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Do céu, demasiado longe do paraíso,
Do céu, onde se erram as contas de fadas,
Chovem estrelas celestes com negro
granizo,
A inocência de crianças morre de
improviso,
Jesus
chora entre as crianças assassinadas,
Morrem as Mães em lágrimas afogadas,
Pais implodem-se com a perda do siso,
Ao Êxodo das lágrimas encantadas!...
Tenta-se enfaixar a dilacerada gaza,
Em sangue de inocentes esvaída,
Com faixas de raiva incontida,
Mas só a vasa que vasa,
Agora sem casa,
Do fim do mundo falam do fim,
Falam do princípio da felicidade,
Prestes a nascer do íntimo ruim!...
E se renasce do ódio a ruindade,
Os genocídios serão um festim,
Para falcões cheios de maldade!...
E se renasce do ódio a ruindade,
Os genocídios serão um festim,
Para falcões cheios de maldade!...
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Três pontinhos, solitários, antecedem o Poema “Gaza”, e vermelhos, parecem deixar uma espécie de condolência por onde passa a Poesia d’Alma.
ResponderEliminarPode-se até tentar um comentário. Qualquer. Falar sobre o sangue de nossas mãos que se junta ao das crianças, vítimas do poder e da crueldade. Mas nada poderia ser comparada à sensibilidade, expressa por António Pina, neste Poema. Tamanha sua ousadia, que, em sintonia com a realidade atual, tem os versos chamuscados de dor pelo poder que confere ao Poema de soar como um bombardeio, dirigindo-se de maneira explosiva à consciência do leitor.
Não fossem pelas Etiquetas [‘Jesus Cristo e vergonha’], e que suscitam por meio de indagações íntimas o destino, não da Poesia, mas de todo o sofrimento decorrente da Guerra, nem seu desfecho, em tom de angústia, salvaria a paisagem, em ruínas, presente na dinâmica das cenas de terrorismo.
A visão, um tanto quanto apocalíptica, sobre a III Guerra não parece ocorrer tão distante assim de Portugal. Ou do Brasil. Ou de onde brota a Poesia. O sangue, ainda que alheio ao entorno, continua a escorrer, pelos de dedos de quem faz da tinta uma expressão de repulsa e indignação.
E a dor, refletida pela perplexidade diante do horror, é inevitável.