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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A Ponte sobre Pedras firmes do Rio

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Minhas pedras silenciosas,
Que tanto resistis às águas mansas,
E tu, minha doce água que não te cansas,
Que passaste por amargas línguas furiosas,
Tão vivas são as vossas memórias grandiosas,
No coração das memórias sem lembranças,
   Pontes erguidas sobre pedras saudosas!...

São tão tuas estas minhas estórias,
Recordações sobre tuas águas estagnadas,
Onde flutua a nostalgia de minhas memórias,
Não me lembro de comprometidas promissórias,
Nem outras dívidas sobre muitas águas passadas,
Devo-te todas as minhas silenciosas glórias,
Barquitos de papel sobre águas paradas,
   Ponte de recordações obrigatórias!...

Devo-te tudo do que nada me deves,
Atrevo-me a nadar à volta de tuas velhas águas,
Pergunto-me, como a todas as pedras, tu te atreves,
    A ser pedra tão firme nesse teu rio de tantas mágoas!...
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sábado, 12 de janeiro de 2013

A Balsa dos Pinguços


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Mágoas triunfantes,
Encostadas a uma esquina qualquer,
Inúmeras saídas para o apaziguamento,
Escondidas nos taninos de tintos em mutação,
Um lago alargado de sulfitos mortos na fermentação,
E rosáceas das balsas a bailar com destino incerto,
Mais que certo,
Em cada rosto onde não havia sequer,
A imagem sóbria de uma preocupada mulher,
Nem da vergonha de filhos alheados do pensamento,
Abandonadas às lágrimas desiludidas de seus soluços,
Prostrados aos pés trôpegos do último sacramento,
   À saúde do “que Deus leve” todos os pinguços!...

Mágoas triunfantes,
Mergulham em triplos mortais,
Para copos cheios de tintos dados à sorte,
Copos pagos por outros copos delirantes,
No delírio de muitos copos e tantos mais,
Haviam-se ido copos dados aos pardais,
Passaritos na ilusão de pássaro forte,
Arrastado por suas asas vacilantes,
Para lagos de vinhos abundantes,
     Atravessados por balsas da morte!...

Mágoas triunfantes,
Avinhadas em azeite e alho,
Bebiam da carne em mau estado,
Espremido unto de vício envinagrado,
Dado a engolir com gordurento enxovalho,
Enjoando de indiferença um indiferente vergalho,
Engolido pelas tripas do vómito e orgulho vomitado,
Na deglutição do orgulho atrás do azedo rebuço,
E de sua sóbria auto-estima já muito falho,
   Avivava-se-lhe a mágoa de pinguço!...

Línguas de vinho em carne viva,
Quebravam esquinas que lambiam,
Mortas à sede que da sede bebiam,
Em copos de sua sede inexpressiva,
 Bem no fundo árido de suas agruras,
Tanta era a sede a secar nas securas;
Mulheres distantes,
Divorciadas da culpa solteira,
Casavam as mágoas triunfantes,
Com a viuvez dos ébrios amantes,
   Esses que pagavam a sede do vizinho...
E a travessia nas balsas!...
Na outra margem da bebedeira,
Estremunhado por mais um copinho,
Desembrulhava a língua de costaneira,
E estendia o papel branco no caminho,
De suas canetas permanentes de vinho,
Para o trémulo abaixo-assinado,
Certificado,
De mais uma valente borracheira!...

Dão as balsas tantas voltas,
À volta de mágoas revoltantes,
Afogam-se mágoas revoltas,
Nas reviravoltas,
Das mágoas triunfantes!...
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