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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Loucura da Morte Gravitacional

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Pela madrugada, logo a seguir ao almoço,
Levava consigo as pintas da cadelita que deixara na cama,
Gravitavam essas pintas até à boca dourada do velho poço,
Boca de um laço dourada onde se enlaçara, era ainda moço,
Profundo e cheio de céu com as cores da natureza humana,
Essa doce loucura que é amor e o amor de terna porcelana,
Onde pode ser servida a relatividade de um beijo insosso,
E a quebra prometida e jurada desde a carne até ao osso;
Uma brisa salgada acariciava a fina ideia de um pijama,
   Tão fina como a marca que lhe tatuara o pescoço,
E o momento nu em suspensão,
Na mesma madrugada que todos os dias se diluía,
O mar de sangue em ondulação,
Emquanto se afogava a emoção,
Todas as madrugadas e todo o amor se extinguia,
Pela madrugada, logo a seguir ao almoço, triste e fria,
Fibras de cánhamo, talvez refeição,
A corda e o laço apertado da rejeição,
De toda a luz do universo à mais ínfima luz sombria,
O último olhar da cadelita, em vão,
E cada pinta sua que à sua volta se desvanecia,
E por cada pinta, cada pinta permanecia,
No alinhamento do fim da sua ilusão,
As pintas, a memória vazia,
O vazio morto do coração,
Todo o amor que se ia,
E amorte da razão,
Ainda nesse dia,
    De contrição!...

Pela madrugada, logo a seguir à traição,
A pequena cadelita e os seus latidos,
Com suas pintas e seus gemidos,
E os gemidos de outra paixão,
Loucamente perdidos,
Fim louco da relação,
Últimos momentos vividos,
O sangue e a corda em sua mão,
  Pela loucura da morte unidos!...
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

...do Siso

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Tanto demorou a nascer,
Quase tanto quanto o juízo,
Tanto não queria eu o perder,
E antes que pudesse perceber,
Ainda antes de qualquer aviso,
Anestesiado me foi o sorriso,
Às mãos do que tinha de ser,
Arrancado foi o meu dente,
    E não sei o quanto de siso!...

Vê-se o brilho aparente,
No esmalte da uma bela coroa,
Disfarça-se o hálito que magoa,
A quem cheira a boca de frente,
Esconde-se a dentina decadente,
E uma infectada polpa em pessoa,
Dentes mordem discretamente,
    Outros mordem línguas à toa!...

Saio insensível pela anestesia,
Bocas bem tratadas são impedidas de sentir,
Granulomas consentidos fazem os dentes cair,
Por não me sentir, minha língua quase eu comia,
A fome é o antibiótico de um povo em agonia,
Caem os dentes de bocas prestes a ruir,
   Cerram-se novos dentes noutro dia!...

Já sem ver o lado direito do juízo,
Vejo a dor escondida,
Vejo gente,
Vejo gente mordida,
Vejo um dente,
Vejo a verdade doente,
Vejo lindos dentes sem vida,
Vejo o pus sobre a comida,
    Vejo a coroa que mente…
      E já não vejo o meu dente do siso!...
    
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