quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

...sem dias Seguintes

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Devolves-te à satisfação plena do teu anelo,
Induzida às débeis linhas do teu argumento,
Escrito consumo feito de consumível apelo,
Na rasura inapelável do teu excesso de zelo,
Dado à errada página que por um momento,
   Se rasga na última fração gozada no tempo!...

Há imensos desejos nos dias por cumprir,
Último dia que muito de tudo te oferece,
Há a derradeira noite de desejos a atingir,
Prazeres finais que teu todo enlouquece,
Há o teu desejo final que não se esquece,
     De no teu último dia, dias seguintes influir!...

Gozaste cada segundo e logo de seguida,
Teu último dia foi apagado com requinte,
Vislumbraste abraços em tua despedida,
O adeus ao futuro de tua lágrima esvaída,
    Carícia mágica escondida do dia seguinte!...

Lembras-te dos teus orgasmos atingidos,
   No clímax do teu desejo mais insatisfeito?...
E dos dias seguintes aos dias conseguidos,
Seguidos dias por outros dias perseguidos,
   Esperança que Deus te escreveu no peito?!...

*

Viveu o último dia como se não houvesse mais nenhum,
Apostou tudo na subversiva descrença do depois,
Entre linhas aspiradas ficou-se pelo dia um,
Talvez não houvesse mais dia algum,
   Nem pensamentos no dia dois!...

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1 comentário:

  1. Às vezes o poema se parte. Ou eu, partida, reparto o poema. E minha leitura que antes era de pele e poesia, passa a ser de carne e osso. E sangue à mistura. Respiro fundo e me esforço pela descontração. Inútil. Está tudo lá. Ou aqui. Junto. Dentro. E a sangrar. Se não há esperança, há morte. Ou pena de morte.

    É como olhar a vida e não vislumbrar nada além do abismo. Sem fim. “...sem dias Seguintes” mata, ou mina, o desejo, e a continuidade da vida. Sem ser amargo, ou desastroso, a melodia, por mais melancólica que seja mantém a serenidade. Alivia. Mas não o bastante para sustentar a ideia original. Do poema. Ou minha, de que é só o fim de um novo tempo a ceder espaço para o mesmo tempo. Passado e vivido.

    E como se, de ‘só’, bastasse a poesia d’Alma.

    Nem basta. Nem pode ser contida. Há mãos solitárias estendidas ao amor de Cristo. Outras, a lembrar-nos da importância da fé num horizonte incandescente, no tempo de nossas vidas que não se deve perder nas brumas do passado, nas lamúrias do presente, e na brevidade do futuro. Há vazios que devem ser preenchidos, por mais absurdos, ou abertos em suas imensidões ocas que possam parecer.

    Talvez essa poesia desempenhe as funções de uma oração, na comunhão da alma, e das mãos, porque envolve amor, respeito, altruísmo, piedade e benevolência, fraternidade, penitência e redenção, prazer e desprazer, primeiros dias de um fim anunciado num novo começo, e muita, muita prática poética. Pela palavra, ou versos, na força da salvação que reside no amor e na fraternidade. Contando as horas para que nem tudo acabe com a palavra ‘FIM’, trocando o conforto da terra macia, mas movediça, pela firme, e, ao contrário de querer parar o tempo, deixar que a percepção imbuída de sensibilidade nos irradie com sua luz, e, por que não, de esperança.

    Um desafio!

    O poema exige superação, ou renascimento, e requer luta e fé. Entrega. Confiança. E esquecimento em prol de uma identidade futura baseada na união dos homens. Sem interrogações ou exclamações, apenas pelas reticências em linha reta.

    Trocando ‘um por dois’, ou muitos, foi preciso me posicionar para além das estrofes e da temática, atravessar alguns muros, ultrapassar espelhos e reflexos, ignorar o metal e aprender, ou reaprender a admirar o céu, e eventuais nuvens. Com disciplina, trilhar o caminho da luz, e fazer ‘chama’ no tempo de recomeçar a contar todos os segundos como os primeiros, e únicos, de uma vida com a dignidade de realmente ser vivida, desfrutada, e partilhada. ARTE. E prazer.


    Abraço A. Pina-A.

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