro negro, das flores, transporte,
   Que carrega o luto das flores coloridas!...
Flores que todos os jardins cobrem, flores que hão de nascer e todos os jardins hão de cobrir... talvez todas as flores sejam terra, fresca e revolvida, de braços abertos à semente, às flores e ao retorno do processo orgânico, de onde todas as flores brotam depois de regadas com as lágrimas do adeus e da saudade e fértil sentimento que, lentamente, passa como passam as flores por cada momento!...
Serão passo flridos do passar lento,
O desabrochar da cor, o florir,
O ameno desvanecimento,
As cores do tempo,
As cores a fugir,
O lamento,
O sorrir,
O desalento,
Lágrimas e o sentir,
   Todas as flores e o vento!...
E, em Maio, todas as flores são uma flor única que oferece o fruto a quem nasce, e suas pétalas que acompanham a alma, cobrem a última viagem da vida que parte e fica nos jardins dos que ficam, como flores ainda mais flores, no coração de cada flor nascida para cuidar da cor e do perfume que na vida aconteceu...
E do perfume da alma não parte,
Como se aquela flor fosse pura arte,
Fruto do talento natural e da sedução,
E de toda a beleza, um natural baluarte,
    Capaz de fazer florir a beleza no coração!...
Depois... depois, despedem-se as cores que o vento leva, deixando atrás de si o que tantas
 vezes, da vida, levou enfeitado de flores que continuam a voar por aí... em nós!...
       
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quarta-feira, 22 de março de 2017

Margarida Em Poema de Rosas (Primavera)

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Pela manhã, são brancas as rosas,
Pela tardinha são rosas morenas,
Adormecem jovens rosas serenas,
No cheiro das perfumadas prosas,
     Na Primavera de floridos poemas!...

Escurecem as rosas ao fim do dia,
Vão entardecendo em harmonia,
E adormecem as rosas vermelhas,
Com seu perfume de rosa-poesia,
    O perfume fresco de rosas velhas!...

É o perfume de rosas inesquecível,
Eternas rosas de perfumado sentir,
Poemas dão-lhe o perfume incrível,
    Das rosas que em versos vão florir!...

Belas-margaridas nascem a sorrir,
Florescem para lá do jardim visível,
Dão-se aos poemas que hão de vir,
    Versos em pétalas de rosa sensível!...
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sábado, 4 de março de 2017

Mimosas de Março ( Flores Tardias 2 )


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E antes que eu morra,
Florirei mais uma vez,
Talvez ainda te ocorra,
Entre laivos de timidez,
A salvação!...
Mas, não…
Do viço à palidez,
Vai mirrando o coração,
Esvanece sua robustez,
    Tanta beleza em vão!...

O tempo das flores doentes é escasso,
Tão escasso quanto o delicado florido das mimosas,
E do movimento suave de suas flores graciosas;
Hoje é o quarto dia de Março,
Para as raízes do tempo sobra muito espaço,
Tempo que falta à suavidade das flores silenciosas,
     Que morrem sem sentir o calor terno de um abraço!...

O amarelo é de um verde suave,
De uma estranha suavidade forte,
Como o voo inocente da inocente ave,
    Que trás consigo a mensagem da morte!...

Voltou a neve e a beleza da brancura,
Ainda trás consigo o manto frio do Inverno,
Morrem as flores mimosas em fria amargura,
Mas não trouxe a esperança do milagre da cura,
    Com as flores das mimosas, se vão do seu inferno!...
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sábado, 16 de abril de 2016

Olhos de Primavera

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Esta chuva que não para de cair,
Dos olhos onde urzes florescem,
São saudades do que está por vir,
    Dias que nos olhos amanhecem!...

Caem lágrimas mansas e serenas,
Das nuvens que embranquecem,
Foram pombas de brancas penas,
    As nuvens que não se esquecem!...

Teus olhos de violeta pranteados,
Espreguiçam-se sobre a verdura,
Agora olhos de sonhos azulados;

 Sol e o sorriso, dois raios dourados,
Suave azul do céu e a tua brancura,
    Primavera em teus olhos aliviados!...

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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Órfãos da Primavera



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Uma filha órfã de uns e outros pais,
Para alimentar seus filhos pequenos,
Vendia-se a quem prometia pagar mais,
Triste era a entrega e achavam ser demais,
    Pagando a promessa por muito menos!...

Começou por alugar partes do corpo,
Aos olhos que mais partes queriam comer,
Promessas de pão com fartura fizeram-na crer,
Na necessidade de vender-se a qualquer porco,
Até nada restar do que tinha para vender!...

Quando as dezoito primaveras floridas,
Deram as boas vindas à sua maioridade,
Seus filhos já eram flores entristecidas,
    Desflorados na sepultura da mocidade!...

Campos de flores escondem a saudade,
Com as primaveras das crianças suicidas,
Ninguém evoca ter violado por caridade,
    As três Primaveras órfãs da puta da vida!...
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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Brisa de Primavera

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Bendita malícia da brisa,
Benditos seios sensuais ao frio,
Sob as copas de seda leve e lisa,
Mamilos salientes,
Desejos frementes,
Ser desejo do ser vontade indecisa,
Hesitações impacientes,
Estímulo de clandestino arrepio,
No calor desse desejo vadio,
   Que do desejo precisa!...

Entrega-se a passarita excitada,
 Ao excitado passarito que a espera,
Pressente-se inquieto e desespera,
Vibra uma brisa silvestre extasiada,
Sobre flores que afloram do nada,
    Colorindo o corpo de Primavera!...
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