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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Maneira de Ser

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Talvez não seja uma escolha minha,
Esta minha pessoal maneira de ser,
Não escolhi minha maneira de nascer,
Nem sei se qualquer escolha eu tinha,
     Mas escolho minha maneira de morrer!..

Há uma única maneira de ser na morte,
Tão única, quanto o desejo de a vencer,
Um desejo que vive na maneira de viver,
Essa maneira de ser do desejo mais forte,
     Fraco na maneira de sua morte escolher!...

E este medo da morte não me ser breve,
Esta maneira de ser que me vai matando,
Medo que a morte indecisa não me leve,
     E já indeciso da morte, morto vá ficando!...

Nada temas, ó vida que tudo me deste,
Eu não escolhi minha maneira de nascer,
Mas antes que nada desta vida me reste,
    Vivo, escolho minha maneira de morrer!...
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sábado, 23 de dezembro de 2017

Inocente sem Culpa


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Tudo à sua volta O deveria ser,
Desejos simples, humildes, justos,
Mas a humildade tem os seus custos,
Custa muito perder a força do poder,
Uns corrompem seus próprios sustos,
Só Jesus não teve culpa de nascer!...

Nascem todos para morrer,
E só não morre quem não nasce,
Tantos morrem sem a vida aprender,
Tantos são os que morrem sem o saber;
Se toda a morte se fosse e, única, a vida ficasse,
A morte do fim, por seu nascido princípio, acabasse,
Seria a morte do sentido da vida sem a querer,
E sem querer, a vida da verdade se desviasse,
A viva verdade que pela vida a pudesse ver,
   Sem que visse algo que na morte amasse,
      Amor nascido para do Exemplo viver!...

Mas por nossa tão triste sorte,
Quando todos O deveriam ser,
Todos comemorarão sua morte,
Com prendas e trocas de prazer;
Resta o exemplo cheio de vida,
Que à morte não há de ceder,
Talvez muita Fé pareça perdida,
Mas é apenas uma despedida,
   E encontro que há de suceder!..

Á sua volta alimentam seu exemplo,
Exibem o Homem em apelo à consciência,
Enchem de ouro e pecado cada templo,
    Jesus não é culpado da sua inocência!...
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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Maio das Flores e as Cores do Vento

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Via em cada partícula de cada pétala de cada flor, por mais pequena que Deus a tivesse feito,
Uma flor total e única, como todas as flores que se despediam da árvore ou do seu frágil caule. Deixavam o fruto que abraçaram conforme Deus quis, hesitavam na brisa e partiam com o vento!... Via em cada lufada fresca de vento, um lago de fores que ás vezes floria num mar de pétalas de todas as cores suaves, diluídas num sereno mar de delicadeza melancólica… e via o rosto insólito de Deus, meigo, condescendente, perfeito, a repousar no oceano interminável da sua forma tão invisível quanto pleno de todas as formas que eu imaginava!...
E eu que de alguma forma, voava,
Levado pelo vento que me trazia,
Pressenti que Deus se desfolhava,
A flor única das flores que eu via,
E era esse o desfolhar que sentia,
   Por cada flor que Deus me dava!...
Um melro branco de frio, olhava-me sem medo e com medo de o ver fugir, parado e silencioso, oferecia-lhe o sorriso que a mim mesmo devia. E o melro, já preto, sorria… a princípio, talvez um sorriso amarelo e só depois, desfolhado do medo, libertava um lindo sorriso que continua por aí à solta, entre pétalas muito leves que o vento levou!... Os estorninhos sem sorriso amarelo, pétalas menores das mesmas flores e aquele grande corvo negro no batatal que nunca semeei, passeando entre a rama verde das batatas, passeando entre as suas luzidias penas pretas e o seu bico muito preto e forte, parecia mais flor do que as flores… e floria o seu contraste, como se tivesse uma consciência para ter a consciência disso!... Nunca o vi entre flores, não sei se por culpa das flores ou por qualquer florir acidental...  
Acidente, de propósito, provocado,
 Pela primavera em seu intenso estado,
De muito fazer crer no bico amarelado,
De um verdadeiro corvo no meu batatal,
Que não fosse um negro melro disfarçado,
De um corvo que se disfarçasse muito mal,
Julgando passar-se por um melro, tal e qual,
Como as flores de um jardim bem cuidado,
   Onde cada flor a outra flor pensa ser igual!...
Como as flores são diferentes!... Umas mais flores do que outras, por serem tão flores quanto outra flor é igual a outra flor que se sente mais flor!... Depois, vem a sensação de ser botão, dono de um par de casas trespassadas por agulhas, quando floresce… e desabrocha, incrédula, no momento em que tudo acaba, em que descobre o seu destino imprevisível e o destino do fruto que jamais conhecerá, em sua maturação mais sensível!...
E é cada flor tão invisível,
Tão visível às cores do olhar,
As flores proibidas de chorar,
Sempre de sorriso irresistível,
Até já não ser mais possível,
    Ser flor tão triste e disfarçar!...
O vento também floresce e veste-se com as mais leves flores que leva consigo. E essas flores, que começaram por ser uma brisa de pequenas malvas silvestres, lufadas frescas de narcisos orgulhosos de si e rodopios estonteantes de apaixonadas margaridas,
Fizeram-se vento, um vento forte,
Vento florido de tristes despedidas,
O adeus às cores das flores da sorte,
Rosas negras de saudade e a morte,
E todas as pétalas, perfume de vidas,
No perfume seco do vento perdidas,
E, por fim, a última flor, último corte,
A marcha fúnebre e lágrimas sentidas,
Um carro negro, das flores, transporte,
   Que carrega o luto das flores coloridas!...
Flores que todos os jardins cobrem, flores que hão de nascer e todos os jardins hão de cobrir... talvez todas as flores sejam terra, fresca e revolvida, de braços abertos à semente, às flores e ao retorno do processo orgânico, de onde todas as flores brotam depois de regadas com as lágrimas do adeus e da saudade e fértil sentimento que, lentamente, passa como passam as flores por cada momento!...
Serão passo flridos do passar lento,
O desabrochar da cor, o florir,
O ameno desvanecimento,
As cores do tempo,
As cores a fugir,
O lamento,
O sorrir,
O desalento,
Lágrimas e o sentir,
   Todas as flores e o vento!...
E, em Maio, todas as flores são uma flor única que oferece o fruto a quem nasce, e suas pétalas que acompanham a alma, cobrem a última viagem da vida que parte e fica nos jardins dos que ficam, como flores ainda mais flores, no coração de cada flor nascida para cuidar da cor e do perfume que na vida aconteceu...
E do perfume da alma não parte,
Como se aquela flor fosse pura arte,
Fruto do talento natural e da sedução,
E de toda a beleza, um natural baluarte,
    Capaz de fazer florir a beleza no coração!...
Depois... depois, despedem-se as cores que o vento leva, deixando atrás de si o que tantas
 vezes, da vida, levou enfeitado de flores que continuam a voar por aí... em nós!...
       
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Porta (Ruínas da Esperança e da Virtude)


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O que mais as revoltavam,
Era o prazer de tanto gostarem,
De suas culpas que lhes apontavam,
Simulando a denúncia que lamentavam,
Não se sabe se por não se envergonharem,
     Ou por mais rumores que sobre elas faltavam!...

Sentadas no último banco da Igreja em ruinas,
De mãos unidas num entrelaçado de fingimento,
Faziam ondular uma sequência de invisíveis cortinas,
Até ao velho padre que aos olhos das sagradas doutrinas,
Vestia transluzimentos de Deus, cobrindo-se de fundamento,
Da brisa dos rumores iam caindo cortinas de pensamento,
     Até só restarem a porta fechada e quatro esquinas,
       E o rumor invisível de um divino lamento!...

Com os rumores do tempo,
Rumores em invisível abatimento,
Cada esquina ruiu envolta em solitude,
As cortinas ainda ondulam naquela quietude,
Inquietas com os rumores que batem à porta,
Dizem que fora de portas há uma igreja morta,
    Envolvida em cortinas desprendidas da virtude!...

Atrás da porta fechada, ondula a solidão do vazio,
Não há ventos de paz e a meiga brisa do amor ruiu,
A boa-fé na plenitude de Deus entrou em desvario,
Um mensageiro sem saída perdeu-se num desvio,
Vazio de Humanidade aproximou-se cheio de frio,
Ajoelhou-se em frente da velha porta que se abriu,
Orações vazias jaziam sob o pó do futuro sombrio,
    Já dentro de si, olhou para fora e com a porta caiu!...

Com o Amor a perder-se num caminho tão incerto,
    E com Jesus a nascer, nascia o Amor ali tão perto!...


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