terça-feira, 16 de abril de 2013

Filhos das Tristes Ervas

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Entre as sombras das linhas e o advérbio invisível,
Esgueira-se na noite uma verdejante alma sensível,
Longe dos caminhos perdidos das eruditas catervas,
Modificando os sentidos de um sofrido verbo risível,
No modo de ser das palavras, suas humildes servas,
Amenizando intensidades de tempos sem reservas,
Circunstâncias indicadas no pensamento concebível,
Gravado a fogo na fria capa por platina das minervas,
      Favor que queima a pele dos filhos das tristes ervas!...

Entre linhas sombrias e o invisível advérbio solitário,
Brilha o olhar cabisbaixo da vergonha e seu contrário,
Infâmia de um penitente, inocente de sua condição,
Essa pobreza quase daninha em consagrado glossário,
Léxico rejeitado nos abandonados ermos de perdição,
Onde crescem arcaicos termos adverbiados de rejeição,
Verdes a ervas sempre verdes na esperança do corolário,
Proposição lógica de impoluta Alma por justa asserção,
    Culpa evidente da inocente erva dada à luz na redenção!...

No modo de ser das palavras, suas humildes servas,
     Vivem inocentes, os solitários filhos das tristes ervas!...

Conspiram nas searas perdidas as gramíneas virulentas,
Pintando céus azuis com arrebatadas opiniões cinzentas,
De pungidas lembranças dos silenciosos galrachos parasitas,
Desenham-se veracidades sobre testas de ferro truculentas,
Lavando o rosto de aparentes chupins de si mesmo eremitas,
Despindo inverdades danadas na lavra de insuspeitas desditas;
Restou todo um céu celeste sem as falsas palavras nebulentas,
Revelando fracas ervas pelo valor de uma erva mágica sedentas,
Magia que da pobreza nasceu como ervas de ouro descritas!...

Voam entre reis, caminhando no seio das pessoas benditas,
Respeitando o modo de ser das palavras, suas humildes servas,
    E vivem felizes na inocência de solitários filhos das tristes ervas!...
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1 comentário:

  1. Além de um percurso crítico, existe também um percurso lógico em “Filhos das Tristes Ervas” que permite ao leitor, de conhecer, e refletir acerca da importância de uma linguagem simples e de fácil acesso como meio eficaz de comunicação, sugerindo, desde o título, uma tripla abordagem entre ‘gramática, humildade e palavra’.

    Uma dinâmica concisa, e, com efeito, a simplicidade, traço característico de um ideal poético, e o poema é um convite à metamorfose pela própria criação, demonstrando que a revelação simbólica da comunicação, seja ela poética ou não-poética, deve ocorrer nos níveis mais simplórios das ações cotidianas.

    Por uma visão pautada de espontaneidade e um olhar íntimo sobre o exercício da imaginação, e essa, ou aquela metamorfose que até então se apresentava de forma consistente, eleva a linguagem à metáfora mais profunda, e conferindo poder de beleza, substitui o tédio e a sombra, por uma maneira mais ingênua e leve de viver, assim, aprendemos algo a respeito de nós mesmos, e de como podemos nos comunicar melhor, dando às palavras uma espiritualidade superior à materialidade.

    A palavra é uma necessidade. Também o verbo, e o advérbio. Assim como somos para nós mesmos. Necessários e imprescindíveis. Há uma sintonia entre a palavra e o conhecimento, ou entre o conhecer e o descobrir, ou se permitir a ser descoberto. Um substantivo feminino [erva] e ainda um adjetivo [triste] em consonância à escravidão pela qual a palavra mal utilizada pode incidir, e o poema, pleno de antíteses, e de espaços interiores e exteriores, com sombras e claridades, não se limita a exprimir ideias, ou sensações, ou mesmo uma metáfora comum, mas sim, vislumbra um futuro, e nele, somos levados à comunicação com a consciência criativa de d’Alma.

    E pontuo exclamando... fez-se o verbo. Mas fez-se muito mais... um Poema, onde o homem é a palavra do homem.


    Boa noite.

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