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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Colheita Perdida


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Mordeste a terra deixada ao abandono,
Cemitério onde enterraste teus dentes,
Sonhavas com trabalho, esse teu dono,
O pesadelo de perdê-lo tirou-te o sono,
     Hoje não dormes por muito que tentes!...

Mordeste a terra alheia, tão fértil e pura,
Viste teus dentes caírem a cada dentada,
Mastigaste teu árduo suor da tua agrura,
Semeaste-te em campos de escravatura,
     Colhes a tua raiva dentro de ti enterrada!...

Hoje, ainda vês teus campos reverdecer,
Nos olhos que ainda procuram abastança,
Olhas teu prato onde nada há para comer,
    Vês a desilusão nos pratos da tua balança!...

Semeaste uma desenterrada lembrança,
Teu olhar ainda semeia o que teve de ser,
Esqueceste onde semeaste a esperança,
    Ai, se soubesses onde a esperança colher!...
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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ai Aguenta, aguenta...

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Impiedosamente curvado,
Sob as borboletas desiguais,
Ai, aguenta, aguenta…
As asas em abatimento calado,
Estilhaçadas pelas canduras fatais,
Dos fragmentos sedutores por sinais,
Pousando de futuro em futuro dourado,
Que, agora, lhe revolve o ânimo estilhaçado,
   O bater diferente das asas de borboletas iguais;
Por cada bater das asas que o eleva e sustenta,
Cai em si e tanto pesa que quase se rebenta,
E vêm-lhe aqueles esmagamentos mortais,
De quem não aguenta,
Ai não aguenta, não aguenta,
Pese embora a fantasia da igualdade,
É esmagador o pesadume da realidade,
Intenso o ardor esvoaçante que o alimenta,
E o estômago que ainda arde em humildade,
Descobre-se então de um forte bater novo,
Que renasce dessa tenebrosa tormenta,
Nas asas indestrutíveis de um povo,
Que quase tudo aguenta,
Ai aguenta, aguenta!...

As borboletas tomaram um atalho,
No estômago insurge-se uma gástrica canseira,
Da inconstância da dúvida renasce a certeza sobranceira,
   Vende-se inteiro à alma e ás borboletas, a retalho,
Quanto ao resto que de si se lamenta,
 Senta-se no que de si sobra e se tenta,
Engole as cores aguentadas de sua bandeira,
E ai que aguenta, aguenta…
Já fora pólen de flor e orgulhoso carvalho,
Ai, as borboletas que o pensamento aguenta,
     Sentindo o voo sem descanso nem trabalho!...
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sábado, 30 de abril de 2011

O Trabalhador


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Trabalhador no trabalho fincado,
Calos de insónia na noite perdida,
Amealhador ganancioso de riqueza,
Obsessão que o passa ao lado da vida,
Febril medo de ignorância incontida,
Avarento de miserável pobreza!...

Trabalhou com afinco viciado,
Em toda uma vida sem descanso,
Não adivinhando seu leito de corno manso,
Agonia insensível de um homem enganado,
Por causa de seu escravo corpo tão cansado,
Não arrefece a cama de marido atraiçoado!...

Segou mil searas infecundas,
Por cada seara fez mil vencilhos,
Com que atou a fome dos seus filhos,
Míngua de pão em cicatrizes profundas!...

Trabalhou o louco com a loucura do medo,
Promessa de ouro e de escravo prometido,
Trabalhador à morte para sempre agradecido,
Propriedade da morte que lhe aponta o dedo,
Julgando o condenado a um alienado degredo,
Escravo culpado por ele mesmo vencido!...

Nas suplicias despedidas frementes,
Brama o vento das searas revoltadas,
Delírio febril por mil espigas roubadas,
Por mil negros corvos pertinentes!...

Em seara alguma ficou seu nome,
Nem ócio algum morreu de fome!...
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