domingo, 15 de dezembro de 2013

Como a Tantos Pobres...

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Como em tantas outras formas de desprezar,
Não desprezando os filhos da pobreza do costume,
Familiares e amigos continuam a dar um ar do seu perfume,
Oferecendo as mais ricas desculpas para o pobre cheirar,
Ninguém lhe dá laços de lágrimas para o ver chorar,
      Nas lágrimas não há uma réstia de queixume!...

Como em tantas vezes que Jesus Nasceu,
Estrelas brilhantes têm um brilho providencial,
Lembro-me de ver uma luz que nos olhos pereceu,
Olhos afogados na sombra que a luz já esqueceu,
Uma centelha dá por momentos um forte sinal,
Um lindo sorriso estende-lhe a mão macia,
Deseja-lhe com carinho um feliz Natal;
Mais um pobre de esperança vazia,
Que nos sorriso dos outros se esbateu,
Lembro-me da inconsciência que se reacendeu,
Naquele distante encontro em desencontro total,
Uma lágrima incapaz de conter-se, apareceu,
E toda a igualdade se tornou desigual,
Igual a mais um diferente dia,
Muita tristeza recorda o sorriso que fugia,
Com a hipocrisia e avareza, e tão tal quanto qual,
Ainda dizem os ombros encolhidos do pobre que dizia:
-Bem haja, não faz mal!...

Como a tantos pobres que todos deveríamos ser,
Faltam muitas palavras, o pão, o calor e o saber Amar,
Em nossos olhos não falta esse egoísta desejo de tudo ter,
Há uma Luz humilde que nasce para nos fazer ver,
    E apenas olhamos o brilho que nos faz cegar!...

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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Chapéu

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Cortei o cabelo no velho barbeiro,
O grisalho da nostalgia demasiado rente,
Um pouco mais de tempo rente ao dinheiro,
As tesouras matreiras tosavam um corte certeiro,
Cortavam velhos tempos e vendiam quentes chapéus,
O Vento barbeava a geada de cortar o gelo dos céus,
Vesti o quente capote e espreitei o azulado do céu,
   Comprei um chapéu!...
Ensaio o bater do dente,
Saio de cabelo varrido e sigo em frente;
Vou estrear o chapéu, quando passa o Tibério carpinteiro,
Saúdo de cabeça descoberta, o respeito vem sempre primeiro,
Um desdenhosos cabeludo que passa oferece-me um pente,
Penteio um sorriso e devolvo-lhe o presente,
Depois da frescura do corte,
Entranha-se-me um frio mais forte,
Mas eu tenho um chapéu que o barbeiro me vendeu,
E o meu cabelo que por lá ficou, que o tenha como seu,
Para o frio, tenho um chapéu e sinto-me com sorte!...
Apresso-me a estrear o chapéu que é meu,
Minha cabeça gelada já o sente a assentar,
Tão feliz por um chapéu poder usar,
É então que, de repente,
Me saúda o Carlos Clemente,
-Saúdo quem me respeitar-
Com o chapéu na mão dormente,
Faço uma vénia, sem parar,
Crianças brincam com gelo que não quer derreter,
Uma velhota escorrega no gelo e faz-me doer,
Arrepio-me até às orelhas cheias de frieiras,
Pego no chapéu e dou os bons dias a duas freiras,
Passa o Manel a correr,
Passa o senhor Joaquim,
-Como vai o amigo, está bom ou não quer dizer?...
-Assim, assim…
E agora sim,
Vou andar de chapéu, enfim!...
Adianto o passo e passa-me o frio de tão comovido,
Um estalo no toutiço faz-me o chapéu saltar,
-Há quanto tempo não te via!!!...
Era o Zé de cabelo branco tingido,
Havia desaparecido,
E logo agora havia de voltar!!!!!...
Apanhei o chapéu preto e quentinho,
Uma rajada de vento fê-lo voar,
Corri atrás dele como um maluquinho,
   Olhei para os lados e estava sozinho!...
Só não olhei para a frente onde me olhava o João,
Passei pelo cabeludo Joãozinho,
Pelo Quinzinho,
 Passou o Carlão,
O filho do vizinho,
E o Sebastião,
O gato vadio e até o velho cão,
Que corria atrás do Quim manquinho,
  Por todos tirei o chapéu em humilde saudação!...
Há tanto tempo que não via minha professora da escola:
-Olá senhora professora, como passou?
Ela quer saber como estou,
-Com um friozinho…
Estende-se a mão de um pedinte e dou uma esmola,
Tropeça em mim o Felício que não é bom da cachola,
A vesga padeira dá-me um encontrão,
E lá volta o chapéu para o chão,
Apressa-se o gordo padre que me confessou,
Apanha-me o chapéu o magro sacristão!...
Aí vem a dona Maria do Toninho,
Mais o Toninho que se engasgou,
Com os filhos, pequeno Bonifácio e o grande Zezinho,
Perguntam-me como vou…
Ai, como vou, como vou…
A mais de muitos digo que vou devagarinho,
   Encolho os ombros a mais um que me saudou!...

Chego a casa com um estranho calor,
Tantas foram as vezes que não pus o chapéu,
Quanto todas aquelas vezes que o quis pôr,
Não me falem de chapéus por favor,
   Vou continuar de cabeça ao léu!...
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Hábito

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Ao vê-las veladas,
Não viu a velha ovelha,
As ovelhas levadas,
Uma vela levou,
Levada velou,
Viu uma abelha,
Uma abelha voou,
Viu o pelo ruivo,
Ouviu um uivo,
  E enviuvou!...
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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Asfixia


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Asfixia!...
Aquele abraço com imensos braços da alegria,
Antes  da fuga espavorida, esbracejada a esmo,
E todas as promessas intensas em demasia,
Como viver antes da morte, em agonia,
    Morrendo sempre pelo mesmo!...

Mais, sempre mais, o céu,
Todo o inferno, o corpo em chamas e a alma,
Banhos em flores asfixiadas, lágrimas floridas, um véu, 
Perfumes cativos exalando essências do pranto e da calma,
Os afagos, a transparência, as mãos prisioneiras da palma,
Os dias nervosos, todos os dias, rezados num só dia...
O diabo, a tentação e a prece sob a prece,
Pedra sobre pedra e o ritual crescente, 
O calor do Sol que o desejo arrefece,
A penumbra envolvente que desce,
A memória da sombra que crescia,
A construção de um mundo só seu e permanente,
Ovais obedientes, fechando-se à inevitável profecia,
A tendência oclusa e a oclusão que para dentro de si tendia,
A liberdade de libertar-se do corpo exterior, suave e incoerente,
O ovo a fechar-se sobre a incoerência, suavemente,
Em plenitude perfeita e singular harmonia,
A consciência da obsessão inconsciente,
O sacrifício da luz e a luz sombria,
A sensação fechada da mente,
E o clique, de repente...
     Asfixia!...

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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Olhar sem Sombra

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Longos segundos submergidos na água fria,
Afogam-se cabelos negros em mais uma madrugada,
Por momentos, a sombra dos olhos flutua na água passada,
Seios frios flutuam fora do peito da respiração sombria,
O desespero de um amor que na sombra se perdia,
Obrigou à fuga para o ar que os olhos respirava,
Estalaram os cabelos no olhar que já não via,
Um eclipse bate como uma chicotada!...

Vivem olhos à espreita atrás da franja dos cabelos,
Óculos de sol denso escondem-lhes a sombra do olhar,
Ninguém dá por eles quando se escondem ao passar,
Passam olhos que ninguém vê, à procura de vê-los,
Não é visto quem se despe de seus frios apelos,
E apela à sombra que não os deixe voltar,
Volta-se o sol para entristecê-los!...

O sol escurece a luz de olhos desalentados,
Há tanta luz abraçada ao calor que passou,
Sombra de olhos caídos foi tudo que ficou,
Da sombra nascem lacrimejos iluminados,
   Há a recordação de alguém que abraçou!...
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domingo, 24 de novembro de 2013

Colher de Pau (Finalistas)

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Há uma história sobre penosas,
Gordas como só a pedrês do vizinho,
Esgravatavam umas receitas preciosas,
Nas estudantis cogitações pecaminosas,
Regadas com a inspiração de imenso vinho,
Néctar que nenhum estudante deixa sozinho,
    Esse professor de posteriores lições miraculosas!...

Sabe-se de um tardio jantar prometido,
Pela tradição que a todos dava muito jeito,
Se alguns estudavam para um futuro perfeito,
Já eram outros doutores de galinheiro prevenido;
Despreocupada cacarejava a galinha sem preconceito,
Se uns preferiam a tentação da coxa ou cobiçado peito,
    Asas fortes em pratos de moçoilas eram desejo resolvido!...

Nas entrelinhas dos livros da vida,
Entre a cultura dos sábios consagrados,
Histórias sobre estudantes mais empenhados,
Ensinam aos mestres de juventude perdida,
O segredo mal guardado na excata medida,
     Do mesmo empenho e iguais predicados!...

Namoravam-se as pitas depois de algum estudo,
Água na boca matava a sede ao ver as mais gordinhas,
Combinavam-se encontros entre raposas e as galinhas,
Todo pedrado, de crista murcha, lá dormia o galo mudo,
Convencer as convencidas penosas era um caso bicudo,
    Prometiam-se panelas para as aninhar bem quentinhas!...

Era a feijoada no fim do dia, um prato com forte potência,
 Onde os galináceos voluntariosos aprenderiam a mergulhar,
E nem um ”perdido” porco encontrado por aí a deambular,
Deixou de dar o corpo pela comparticipação da exigência,
Na falta do fogueteiro, continua a festa com flatulência,
     São os donos convidados de quem os andou a roubar!...

Mas é preciso uma forte colher,
Colher leve, imensa como a sabedoria,
Deve ter carácter e o querer da idolatria,
Ser forte na certeza do rumo que se quer,
Saber misturar os condimentos de mulher,
     Com o jovem tempero de varonil filosofia!...

Há diversas histórias de colheres vestidas de fitas,
Entrelaçando o futuro das cores numa difícil travessia, 
Que começa numa despedida de entusiasmados finalistas!...
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Duas agulhas, Duas Linhas e Dois Chambrinhos


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Alongaram-se os chambrinhos desbotados,
Aduzidos às rendas a que não tiveram direito,
Mãos grossas trabalharam lavores do seu peito,
Peito e peitos de ternura com carinhos dourados,
Com outro peito rendilhou pressas de rendados,
Um recém-nascido foi filho do desejo perfeito,
     Tão perfeito, que outros foram segregados!...

Voa a manca apressada para o ninho de ouro,
Leva consigo o orgulho engolido do queixume,
Regressa esvoaçante com uma coroa de louro,
Velhos desejos desse seu verdadeiro tesouro,
   Pobre esquecida de outra inocente implume!...
 
São asas sempre velhas da velha necedade,
Estrambólica vergonha desfeita em bordados,
Sobrepõem-se as velhas linhas de ridícula vaidade,
Com novas agulhas dobradas aos pés dos adorados;
É na fímbria longínqua dos chambrinhos sem idade,
Aformoseados por pontos obrigatórios de afinidade,
    Que filhos da mesma agulha espetam os enteados!...

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Há mãos tão desejosas de serem máquinas de costura,
Que bordam chambrinhos com miseráveis linhas infelizes,
   Espetando agulhas às cegas nos olhos de quem as atura!..

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terça-feira, 12 de novembro de 2013

“Cookie”, a Pequena Gata Preta

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Jamais saberei,
Porque esperou que eu passasse,
Quase tropecei,
Quase a adivinhei,
Talvez viesse à procura de quem a pisasse,
De alguém que a maltratasse,
Há superstições assim, cruzadas ao passar,
Leves passos negros, se em mim o medo ficasse,
Pequenos passos seguindo trôpegos passos que dei,
Como se não soubesse escolher os melhores passos a dar,
Que por entre alguns ziguezagues, atabalhoado, ziguezagueei,
Ai, dessa sorte rezada para que o azar não se atravessasse,
Bem à frente do destino que muito falte por atravessar,
Miada sorte de azarada cor que por sorte se fizesse,
Sorte vinda de um lado qualquer que a adoptasse,
E alguma sorte parda quisesse…
    Ou o cinzento do azar!...
Sem nada saber, disso, do amor ou amar,
Um pouco de carinho que bastasse,
E com alguma ternura se desse,
Em gratidão de um meigo miar,
Ou de um humilhante rastejar,
Arrastar-se e por arrasto se arrastasse,
Como se, com todo o orgulho, dissesse,
       É contigo que eu quero ficar!...

E ficou!...
Ai, este meu ser sem saber o que sou,
Este pensamento sem saber que pensar,
 Suspiro, e à graça daquele miado me dou!...
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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Círculo Pendular


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Vertiginosos vínculos pendulares,
Em baloiço de vaivém sem regresso,
São impróprios movimentos angulares,
Em redor de centros comuns que atraem,
Fixam-se à velocidade constante do processo,
E outros movimentos mais ou menos circulares,
Cercando fontes de ilusão em embalado progresso,
Sempre contínuos, indeterminados e sem retrocesso,
Cálculo aproximado do queimor das vertigem singulares,
Que por elas só, tontas de prazer, sobre elas mesmas caem,
Afastando-se do próprio corpo e do eixo à mesma velocidade;
Talvez seja um vínculo circular a circular por fora da verdade,
Cercando a verdade ou verdadeiro prazer no movimento,
Capaz de circunscrever a energia de cada momento,
Com o desperdício do limite em queda da vaidade,
Queda livre num vertiginoso espaço de tempo,
De onde os pensamentos mais loucos saem,
     Sem sair de suas espirais de pensamento!...

É costumeiro o voltar de costas,
E voltar a acreditar que elas se vão voltar,
Isócronas voltas que avançam para recuar,
Recuam escondidas à procura de respostas,
Encontram-nas no recuo que as faz avançar,
Por aí andam ao redor as voltas sobrepostas,
À volta de enlouquecidas ideias expostas,
    Presas a pêndulos de vontade circular!...


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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Do Povo ao Político… ou um Soneto de Merda

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Quando muita merda faz saltar a tampa,
Todos apontam o cu dos outros que tais,
No cu das calças discorre muita trampa,
   De muitas cabeças escorre muito mais!...

Cresceu o Socialismo político e partidário,
Á custa do parvo Povo habituado à perda,
Sempre desgovernado pelo frio salafrário,
   Os zeros de direita colocados à esquerda!...

Dá-lhe aquela volta e o povo até se caga,
Paliam, mal cheirosos, o cu todo cagado,
Afirma o povo ser a merda de uma praga;

É um cheiro a que o povo está habituado,
 A latrina popular que toda a merda paga,
      Por ser a merda de um povo desesperado!...

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