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sábado, 9 de setembro de 2017

Adopção do Homem Abortado

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Estranhos dias estes, de sentir,
Dias de faz-de-conta e desdém,
Estranhos dias que hão, de vir,
Estranhos os dias de confundir,
Dias de serem homens, porém,
Dias de serem iguais, também,
Dias com o direito ao coexistir,
   Dias de ser homem e ser mãe!...

Estranhos homens, estranhos,
Grávidos de erros tamanhos,
Estranhos homens, abduzidos,
Grávidos de erros consentidos,
Estranhos, carneiros, rebanhos,
Grávidos de vazios desempenhos,
    Estranhos carneiros concebidos!...

Somos adoptivos desta sociedade,
Somos irmãos do que ela adoptou,
Adoptada, a mentira virou verdade,
E se a essência, por defeito, pecou,
Excesso de mentira virou igualdade,
Igual, por diferente, foi o que ficou,
    Ficou o inteiro reduzido a metade!...

Estranho homem este que se abstrai,
Homem que de ser homem se abstém,
Homem que a outro homem chama pai,
   Homem que a outro homem, chama mãe;
Estranho o que não se distingue,

Estranho o que do vazio vem,
Estranha palavra que se extingue,
   Estranha mulher grávida de ninguém!...
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domingo, 6 de agosto de 2017

As Bêberas...

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        Amigos…    
Gosto mais de bêberas do que figos,
Grandes, brancas ou mais escuras,
Alongadas e maduras,
Gosto de palpá-las,
Quase esmagá-las,
Madurar cada bêbera verde de amarguras,
Acariciá-las!...
Amigos…
Imaginem a figueira de todos os perigos,
Bêberas doces de maduras, sem abrigos,
Sem línguas que lambam suas doçuras,
Bêberas quentes, ansiosas por ternuras,
Penduradas em seus verdes castigos,
Como se fossem docemente impuras,
Nascidas em figueiras de mendigos!...

Pingos de mel, tão doces são,
Doces são as rachas de figos lampos,
A figueira deu frutos de prazer a Adão,
   Bêberas de prazer com doces encantos!...

Eva, a primeira puta em vez de freira,
Deu a bêbera ao primeiro que homem que apareceu,
Não escondeu a madura bêbera da sua verde figueira,
Deu sua folha a Adão que o seu fruto escondeu!...

Amigos…
Comam bêberas,
   Não comam cus de figos!...
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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Rola pôs dois Ovos no Buraco da Fechadura

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Que teria visto o sorridente petiz,
Com sua cândida inocência e pura,
Quando num riso envergonhado diz,
Que a uns milímetros do seu nariz,
A rolinha, -diz ele a jurar que jura-
     Pôs dois ovos no buraco da fechadura?!...

Em todas as portas há fechaduras sagazes,
E todas as rolas que espreitam são capazes,
De nelas sentirem dois ovos escuros a bater,
Aninhando-se em ninhos quentes de prazer,
Muitas passarinhas esquecidas das chaves,
Fecham-se em pequenos ovos sem o saber,
    Espreitam-nas a inocência de outras aves!...

Há um buraco na fechadura,
A brilhar com intensidade,
Palpita com ansiedade,
Em segredo que pouco dura,
Abrem-se as portas com ternura,
  Às chaves inocentes da curiosidade!...
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sábado, 15 de agosto de 2015

Soneto à Portuguesa - Grinalda ( As putas dos Laranjais)

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Saberiam a mel as laranjas prometidas,
Verde esperança das laranjeiras em flor,
Antes das laranjas, foram flores fodidas,
      Nos laranjais onde se confundira o amor!...

Casta e pura, a pura flor de laranjeira,
Esquecida flor pela laranja que nasceu,
Caiu a doce laranja na inocente asneira,
     Todo o laranjal, murchou e apodreceu!...

Fizeram das donzelas putas perdoadas,
Entre grinaldas obrigadas a endoidecer,
Enlouqueceram as inocentes abusadas;

Florescem de tristeza, ávidas de prazer,
São fruto apetecido mas nunca amadas,
     Flores que nos laranjais morrem a foder!...

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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Leilão dos Corpos


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O corpo tem um preço incerto,
Tão certo quanto a incerteza do seu valor,
Na guerra da carne, vale tudo menos o amor,
A origem das cinzas, está das cinzas muito perto;
Alguns corpos são leiloados no deserto,
Evaporam-se em lanços de calor,
    E gelam de corpo aberto!...

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Retraem-se para o seu próprio desvão,
Trastes dos que querem que trastes sejam,
Leiloam-se no segredo do seu próprio pregão,
Vendem os dias aos que dizem que mais lhes dão,
Uns fogem sozinhos antes que outros os vejam,
Compram o que vendem com a sua solidão!...

Indecisos entre qual das mortes escolher,
Inquietam-se muito apressados e correm,
Escolhem ser lindas estrelas do anoitecer,
Entregam o corpo ao sol para não morrer,
Sentem os gélidos suores que escorrem,
O pesadelo do que não queriam ser,
Fogem da morte e morrem!...
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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Gourmet X





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O mamilo saliente,
Levemente gengibre e rosado,
Um doce polvilho de sopro e pecado,
Uma pitada de desejo controlado e quente,
Deixar escorrer um fio de beijo úmido e desejado,
 Umedecer o desejo com desejo de papila suave e indecente,
Lamber um pouco de sal do corpo e contornar o mamilo suavemente,
Acrescentar ao paladar o prazer irresistível de querer ser provado,
E mordiscar os lábios nervosos sem resistir à tentação ardente,
    De penetrar a dureza doce na acidez do sabor aveludado!...

Abre-se o próximo beijo à passagem para a sobremesa,
Vira-se o desejo bem quente antes que o prato arrefeça,
O reverso é tentador e dá-se a mostrar atrás da defesa,
Um lubrificante beija o angusto pecado dado à surpresa,
Com um travo de escorregadios aperitivos,
O deslize apodera-se de órgãos sensitivos,
Atrás do prato, o prato deseja que o deslize aconteça,
Desliza com cuidado antes que a vontade desapareça,
     Não há contas a fazer, é o prazer que paga a despesa!...

À mesa feita de mal cozinhados tabus,
Provam-se estranhos beijos intuitivos,
Há cozinhas de cuzinheiros bem vivos,
Cozinham os desejos que comem crus,
   Gourmet de novos sabores primitivos!...
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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Dizendice do Amoranço e Odieira


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Nossa dormideira é doce minha e doce,
Deveras assolapada nesta caídeza por ti,
Esta abestalhada sintura ainda que fosse,
Fosse ela por ti e é em vistança do que vi,
Sentidão afundada em fanicos dados de si,
 O amoranço sem tino que em mim pôs-se,
    E põe-se na gozadura que nasce e que ri!...

Derreto-me aburricado e me alambuzo,
Pensadote na beijocada de tua linguaroca,
Meu cobrão cata-se em olhos na tua toca,
Enterradão no calo da manápula em abuso,
E amaluco-me pensadoiro na tua mamoca,
Alongo a língua ao melado dessa tua beijoca
      E eu madoido em amoranço e desaparafuso!...

Arremeteste-me toda nua para esta doideira,
Abriste-me com tuas pernonas escancaradas,
Arrebentou no meu tesudão uma comicheira,
Abusadonas as tuas mamalhonas descaradas,
      Foram-se lentas e doidas e nunca apalpadas!...

Acoitado que estava nas belgas da cumeeira,
Contava os caibros e vaginolas às punhetadas,
E buliam as manhosas nalgas estremunhadas,
Que á noiteca das tardes já cheia de canseira,
É ordenança obrigadona de ordens altivadas,
    E ai se não fossem amoranço, eram odieiras!...
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sexo Causal...

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Escondemos-te o que sabes desta mágoa,
Do teu amor tão distante que nos magoa,
Procuramos-nos em tua moral de pessoa,
E é um rio que vemos, triste e sem água,
   Leito árido por onde teu Amor se escoa!...

Do sadio Amor dos que te amam te dão,
É Amor nascido ainda antes de nasceres,
Dado à luz, foste a luz dos amanheceres,
Amanhecemos contigo em nosso coração,
     Anoitecemos tristes se triste anoiteceres!...

Como é imensa a tristeza da saudade,
É mais triste quando estás mais perto,
Tão longe te vislumbramos amizade,
Procuramos-te de coração aberto,
E o que encontramos mais certo,
     É uma triste realidade!...

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Tão cego o nexo causal,
Das circunstâncias até ao efeito,
Tão sexo é o hábito do sexo casual,
Do acontecer até ao defeito,
Já friamente contrafeito,
Na podridão social!...
    
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sexo, Moscas e a Sombra do Amor


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Carentes de carinho,
Caros saem os olhos da cara,
Carregam sombras da manhã clara,
Pesados são os olhos em cego descaminho,
Perdidos no anoitecido olhar do seu olhar sozinho,
 Sem ver cair a lágrima que na sombra os aguardara,
     Sonhando encarar os cegos olhares em desalinho!...

Como uma sombra nas trevas da clara razão,
Move-se a luz que olhos perdidos encandeia,
Deitou-se a sombra sobre a luz fraca da ideia,
E antes de ajoelhar-se aos olhos da confissão,
Olhou-se na cara mais triste do falso coração,
    Vendo-se rosto do pesadelo da cara mais feia!...

Quando uma fraca cabeça já por demais perdida,
Pela falta de orgulho que o sexo promíscuo fodeu,
 Pouco resta da vontade responsável já toda fodida,
  Tudo parece amor numa doentia relação distorcida,
     Jamais o Amor será isso que é, e nunca aconteceu!...


Doentes não são as moscas, 
Por um pedaço de merda amarem,
Doentes são as cegas paixões mais toscas,
    Desses doentes, enquanto da merda gostarem!... 

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Girassol entre Falésias

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Orgulhosa a água em sua abundância,
Escorria pela garganta Até às margens labiais,
As virilhas vincavam-se até os glúteos sensuais,
Encurtando o prazer exposto à mesma distância,
Abriam-se as paredes que libertavam a fragrância,
    Corriam entre os penhascos as cores menstruais!...

No alto da falésia sentes-te vir em fogo que arde,
És um fátuo girassol gravitado por infinidades de sóis,
    E feneces nos rios exânimes mais cedo ou mais tarde!...
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