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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Duas agulhas, Duas Linhas e Dois Chambrinhos


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Alongaram-se os chambrinhos desbotados,
Aduzidos às rendas a que não tiveram direito,
Mãos grossas trabalharam lavores do seu peito,
Peito e peitos de ternura com carinhos dourados,
Com outro peito rendilhou pressas de rendados,
Um recém-nascido foi filho do desejo perfeito,
     Tão perfeito, que outros foram segregados!...

Voa a manca apressada para o ninho de ouro,
Leva consigo o orgulho engolido do queixume,
Regressa esvoaçante com uma coroa de louro,
Velhos desejos desse seu verdadeiro tesouro,
   Pobre esquecida de outra inocente implume!...
 
São asas sempre velhas da velha necedade,
Estrambólica vergonha desfeita em bordados,
Sobrepõem-se as velhas linhas de ridícula vaidade,
Com novas agulhas dobradas aos pés dos adorados;
É na fímbria longínqua dos chambrinhos sem idade,
Aformoseados por pontos obrigatórios de afinidade,
    Que filhos da mesma agulha espetam os enteados!...

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Há mãos tão desejosas de serem máquinas de costura,
Que bordam chambrinhos com miseráveis linhas infelizes,
   Espetando agulhas às cegas nos olhos de quem as atura!..

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ai Aguenta, aguenta...

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Impiedosamente curvado,
Sob as borboletas desiguais,
Ai, aguenta, aguenta…
As asas em abatimento calado,
Estilhaçadas pelas canduras fatais,
Dos fragmentos sedutores por sinais,
Pousando de futuro em futuro dourado,
Que, agora, lhe revolve o ânimo estilhaçado,
   O bater diferente das asas de borboletas iguais;
Por cada bater das asas que o eleva e sustenta,
Cai em si e tanto pesa que quase se rebenta,
E vêm-lhe aqueles esmagamentos mortais,
De quem não aguenta,
Ai não aguenta, não aguenta,
Pese embora a fantasia da igualdade,
É esmagador o pesadume da realidade,
Intenso o ardor esvoaçante que o alimenta,
E o estômago que ainda arde em humildade,
Descobre-se então de um forte bater novo,
Que renasce dessa tenebrosa tormenta,
Nas asas indestrutíveis de um povo,
Que quase tudo aguenta,
Ai aguenta, aguenta!...

As borboletas tomaram um atalho,
No estômago insurge-se uma gástrica canseira,
Da inconstância da dúvida renasce a certeza sobranceira,
   Vende-se inteiro à alma e ás borboletas, a retalho,
Quanto ao resto que de si se lamenta,
 Senta-se no que de si sobra e se tenta,
Engole as cores aguentadas de sua bandeira,
E ai que aguenta, aguenta…
Já fora pólen de flor e orgulhoso carvalho,
Ai, as borboletas que o pensamento aguenta,
     Sentindo o voo sem descanso nem trabalho!...
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