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Crianças desfilam em passadeiras
rendadas,
Despidas da inocência até às rendas
adultas das ligas,
O adultério embuçado de silêncio não lhes
diz que foram violadas,
Transformando-as em sombra de silenciosas
filhas envergonhadas,
Ainda antes que o sol despontasse nos
olhos das jovens raparigas!...
Os pais anoiteciam no segredo do ciúme, demasiado
cedo,
Mães, entregavam-se às noites da vergonha
e do medo,
O silêncio da noite contava às filhas histórias
antigas,
Histórias que se escondiam no silêncio
das amigas,
E das lágrimas agrilhoadas ao mudo
segredo,
Atrás dos gritos das palavras
amordaçadas!...
Hoje, já mulheres desesperadas,
As crianças continuam a desfilar,
Pais pagam para as namorar,
Mães são desprezadas,
E proibidas de falar!...
Os pequenos lábios vermelhos desfilam,
sensuais,
Insinuam-se os olhares perdidos nas cores
do pecado,
Os aplausos entrelaçam-se em nós de laços
carnais,
E antes que as crianças possam crescer
mais,
Já suas virgindades têm o destino traçado,
Com a anuência destes tempos brutais,
Num
banal espectáculo desgraçado!...
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Sob o olhar atento de uma plateia, crianças desfilam numa passarela. A despeito de uma imagem que se omite na visão que se rende à maquiagem de efeito, nossos olhos se voltam à tragédia do figurino onde as rendas contêm o duplo sentido da inocência e do erotismo.
ResponderEliminarAtualmente, mais do que em qualquer época, a ética é o principal tema das discussões humanas, e, em tempos em que se combate o incesto e os crimes de pedofilia, mas se questiona o conceito de justiça e de princípios morais sob a forte acusação de uma noção flexível de uma sociedade que a tudo se justifica, o Poema “Anuência do Fim do Mundo - Silêncio da Culpa e da Inocência”, apesar de não trazer uma resposta a esses problemas, até porque isso iria de encontro à compreensão da natureza de uma obra de Arte, enfatiza o sofrimento e a indignação: Um choque, num sentimento de repulsa à configuração temática.
Além da criatividade e da sensibilidade em transformar um ‘espetáculo’ num drama com consequências devastadoras, não há muito que acrescentar. Um Poema para ler, sentir, se contorcer em náuseas e lamentar. Num Poema que celebra a violência infantil em torno da qual toda a rede de narrativa se organiza, o desfecho [“Num banal espectáculo desgraçado!...”] é um ‘abuso’ que precede a Poesia. Ou, um dedo em riste à consciência dos silenciosos e dos coniventes à realidade trágica, não imaginária, que nada tem de poética.
Entretanto, o som causado pelos ‘aplausos’ [“Os aplausos entrelaçam-se em nós de laços carnais,”] ecoa, ao contrário das lágrimas que só ensaiam a cair. Choramos nós. E a Poesia.
Bom domingo, A.