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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Caminho (Ontem, Hoje e Sempre)


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Ontem fui viagem,
Levei-O em meu caminho comigo,
Fez-se caminho à minha passagem,
     Sou o caminho que me leva consigo!...

Hoje continuo a ser caminho,
N’Ele, sou verdade de caminhos seus,
Com Ele em mim, não caminho sozinho,
     N’Ele, em mim, sou o caminho de Deus!...

E, se em meu caminho encontrar a dor,
Em suas mãos confiarei meu fiel destino,
 Serei encontro feliz sob o seu esplendor;

Amanhã continuarei humilde peregrino,
 Serei d’Ele, a paz, sua Palavra e seu amor,
     O meu trajecto livre, abençoado e divino!...

    
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"Soneto dedicado aos diversos,
que me vão confundindo com diversos padres, 
alguns dos quais, não sei quem são!...
Baseado no mote dado por um Padre muito culto
que nem deve saber que o deu"




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Meu Deus!... (Tentação)


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   Meu Deus!...
Porque me deste esta língua verdadeira,
E este sabor acre e doce da palavra bifendida,
Porque me deste, do céu os olhos e da terra a poeira,
Ser estas crinas cruzadas e o aro fechado de minha peneira,
E a substância mais grossa de minha obscena verdade vencida,
Que me trespassa como se eu fosse essa Tua luz incompreendida,
      Minha própria sombra indigna e professa de minha língua inteira?!...

Sinto rastejar dentro de mim o que não quero da parte que sou,
Fora de mim, banho-me em Tua luz que anseio compreender,
Tudo é puro, sereno, felicidade plena de Ti a que me dou,
Sinto o teu sorriso singelo da felicidade onde estou,
Quase posso tocar a luz que dá forma ao Teu ser,
Minha alma rejubila por Te pertencer,
     É amor puro que por Ti ressuscitou!...

Mas, de repente,
Revela-se, do fundo, a serpente,
E o outro lado da verdade que penso,
Há uma verdade que serpenteia, pungente,
Com as línguas bifurcadas de um fogo intenso,
Que se aproximam do meu ténue bom senso,
     E arderá alguma de minha razão aparente!...

       Meu Deus!...
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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Palavra do que Lido


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Gosto de envelhecer com as palavras que nunca envelhecem,
Quase gosto de não ser conhecido pelos que me conhecem,
E pelos outros que pudessem gostar de me conhecer!...
Leio-os entre as poucas palavras que acontecem,
Conhecem-me pelo gosto em não me ler,
Não leem sobre a vida acontecer,
     E, vazios de mim… desaparecem!...

Gosto de adivinhar secretas leituras,
Das palavras revindas e das que nunca partiram,
Gosto das palavras eternas e das eternas loucuras,
Escrevo-me de alma nua em memória de velhas diabruras,
E aspiro cada partícula de pó que a pó memórias se reduziram,
Procuro-me na roupa das palavras que se despiram,
Visto cada palavra em que vejo velhas ternuras,
Dispo-me da velhice com que se vestiram,
   E rejuvenesço palavras sem amarguras!...

Não sabem lidar com o que não sou…
As palavras dos que se escrevem envelhecidos,
Escrevo nas palavras que não sei porque Ele perdoou,
-Mas sei!...
 Não escreveu Ele direito o que o homem entortou?!...
Há sempre quem escreva sobre os perdões acontecidos,
Perenes, palavras e causas são a causa de alguém que condenou,
Precede a palavra condenada, à inocência dos condenados e perseguidos,
Mas nunca seguidos,
 Aos olhos sociais da lei!...
E, envelhecendo, eu aqui estou,
Lidando com palavras dos não lidos,
Ainda a sorrir para as palavras que te dei,
Só minha palavra, muito minha, não te dou,
   Palavras de minha palavra com que fiquei!...
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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ABC-Insoletrável



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Triste!...
Em vez do ABC,
Este inteligente PC,
Que tudo sabe por mim,
Palavra triste do meu fim,
Insoletrável para quem a lê!...
 Triste...
Eu ser usado para escrever,
Vazio de gramática e sem caligrafia,
Feliz analfabeto a quem dizem o que ler,
Bem escrevendo palavras feitas sem o saber,
Denominador comum de escusada ortografia,
Sem memória das velhas palavras que lia,
Sobre palavras em vias de entristecer,
Nem pronome nem sujeito em teoria,
   Impraticável conjugação do verbo aprender!...

Triste!...
Triste o autómato escravizado,
A tristeza da tinta e do papel censurado,
As palavras que não te direi quando se apagar a voz,
Ai, se apagar-se a luz à nossa volta, apaga-se em nós,
Extingue-se o nosso nome nunca soletrado,
  Morrem as palavras e ficamos tão sós!...
   Ai, tão obscuro o saber oculto na escuridão!...
Ó iluminados deuses da iluminância concedida,
Dais a luz que a luz nos roubas sem nossa permissão,
Não há no desligado computador os gritos da revolução,
    Apagaram-se as palavras escritas na velha escrita esquecida!...

Triste!...
Triste!...
  Pudesse eu dizer!...
 Triste!...
   Soubesse eu escrever,
   Soubesse eu amanhecer,
     A Palavra da noite... 
  Triste!...
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Filhos das Tristes Ervas

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Entre as sombras das linhas e o advérbio invisível,
Esgueira-se na noite uma verdejante alma sensível,
Longe dos caminhos perdidos das eruditas catervas,
Modificando os sentidos de um sofrido verbo risível,
No modo de ser das palavras, suas humildes servas,
Amenizando intensidades de tempos sem reservas,
Circunstâncias indicadas no pensamento concebível,
Gravado a fogo na fria capa por platina das minervas,
      Favor que queima a pele dos filhos das tristes ervas!...

Entre linhas sombrias e o invisível advérbio solitário,
Brilha o olhar cabisbaixo da vergonha e seu contrário,
Infâmia de um penitente, inocente de sua condição,
Essa pobreza quase daninha em consagrado glossário,
Léxico rejeitado nos abandonados ermos de perdição,
Onde crescem arcaicos termos adverbiados de rejeição,
Verdes a ervas sempre verdes na esperança do corolário,
Proposição lógica de impoluta Alma por justa asserção,
    Culpa evidente da inocente erva dada à luz na redenção!...

No modo de ser das palavras, suas humildes servas,
     Vivem inocentes, os solitários filhos das tristes ervas!...

Conspiram nas searas perdidas as gramíneas virulentas,
Pintando céus azuis com arrebatadas opiniões cinzentas,
De pungidas lembranças dos silenciosos galrachos parasitas,
Desenham-se veracidades sobre testas de ferro truculentas,
Lavando o rosto de aparentes chupins de si mesmo eremitas,
Despindo inverdades danadas na lavra de insuspeitas desditas;
Restou todo um céu celeste sem as falsas palavras nebulentas,
Revelando fracas ervas pelo valor de uma erva mágica sedentas,
Magia que da pobreza nasceu como ervas de ouro descritas!...

Voam entre reis, caminhando no seio das pessoas benditas,
Respeitando o modo de ser das palavras, suas humildes servas,
    E vivem felizes na inocência de solitários filhos das tristes ervas!...
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

...muito Fina

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Não bastou,
A pele coberta por um ano muito pobre,
Transparente de tão sombria que foi a cortina,
Pele de nossa sombra que muita carne rasgou,
Muito fina,
Desse ano que ninguém inveja,
Por mais perto que de outro ano se esteja,
Próximos de pensamentos em dissipar a neblina,
Dessa densidade anual da memória que não se deseja,
Muito fina!...
Vergamo-nos por algo que não nos dobre,
E regressamos à fetal posição que nos cobre,
Procurando descobrir uma proteção quase divina,
Que nos descobre,
A implorar que vos proteja,
De outro ano tão mau que não nos seja,
Igual à mesma espessa rotina,
Muito fina!...
De tão ténue foi o sobreviver,
Sem ter o que ter,
Como livrar-se dessa sina,
Assassina nova ordem de ser,
 Às ordens de um novo amanhecer,
Prometido por rastejantes poderes de rapina,
Vendedores de modernos sóis ao anoitecer,
Especiosa verve de aparente suster,
Muito fina!...
Essa linha que deu a conhecer,
Prestímanos capazes de iludir um país,
Na certeza de dizer como quem diz,
O que não diz sobre o vir a sofrer,
Às mãos da privada morfina,
Que ri da incurável cicatriz,
Muito fina!...
Mas profunda como a morte;
Se ao menos os pobres tivessem essa sorte,
De morrer,
De acreditar,
De viver,
Se ao menos se partilhasse a mesma doutrina,
De adivinhar,
Sentir-se forte,
Talvez poder imaginar,
Que os sacrifícios irão resultar,
Mas o sangue continua escorrendo do corte,
E ainda que o sentimento de perda pouco importe,
Não bastará o rigor da mecânica disciplina,
Para que a justiça se vá consumar,
Porque ainda mais forte do que se imagina,
É a voz da revolta esperada do verbo gritar,
Sublevando-se…
Muito Fina!...

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Cai o pano,
De um ano caído,
Sobre os trapos do velho ano,
  Tão triste pelo novo ano prometido,
Nua esperança entre retalhos erguido,
Nova pele à medida do mesmo engano,
De esconder a Alma no corpo despido!...



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