domingo, 18 de maio de 2014

Alumbramento dos Perfeitos


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Não negava ao olhar a vontade de se eximir,
Nos olhos estão as histórias que não se contam,
Outras histórias escondidas no olhar que quer fugir,
Não negavam o silêncio das histórias ficadas por ouvir,
Como olhos apagados que histórias de silêncio despontam;
Por cada silêncio, silêncios de outras histórias se aprontam,
E no vértice da pirâmide, um rádio não se cansa de difundir,
Paliam-se secretismos iluminados que não se confrontam,
Sobre a escravatura das pedras, o peso faz-se repetir,
     Esmaga-se a voz sob o silêncio que poucos apontam!...

Não negava o sonho ao vértice dominante,
Nem o pesadelo à esperança em futuros impossíveis,
Os olhares deverão ser hipnose de silêncios consumíveis,
O capitalismo obeso carrega o cume da pirâmide sufocante,
E, não obstante,
É leve a palavra livre escondida no olho do horizonte,
Longe do peso carregado pela oferta dos vícios aprazíveis,
E de outros vícios dados à felicidade da ignorância a monte,
E outras influências aos viciados mais suscetíveis…
Ácidos hipnóticos e a sucralose são irresistíveis,
Para lá da história dos olhos brota a fonte,
Nos rios dançam peixes invisíveis
Corre a água debaixo da ponte!...

Ainda por cima, e apesar de tudo,
Por cima das pontes e do controlado desalento,
O olho global move-se atento, num olhar de veludo,
Cega o resto da pirâmide que tem como escudo,
    É quase perfeito o poder do alumbramento!...

Não negava o silêncio no olhar,
Nem a nova ordem do encantamento,
    Assassina da velha ordem de o libertar!...
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2 comentários:

  1. A primeira coisa que me ocorreu em dizer assim que terminei de ler “Alumbramento dos Perfeitos” foi destacar a importância da sombra como poder de iluminação, ou luz, mas só até me lembrar de que, neste Poema, a luz é tirana.

    E dei voltas e voltas, e mais voltas, e tal e qual pelo ‘quase’ [“É quase perfeito o poder do alumbramento!...”] permaneci um bom tempo. Pela primeira vez não sabia que comentar. Não sei, ainda! Não basta elogiar a construção das imagens pelo poder impactante dos versos. É preciso mais. Ou, era preciso mais. E mais significava enaltecer a habilidade poética em colocar sentimento, porque a Poesia d’Alma é sentimento, numa questão social revoltante.

    E de repente me dei conta de que aquela sensação, a princípio, estava errônea. Não era sombra, era de escuridão. A minha escuridão. Ainda que breve, e intensa. E longe de ser tirana. A Luz que penetra nos versos possibilita a compreensão sobre problemas que jamais imaginei. É um momento revelador. E iluminador.

    A relação opositiva entre ‘luz/escuridão’ configura a pirâmide social mundial, bem como a distância abismal que separa a classe menos favorecida [‘escuridão’] da classe dominante [‘luz’]. E, iluminada, não resta mais nada a dizer, a não ser contemplar e louvar a produção poética de d’Alma à luz de um significado social que, por mais devastador que possa ser, não é menos verdadeiro.


    Boa semana.

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  2. Poeta

    Obrigada palas palavras deixadas no meu blogue. Tão verdadeiras, pois para mim os cravos morreram logo nesse dia. Abril foi sepultado quando há (uma revolução) ? e o Marcelo dá-se ao luxo de escolher a quem entregar o governo. Aí desacreditei.
    Quanto ao teu poema não tenho palavras para comentar algo tão profundo.
    Deixo um beijinho e um simples poema meu.

    No limite das forças...no fio da navalha
    Assim caminhas meu País...desencantado
    Vilipendiado e vendido pela escumalha
    Grita meu povo por um Portugal libertado
    Sonhadora

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