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sexta-feira, 19 de abril de 2019

Miséria Moderna

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Ó miséria, a quanto obrigas,
Lembras-te dos orgulhosos,
Cheios de nada e manhosos,
Cheios de suas duas barrigas,
Com que cantavam cantigas,
       Barrigas falsas de invejosos?!...

A quanto obrigas, ó miséria,
Dona de nada, sem piedade,
Mostras-te por tua metade,
Parte cheia de vaidosa léria,
Como se fosses palavra séria,
    Que tu revelas por caridade!...

Onde estás ó antiga pobreza,
Que a tantos, a fome matavas,
Eras ajuda forte, tua fraqueza,
Tanto davas e não te fartavas;

Na sopa, contavam-se as favas,
Verdes quintais e tanta beleza,
Ó miséria, espalhas tuas larvas,
    És, agora, semente de tristeza!...
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domingo, 18 de maio de 2014

Alumbramento dos Perfeitos


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Não negava ao olhar a vontade de se eximir,
Nos olhos estão as histórias que não se contam,
Outras histórias escondidas no olhar que quer fugir,
Não negavam o silêncio das histórias ficadas por ouvir,
Como olhos apagados que histórias de silêncio despontam;
Por cada silêncio, silêncios de outras histórias se aprontam,
E no vértice da pirâmide, um rádio não se cansa de difundir,
Paliam-se secretismos iluminados que não se confrontam,
Sobre a escravatura das pedras, o peso faz-se repetir,
     Esmaga-se a voz sob o silêncio que poucos apontam!...

Não negava o sonho ao vértice dominante,
Nem o pesadelo à esperança em futuros impossíveis,
Os olhares deverão ser hipnose de silêncios consumíveis,
O capitalismo obeso carrega o cume da pirâmide sufocante,
E, não obstante,
É leve a palavra livre escondida no olho do horizonte,
Longe do peso carregado pela oferta dos vícios aprazíveis,
E de outros vícios dados à felicidade da ignorância a monte,
E outras influências aos viciados mais suscetíveis…
Ácidos hipnóticos e a sucralose são irresistíveis,
Para lá da história dos olhos brota a fonte,
Nos rios dançam peixes invisíveis
Corre a água debaixo da ponte!...

Ainda por cima, e apesar de tudo,
Por cima das pontes e do controlado desalento,
O olho global move-se atento, num olhar de veludo,
Cega o resto da pirâmide que tem como escudo,
    É quase perfeito o poder do alumbramento!...

Não negava o silêncio no olhar,
Nem a nova ordem do encantamento,
    Assassina da velha ordem de o libertar!...
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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Saúde dos Sinais

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Dizem os sinais,
Amiúde,
Na quietude,
Dos desiguais:
- Sem saúde,
                 Não há hospitais!...

Afirmam mais,
Com magnitude,
Coisas iguais,
Os quais,
Dizem em tom rude:
- Sem hospitais,
      Não há saúde!...

Vamos adoecendo,
Vendidos à saúde viável,
Compramos saúde improvável,
Vamos empobrecendo,
Esmorecendo,
Até ao inevitável,
Consumo que vai crescendo,
    Nas entranhas do hospital saudável!...

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