segunda-feira, 26 de outubro de 2015
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Cancro que Somos
Ignorado,
Escondido,
Odiado,
Temido!...
O medo de o ter,
Medo de não o deter,
Não senti-lo a nascer,
Senti-lo a crescer,
Senti-lo vivo no ser,
O medo de o saber,
E saber,
Querer viver,
E viver,
Querer ganhar e não poder,
Apostar a vida e perder,
Fogo infernal e o sofrer,
A vida a arrefecer,
A vida e não a ver,
Medo de morrer,
Morrer sem querer,
Querer morrer,
E morrer!...
Num dos lados da consciência,
Distante do lado que havia sucumbido,
Aproximação de todas as dores da
penitência,
A lonjura da saudade que não havia
morrido,
Ablativo sem dó, o remorso e
reminiscência,
O
sangue, o fim do sangue, o fim sofrido!...
Sangrado das pústulas que ficaram,
O alcatrão espalha-se sobre a verdura,
As pústulas da morte e morte da postura,
A terra arável, as sementes que
germinaram,
Os monstros de betão que lembranças
esmagaram,
Lembranças de sementes livres da
ditadura,
Sonhos livres das moléstias violentas,
A impiedade densa da negrura,
As eternas raízes virulentas!...
A dissecação do crânio vazio,
Vaso ósseo do mais negro corrimento,
Escorre sobre o abafado céu bafiento,
Inferno mórbido exalando bafio,
Cérebro de morte sedento,
Até ao fim!...
E a pergunta inocente,
Pai, porque somos assim?!...
Inocência final e descrente:
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
O Egoísta
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Todos o olhavam com desdém,
Viam nele o que neles não viam,
O egoísmo de o ter quem o tem,
Reflexo que nos olhos se retém,
E para lá dos olhos não sentiam,
Irreflexo que da alma escondiam,
Escondendo espelhos de alguém,
Que revelasse como eles seriam!...
Olhavam-no através do embaço,
Ele que neles não encontravam,
Causava-lhes sentido embaraço,
Não sentir-lhe qualquer cansaço,
De ser o egoísta que acusavam,
Era o egoísmo que desprezavam,
O dele,
que crescia a cada passo,
Ao
passo que o deles decrescia!...
Viam sorrir aquele feliz egoísta,
Como quem sorri por não o ser,
Viam-no e viam um optimista,
Olhares ao alcance da sua vista,
Que por nada se coíbe de ver,
Viam-no sem querer parecer,
E ele era-o, simples e altruísta,
Como tem tudo para oferecer!...
Era ele de um egoísmo tamanho,
Que jamais quis saber do que era seu,
Nada deu a si mesmo e de tudo a todos
deu,
Há pão e sorrisos, dados por esse egoísta
estranho,
E o mundo continua a ver nele o que dele
tudo recebeu,
Nada se perderia da dádiva e mais se ganharia
do que mereceu,
Sempre
se soubesse que se tudo se desse tudo se teria ganho!...
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segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Beijo Íntimo
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Os beijos lambem-se no perfume do seu
tecido,
Beijam-se fechados em sua louca
sofreguidão,
Os beijos escondem-se do beijo apetecido,
Beijam-se, solitários, com a sua solidão,
Os beijos escondem-se no coração,
Escondem o beijo escondido,
Há um beijo oferecido,
Beijos de paixão,
Beijo perdido,
E encontrado... só!...
Só, em íntimos murais,
Murais pintados de moral,
A moral dos beijos providenciais,
Beijados pelos lábios do céu, celestiais,
Ao som de uma só voz entoada num
madrigal,
Beijos puros, feitos de céu, ternura e
pouco mais,
Desconsolo do beijo, proibição da carne,
do beijo carnal
O
desejo de beijar e ser beijada pelos lábios de beijos iguais!...
E o pecado!...
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domingo, 4 de outubro de 2015
Luto Celeste
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Vieram de terras distantes,
Para muito perto da inocência,
Fugiram de histórias dissonantes,
Sobre covardia de fugas humilhantes,
Nas trouxas com pedidos de indulgência,
Havia muitos negalhos a atar a
incoerência,
Pontas soltas de mentiras incessantes,
Bem atadas à histórica precedência,
Da ganância estrelar!...
E as estrelas são todas cadentes,
Por mais celestes que se mostrem azular,
Há séculos que há muito sangue nos
dentes,
Das veias de todas as raças feitas
diferentes,
Algumas estrelas são impossíveis de
tatuar,
Na sempre negada igualdade crepuscular,
São iguais ao resto dos frios sóis poentes,
Na esperança perdida, perde-se o olhar,
Dos cadáveres ainda quentes!...
O céu já não sabe o que fazer,
Tudo é céu aberto de valas comuns,
Rasgados são os céus pelo cego poder,
O céu vê suas estrelas caídas fenecer,
Tudo é um céu para o céu de alguns,
O céu de luto não para de sofrer,
Pela
morte dos céus comuns!...
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segunda-feira, 28 de setembro de 2015
O Silêncio das Palavras Verdadeiras
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Bem guardadas,
Tesouros irreveláveis,
Á espera de serem articuladas,
Algumas, são por muitos veneradas,
Proferidas por seus donos pouco fiáveis,
Escravos delas e tal como elas articuláveis,
Escravos delas e tal como elas articuláveis,
Por aí à solta, de boca em boca
libertadas,
Bem acolhidas, por outros insuportáveis,
Pela ligeireza da bífida língua
fustigadas,
Á mentira e à verdade indispensáveis,
Doces e leves, amargas e pesadas,
Alívio,
ou doem como pedradas,
São de amor ou detestáveis,
Só
ao silêncio confiadas!...
E é em silêncio que devem ser ouvidas,
Escutadas com ouvidos livres de asneiras,
Que não sejam muitas delas confundidas,
Com o silêncio das palavras verdadeiras!...
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sábado, 19 de setembro de 2015
Partindo... e Ficou!...
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As cores secando,
Desistindo
O olhar sobrando,
As folhas voando,
Caindo,
Sorrindo,
A memória desfolhando,
Luzindo,
Recordando,
Sonhando
O sonho mais lindo,
Regressando
Quase conseguindo,
Chorando!...
A morte que regressa depois de regressar,
Partira depois da morte, antes de partir,
E ficou!...
Viera ver a saudade antes de a matar,
Viera ver a saudade antes de a matar,
Morreu de saudade antes de se ir,
E ficou!...
O olhar,
As folhas antes de cair,
O mesmo amor e a saudade de amar,
O que partiu e o que há, de partir,
A saudade que há, de ficar!...
E ficou!...
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terça-feira, 15 de setembro de 2015
Caminho (Ontem, Hoje e Sempre)
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Ontem fui viagem,
Levei-O em meu caminho comigo,
Fez-se caminho à minha passagem,
Sou o
caminho que me leva consigo!...
Hoje continuo a ser caminho,
N’Ele, sou verdade de caminhos seus,
Com Ele em mim, não caminho sozinho,
N’Ele,
em mim, sou o caminho de Deus!...
E, se em meu caminho encontrar a dor,
E, se em meu caminho encontrar a dor,
Em suas mãos confiarei meu fiel destino,
Serei encontro feliz sob o seu esplendor;
Amanhã continuarei humilde peregrino,
Amanhã continuarei humilde peregrino,
Serei
d’Ele, a paz, sua Palavra e seu amor,
O meu trajecto livre, abençoado e divino!...
O meu trajecto livre, abençoado e divino!...
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"Soneto dedicado aos diversos,
que me vão confundindo com diversos padres,
alguns dos quais, não sei quem são!...
Baseado no mote dado por um Padre muito culto
que nem deve saber que o deu"
domingo, 13 de setembro de 2015
Certeza da Dúvida Ancestral
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O apelo iluminado das raízes ancestrais,
A raiz que se aproxima e o próximo sinal,
O sol deposto por não pôr-se, jamais,
E o renascer da dúvida ancestral,
Sem ter conhecido a luz final,
Entre outras luzes iguais,
Ou à sua luz única, igual!...
A questão posta aos anos que passam pelo
nosso ser,
Sem ser sabedoria que nos preencha de
tempo,
Que nos encha sem nos preencher!...
Talvez saibamos a resposta sem nada saber,
Talvez saibamos a resposta sem nada saber,
Como se nada houvesse a saber sobre o
crescimento,
E, como um momento que cresce a cada
momento,
Acontecem certezas que não param de
crescer,
Entre dúvidas que brilham no firmamento!...
Sob as estrelas que brilham no olhar,
Chegados, finalmente, ao cume do que
fomos,
Acima de tudo, sabemos que não podemos
voltar,
Á
certeza de não voltarmos a saber o que não somos,
Por saber que já brilhamos o que tínhamos a brilhar!...
Nos ancestrais braços da melancolia,
Com a melancolia no ancestral coração,
Erguemos os olhos até à ancestral sabedoria,
Onde os sábios O procuram, à procura da razão!...
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terça-feira, 25 de agosto de 2015
Viagem ( A descoberta)
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Tudo, meus olhos quiseram possuir,
Quiseram ser vistos por todo o olhar,
Que todos os olhos me vissem viajar,
Por esse mundo fora, sempre quis ir,
Ver os outros olhos verem-me partir,
Vê-los
invejosos ao verem-me voltar,
Logo partindo, para continuar a vir!...
Continua minha satisfação insatisfeita,
E não sei qual a razão dessa miragem,
Tudo foge deste olhar que se estreita,
Há um olhar meu que me espreita,
Bem dentro de mim,
Desconhecido jardim,
Vou para fora de meu ser em viagem,
Há uma saudade que comigo se deita,
Há uma saudade que comigo se deita,
Viajamos fora de nós, de passagem,
Aproximo-me do fim,
E volto vazio de tudo, sem bagagem,
De olhar vazio, sem a viagem perfeita,
Enche-se, meu olhar, de coragem,
E
comigo se deita,
Viajando…
assim!...
...tão perto eu estive do que era,
Do vivo regato que em mim vive,
Onde bebe, eterna, a Primavera,
Saciando-me como eu o quisera,
Onde bebe, eterna, a Primavera,
Saciando-me como eu o quisera,
Procurei-me
onde nunca estive,
Na Alma onde sempre estivera!...
Viajo agora por mim adentro,
Numa viagem onde me confesso,
Numa viagem onde me confesso,
Descubro a minha Alma no centro,
Viagem sem partida nem regresso!...
Viagem sem partida nem regresso!...
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