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Eu gosto de mentir,
Sou, por assim dizer,
Um mentiroso;
Minto a mim mesmo sem o saber,
Sou a verdade sem o pretender,
Um espesso silvado carinhoso,
Um ínfimo existir grandioso,
Tão certo do escurecer,
Desse enganador mais brioso,
Que, se não o
sou, sou a cobiça de o ser!...
Afinal, não havia
meio mundo a enganar outro meio?!...
Bons tempos esses, de mentira e meia desequilibrada,
Esvaziava-se meio mundo já de meios enganos cheio,
Acreditando na mentira, ela mesma enganada,
Hoje são poucos os que se dizem felizes,
Por engano, confessam-se em deslizes,
Desses poucos, os amigos do alheio,
Fazem o mundo muito feio,
Onde quase todos são raízes,
De árvores fustigadas por cicatrizes,
Dando frutos a mentirosos sem receio,
Que as regam com
metros de longos narizes!...
Haja alguém que, por engano, se engane,
Que me engane se eu não estiver enganado,
Por enganadores tem sido o mundo atraiçoado,
Há muitos quem, pelo muito de poucos, se esgane,
Preferindo um nó
corredio, a viver envergonhado!...
Eu gosto de mentir, mas…
Até quando minto digo a verdade,
Sou um mentiroso, a verdade seja dita,
Sou o silêncio de minha parte que grita,
Grito o silêncio que mente à realidade,
De muita mentira sempre desdita!...
De muita mentira sempre desdita!...
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