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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pirografia das Lacunas

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Como uma cicatriz de amor jurada no veio das lacunas,
Essa jura omnipresente de um amor, por amor embargado,
Silêncio consentido das marcas de um segredo amargurado,
Que na silenciosa sombra rasgava a débil mágoa fendida,
Cicatrizando a dor que, por amor, era de si escondida,
    Na aparente solidão escondida ao mesmo amor castigado!...

Não podendo mostrar todo o amor que pelo sol sentia,
Mostrava-se vazia de luz nos dias onde o sol o escondia,
Despida de sua sombra rebelde que a tristeza costurou,
Com agulhas tristes do coração que, enternecido, cerzia,
Incandescendo silêncios que o destino na alma ponteou,
Picotando o anelar sem dedal que, desprotegido, sangrou,
Trespassado pela agulha distante que o sangue expungia,
    Escorrendo-o sobre a tesoura que a sua felicidade cortou!...

Sabendo mostrar o segredo que, por amor, sentia,
Resguardando-se numa reserva de paz melancólica,
Comemorava cada momento com felicidade simbólica,
Não deixando que amor mentido, soubesse que mentia,
Ao revelar o amor de gradadas noites, pela luz do seu dia,
   Luz celestial possuída pelo desejo de uma paixão diabólica!...

No desencontro das horas pirogravava breves momentos,
Queimando a carne com instantes de tórridos sentimentos,
Delineando contornos na injustiça de incendiadas lacunas,
Cinzas de omissões desfragmentadas em vários elementos,
Separados entre si, à distância aprazível de mãos oportunas,
Que, gravando cornucópias triunfantes de humanas fortunas,
Cicatrizam doces emendas distantes com poéticos segmentos,
    Incendiando de liberdade, a loucura de secretos movimentos!...

Agulhas incandescentes flutuam sobre oceanos de salvação,
Gravam águas salgadas com a fervura de um amor impossível,
Salgando prazeres que emergem da profunda distância sensível,
Pelas lágrimas que se afogam entre o sal que queima de sedução,
Ateando o fogo que aceita, no frio insensível do prazer em negação,
    Desencontrado das horas onde a diferença é igualdade incompatível!...

Porque a agulha que atravessa o coração é incandescente,
Ainda que a desigualdade pareça o frio de uma luz mais visível,
    Complementam-se nas semelhanças da verdade de quem mente!...
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Duas agulhas, Duas Linhas e Dois Chambrinhos


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Alongaram-se os chambrinhos desbotados,
Aduzidos às rendas a que não tiveram direito,
Mãos grossas trabalharam lavores do seu peito,
Peito e peitos de ternura com carinhos dourados,
Com outro peito rendilhou pressas de rendados,
Um recém-nascido foi filho do desejo perfeito,
     Tão perfeito, que outros foram segregados!...

Voa a manca apressada para o ninho de ouro,
Leva consigo o orgulho engolido do queixume,
Regressa esvoaçante com uma coroa de louro,
Velhos desejos desse seu verdadeiro tesouro,
   Pobre esquecida de outra inocente implume!...
 
São asas sempre velhas da velha necedade,
Estrambólica vergonha desfeita em bordados,
Sobrepõem-se as velhas linhas de ridícula vaidade,
Com novas agulhas dobradas aos pés dos adorados;
É na fímbria longínqua dos chambrinhos sem idade,
Aformoseados por pontos obrigatórios de afinidade,
    Que filhos da mesma agulha espetam os enteados!...

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Há mãos tão desejosas de serem máquinas de costura,
Que bordam chambrinhos com miseráveis linhas infelizes,
   Espetando agulhas às cegas nos olhos de quem as atura!..

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