quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Custo da Altiva Vez

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-Sou folha da árvore que sou,
Folha que cai dentro de mim,
Sou árvore nua que me vou,
Desta terra mãe onde estou,
     Deixo minhas raízes sem fim!...

Sou o Ser de meu ser com raiz,
Ser de ser Árvore e ser o fruto,
Sou o tudo ser do ser que quis,
Ser como ser árvore e ser feliz,
     Sou em Vida o meu verde luto!...

Fui Raiz enterrada ainda viva,
A causa de vida à existência,
Fui-me tão única alternativa,
    À minha vida verde de diva!...

Na sombra de minha demência,
Fui jejum de minha penitência,
Alimentei a minha raiz sensitiva,
    Com seiva de minha clemência!...
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-Era uma árvore altiva,
Vivendo à sombra de sua altivez,
Não era, amigo arbusto?...
-Sim, arbusto amigo,
Concordo contigo;
Sem sol que iluminasse sua pequenez,
Sua vontade de ser não foi impeditiva,
De tombar por falta de lucidez!...
-Diz-me, amigo arbusto,
Qual o preço a pagar pela altivez?..
-Sem ter a certeza de ser justo,
Há uma relação, talvez,
Na distância entre a raiz e altiva vez,
Quando lá muito do alto... e do susto,
Não ver suas raízes e cair,
Por desmesurado subir,
     A qualquer custo!...
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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

...de Neve e Fogo!


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…abria-se à cisão de sua fria vontade,
Sentindo-se possuir por um calor imediato,
Calor que lhe ia arrefecendo cada parte,
Das quentes partes abertas à ansiedade,
Abertas docemente ao desejo grato,
Da ligação no momento exato,
De sua necessidade!...

… muitas vezes somos bonecos de neve,
A derreter entre os lábios do inferno,
E antes que o desejo do diabo nos leve,
A.pagamos o fogo que o céu nos deve,
   Com as chamas mais frias do inverno!...

Pagamos o que apagamos,
Dívidas impossíveis de pagar,
  Apagadas do que desejamos,
Frio com que nos queimamos,
   Ou fogo capaz de nos gelar!...

…dois bonecos de fogo,
Brincam com a neve que os extingue,
   Na lascívia de um estranho jogo!...
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sábado, 12 de janeiro de 2013

A Balsa dos Pinguços


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Mágoas triunfantes,
Encostadas a uma esquina qualquer,
Inúmeras saídas para o apaziguamento,
Escondidas nos taninos de tintos em mutação,
Um lago alargado de sulfitos mortos na fermentação,
E rosáceas das balsas a bailar com destino incerto,
Mais que certo,
Em cada rosto onde não havia sequer,
A imagem sóbria de uma preocupada mulher,
Nem da vergonha de filhos alheados do pensamento,
Abandonadas às lágrimas desiludidas de seus soluços,
Prostrados aos pés trôpegos do último sacramento,
   À saúde do “que Deus leve” todos os pinguços!...

Mágoas triunfantes,
Mergulham em triplos mortais,
Para copos cheios de tintos dados à sorte,
Copos pagos por outros copos delirantes,
No delírio de muitos copos e tantos mais,
Haviam-se ido copos dados aos pardais,
Passaritos na ilusão de pássaro forte,
Arrastado por suas asas vacilantes,
Para lagos de vinhos abundantes,
     Atravessados por balsas da morte!...

Mágoas triunfantes,
Avinhadas em azeite e alho,
Bebiam da carne em mau estado,
Espremido unto de vício envinagrado,
Dado a engolir com gordurento enxovalho,
Enjoando de indiferença um indiferente vergalho,
Engolido pelas tripas do vómito e orgulho vomitado,
Na deglutição do orgulho atrás do azedo rebuço,
E de sua sóbria auto-estima já muito falho,
   Avivava-se-lhe a mágoa de pinguço!...

Línguas de vinho em carne viva,
Quebravam esquinas que lambiam,
Mortas à sede que da sede bebiam,
Em copos de sua sede inexpressiva,
 Bem no fundo árido de suas agruras,
Tanta era a sede a secar nas securas;
Mulheres distantes,
Divorciadas da culpa solteira,
Casavam as mágoas triunfantes,
Com a viuvez dos ébrios amantes,
   Esses que pagavam a sede do vizinho...
E a travessia nas balsas!...
Na outra margem da bebedeira,
Estremunhado por mais um copinho,
Desembrulhava a língua de costaneira,
E estendia o papel branco no caminho,
De suas canetas permanentes de vinho,
Para o trémulo abaixo-assinado,
Certificado,
De mais uma valente borracheira!...

Dão as balsas tantas voltas,
À volta de mágoas revoltantes,
Afogam-se mágoas revoltas,
Nas reviravoltas,
Das mágoas triunfantes!...
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Até à Rima

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O Pensamento que vai de mim,
Até à Rima,
Liberta tua alma do teu corpo à beira do fim,
No decurso do pensamento é revelado o teu frenesim,
Mas só do teu desejo em esmorecimento,
Que subestima,
Os profundos passeios entre a flor e o jardim!..

Lembras-te dos jardins abertos às flores,
E dos perfumes oferecidos aos seus amores?!...
Lembras-te dos corações de marfim,
Das asas amorosas das desfeitas borboletas,
Dos elefantes voadores,
Desfeitos em desfeitas piruetas,
E de todas as tuas dores?!...
Essas sim,
-Digamos assim-
São tua obra-prima,
Ausência de ti que em ti dói,
E se queres saber porque te mói,
 Lê os pensamentos que vão de mim,
Até à rima!...
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

...sem dias Seguintes

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Devolves-te à satisfação plena do teu anelo,
Induzida às débeis linhas do teu argumento,
Escrito consumo feito de consumível apelo,
Na rasura inapelável do teu excesso de zelo,
Dado à errada página que por um momento,
   Se rasga na última fração gozada no tempo!...

Há imensos desejos nos dias por cumprir,
Último dia que muito de tudo te oferece,
Há a derradeira noite de desejos a atingir,
Prazeres finais que teu todo enlouquece,
Há o teu desejo final que não se esquece,
     De no teu último dia, dias seguintes influir!...

Gozaste cada segundo e logo de seguida,
Teu último dia foi apagado com requinte,
Vislumbraste abraços em tua despedida,
O adeus ao futuro de tua lágrima esvaída,
    Carícia mágica escondida do dia seguinte!...

Lembras-te dos teus orgasmos atingidos,
   No clímax do teu desejo mais insatisfeito?...
E dos dias seguintes aos dias conseguidos,
Seguidos dias por outros dias perseguidos,
   Esperança que Deus te escreveu no peito?!...

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Viveu o último dia como se não houvesse mais nenhum,
Apostou tudo na subversiva descrença do depois,
Entre linhas aspiradas ficou-se pelo dia um,
Talvez não houvesse mais dia algum,
   Nem pensamentos no dia dois!...

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