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terça-feira, 1 de abril de 2014

Equilíbrio da Mentira





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Eu gosto de mentir,
Sou, por assim dizer,
Um mentiroso;
Minto a mim mesmo sem o saber,
Sou a verdade sem o pretender,
Um espesso silvado carinhoso,
Um ínfimo existir grandioso,
Tão certo do escurecer,
Desse enganador mais brioso,
     Que, se não o sou, sou a cobiça de o ser!...

   Afinal, não havia meio mundo a enganar outro meio?!...
Bons tempos esses, de mentira e meia desequilibrada,
Esvaziava-se meio mundo já de meios enganos cheio,
Acreditando na mentira, ela mesma enganada,
Hoje são poucos os que se dizem felizes,
Por engano, confessam-se em deslizes,
Desses poucos, os amigos do alheio,
Fazem o mundo muito feio,
Onde quase todos são raízes,
De árvores fustigadas por cicatrizes,
Dando frutos a mentirosos sem receio,
    Que as regam com metros de longos narizes!...

Haja alguém que, por engano, se engane,
Que me engane se eu não estiver enganado,
Por enganadores tem sido o mundo atraiçoado,
Há muitos quem, pelo muito de poucos, se esgane,
    Preferindo um nó corredio, a viver envergonhado!...

Eu gosto de mentir, mas…
Até quando minto digo a verdade,
Sou um mentiroso, a verdade seja dita,
Sou o silêncio de minha parte que grita,
Grito o silêncio que mente à realidade,
    De muita mentira sempre desdita!...

  
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Duas agulhas, Duas Linhas e Dois Chambrinhos


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Alongaram-se os chambrinhos desbotados,
Aduzidos às rendas a que não tiveram direito,
Mãos grossas trabalharam lavores do seu peito,
Peito e peitos de ternura com carinhos dourados,
Com outro peito rendilhou pressas de rendados,
Um recém-nascido foi filho do desejo perfeito,
     Tão perfeito, que outros foram segregados!...

Voa a manca apressada para o ninho de ouro,
Leva consigo o orgulho engolido do queixume,
Regressa esvoaçante com uma coroa de louro,
Velhos desejos desse seu verdadeiro tesouro,
   Pobre esquecida de outra inocente implume!...
 
São asas sempre velhas da velha necedade,
Estrambólica vergonha desfeita em bordados,
Sobrepõem-se as velhas linhas de ridícula vaidade,
Com novas agulhas dobradas aos pés dos adorados;
É na fímbria longínqua dos chambrinhos sem idade,
Aformoseados por pontos obrigatórios de afinidade,
    Que filhos da mesma agulha espetam os enteados!...

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Há mãos tão desejosas de serem máquinas de costura,
Que bordam chambrinhos com miseráveis linhas infelizes,
   Espetando agulhas às cegas nos olhos de quem as atura!..

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