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Depois do sonho que o atacava,
Abeirava-se da velha cama sonolenta,
E deparava-se com o que sempre sonhava;
Ali estavam eles sobre a bota que
descansava,
Estendidos no sono de mais uma volta
truculenta,
Mal desatados por mais uma noite de
tormenta,
Nas voltas solitárias que na noite o sobressaltava!...
Sentado à beira do abismo de estrito uso
pessoal,
De braços atados pelo nó cego da cegueira
da sorte,
Contemplava seus pés de um despido branco
forte,
Pendentes de uma crua indiferença quase
vegetal,
A crescer no olhar vazio de um pálido vazio
mental,
Já sem as lembranças vivas da vida nem da morte!...
Já sem as lembranças vivas da vida nem da morte!...
Escolheu vinte dias em que ficou descalço
no frio,
Entrou em dezanove abismos e saiu por
cada ilhó,
Passou por todos eles como atacador de
ponta só,
Até encontrar seu par atacador em igual
desvario,
Uniram-se pelas botas num abraço de
amorfo nó,
Fazendo-se ímpar atacador de fatal nó corredio!...
Haurido pelo olho trespassado dos velhos ilhós,
Debruava buracos abertos ao silêncio das
dores,
Cegos nós na garganta estrangulavam-lhe a
voz,
Como quem ata olhos de solidão de homens
sós,
Ao silêncio de uma bota desatada por atacadores!...
Vinte ilhós e outros tantos longos dias
depois,
Puxou tenazmente as pontas dos fortes
atacadores,
Cada um apertou sua bota cheia de vidas
anteriores,
…e
partiram os dois!....
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