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Mais,
sempre mais,
Espera a
morte no cais,
Veste-se a
morte de timoneiro,
Vende
salvação a troco de dinheiro,
Por
dinheiro anestesia a dor viva dos ais,
Pode ser
médico ou santo milagreiro,
Ou, aos
médicos das barcas, iguais,
Iguais ao desprezo de enfermeiro!...
Azar da
sorte a quem o azar calha,
Calha a
quase todos, sempre cedo,
Mataram o
“olha que Jesus ralha”,
E, qual
esperança feita de palha,
Há o
inferno que mete medo,
Fogo que
arde em segredo,
Chama,
inferno e mortalha,
Condenação
ao degredo,
Ai, que Deus lhe valha!...
Fardas
inocentes de mau agouro,
Batas
brancas de branco imaculado,
Alimentam
o insaciável comedouro,
É o
infeliz doente mal alimentado,
Com o
destino nunca imaginado,
Com que alimenta o matadouro!...
Há um
espectáculo que distrai,
Assiste
uma plateia de doentes,
Há mais um
doente que cai,
Riem Estados entre dentes;
Filhos, de
alívio suspiram,
Da sua ingratidão muito rentes,
Juram que
seus doentes nunca viram,
E, se por
tão abandonados eles caíram,
Levantam-se
os filhos, de suas culpas ausentes,
Silenciosos,
agradecem aos carniceiros confidentes,
Que, com eles, a morte do fardo
consentiram!...
Mais,
sempre mais,
Em cada
hospital há um cais,
Onde, na
barca, aguarda o barqueiro,
Que, a
troco do tão sujo e vil dinheiro,
Leva para
o inferno os derradeiros ais,
Antes que a salvação chegue primeiro!...
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