quinta-feira, 2 de julho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
Douro XXI (As Putas das Castas)
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E na vaidade daquele Douro macio,
Onde se miraram as castas mais castas,
Navegam os rabelos sobre um curso vazio,
Demarca-se o Marquês da demarca do seu rio,
Onde, agora, as putas das videiras mais
gastas,
Perderam as velhas uvas assexuadas de cio!...
A touriga nacional já por demais
prostituída,
Nestes bordel onde Baco já caga na Tinta Roriz,
As vinhas são o putedo da colheita mais infeliz,
As vinhas são o putedo da colheita mais infeliz,
Ninguém sabe dizer qual a puta que foi
incluída,
“A histórica colheita do Douro está
perdida”,
Diz o histórico marquês,
Com toda a sua sábia polidez!...
Atrás de uma puta veio outra puta mais sabida,
Atrás de uma puta veio outra puta mais sabida,
Trouxeram mais putas para foderem o que
se fez,
E, de uma só vez,
A casta do Douro, tida como tida,
É uma puta pior do que o míldio, talvez,
Novas castas de uma vinha esventrada e sem
vida,
Essa vida sem raízes, enxertada na
estupidez,
Desaguada num Douro de História fodida!...
Desaguada num Douro de História fodida!...
Pobre, pobre douro inocente,
Que tantas saudades tens, dos melhores
dias,
Das vinhas, dos vinhos e da alma pura da tua
gente,
Hoje fodem o teu leito ao longo de estranhas
orgias,
Violam-te com as mais estranhas
mercadorias,
Vendem-te como quem acha e não sente,
O Douro que foste e que jamais serias!...
E sentes que mentem,
As putas que não se confessam,
Essas castas de putas que não sentem,
O tesão dos teus socalcos onde torpeçam;
Flutuam agora bordéis, antes que os
impeçam,
Já não há rabelos fortes e úteis que os
aguentem,
Hajam cais firmes que as putas das castas
enfrentem,
Cais que não afundem, ainda antes que lho peçam!...
Cais que não afundem, ainda antes que lho peçam!...
Mistura-se o Douro em gin e na traição de
mil licores,
Corrompem-se as águas e suas correntes perturbadas,
Ruby, Tawny e Vintage, são o amor de
raízes atraiçoadas,
Os amantes do Douro, embriagados em juras
de amores,
Prometeram, no altar dos socalcos,
protegê-lo das dores,
Há um Douro sem identidade a vaguear em
águas agitadas,
Do seu doce sangue, pouco mais restam do
que suas cores,
A Alma dos Barcos Rabelos está exposta em águas paradas!...
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quinta-feira, 25 de junho de 2015
Voar?!...
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Simples, simples…
Tão simples é o teu leve voar,
O sonho no cume de tua imensa leveza,
Miras-te no espelho de uma vasta beleza,
Ainda mais leve é o teu tão diáfano
olhar,
E a luz que envolve tua força indefesa,
Débil até ao volátil segredo de pairar,
E o voo acontece nos braços do ar,
Saboreias o sonho da surpresa,
Sonhas que o voo vai acabar!...
A realidade debruça-se sobre teu espanto,
Voam leves borboletas que te querem
beijar,
Suas asas intermitentes brilham por
encanto,
A luz e o brilho do pólen até ao mágico
pranto,
A magia da felicidade, a leve magia de
sonhar,
As flores suspensas e suas cores de
encantar,
Leves como luz tecida na ilusão de um manto,
E, finalmente…
Um clarão potente,
A luz branca e subitânea,
E a falta de forças para acreditar,
Em ambas e na realidade simultânea,
Realidade do sonho, realidade do despertar!...
Simples, simples…
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terça-feira, 23 de junho de 2015
O Imã e a Diáspora (com decoração)
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Escorre o sangue dourado,
Até à fôrma que molda a consciência,
As medalhas de ouro para a complacência,
Premiam a impostura do homem curvado,
O ouro digno do Povo foi ao povo roubado,
Para condecorar traidores e a aparência,
Parece de ouro o condecorado,
Ouro vendido em evidência!...
Nada sobrevive no deserto de cada um,
A dignidade prostrada é postura comum,
A terra está lisa até à curva mais áspera,
Do coração já não é extraído ouro algum,
Sangue dos povos fez de ouro a diáspora,
Há ouro no peito do patriotismo nenhum!...
Imãs desconhecidos,
Com dois polos de atração,
Repelem pobres de outra nação,
Atraem ricos estrangeiros engrandecidos,
E logo que seus sonhos sejam
interrompidos,
Já a pobreza lhes provoca um efeito de repulsão!...
Espalharam-se por caridade e casamentos,
O imã tem dois polos de intenção igual,
Um polo corrompe os pensamentos,
E antes dos justos julgamentos,
Condecora-se o traído Portugal!...
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quinta-feira, 18 de junho de 2015
A Terra que nos Preenche (Tráfico)
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Assassinados!...
Á facada,
Á facada,
Por envenenamento,
Á pedrada,
Por enforcamento,
Por consentimento,
Por nada!...
Estranho mundo de engravatados,
Estranhos olhos em cada gravata,
Cegos pela indiferença dos atados,
Atidos à riqueza que, nunca farta,
Têm nas mãos o que muito mata,
Poder sobre os apoderados,
Donos de muitas vidas…
Vidas incumpridas,
Dos raptados,
Dos vendados,
Vendidos e vendidas,
Por bandidos e bandidas,
Por senhores acima de qualquer suspeita,
Os suspeitos do costume e a Lei por eles
feita,
A angústia de nada saber e o tormento,
Uma nesga de luz muito estreita,
O apagar da esperança desfeita,
O esmagamento,
A inocência que com as trevas se deita,
Inocência que não dorme, por muito que
tente,
O pesadelo do medo desperto,
O extenuante despertar,
A morte,
Talvez a morte,
E a morte bem viva de frente,
A vida na vida de quem a vida não sente,
Um desejo de morrer muito forte,
A morte proibida,
De uma criança perdida,
Que, ainda sem o saber,
Seria, um dia, proibida de viver,
Vivendo na humanidade esquecida,
Esquecida dos dias com amanhecer,
Pesadelo nas noites dos despojados,
E nem as preces as deixam morrer!...
Na terra que nos preenche com uma estranha altivez,
Onde enterramos a humanidade de nossa consciência,
Brinca uma criança com o seu sorriso e a sua inocência,
Há um silêncio que a vai cercando revestido de placidez,
Na terra que nos preenche cresce em silêncio a mudez,
Entre a serenidade e a indiferença, acontece a ausência,
Perdemos a memória e não recordamos sorrisos, talvez,
Da terra que nos preenche vai germinando a indecência,
Cresce na terra que nos preenche, a terra por nossa vez!...
Mundo Mudo,
A Vida por nada,
A morte por tudo!...
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terça-feira, 2 de junho de 2015
Surfar das Giestas (contramão)
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Navegando à flor do alcatrão,
Longe da fresca espuma do mar,
Conto quilômetros queimados no ar,
Vão ficando para trás as cores da razão,
Vão ficando para trás as cores da razão,
Uma surfista rasga as flores só por diversão
Enfrenta o amarelo da berma que a vai rasgar;
Há giestas que ninguém vê engolidas pelo mar,
O giestal amarelo enegrece-se no coração,
Uma giesta caída deixou de surfar!...
O mar pediu à onda e ao vento,
Que levasse a brancura da espuma,
Dissipa-se a espuma no pensamento,
Espumam as flores amarelas na bruma,
É volátil a maresia envolvida no momento,
É tão suave a gasolina em volátil movimento,
O mar tinge-se de vermelho e se esfuma!...
Ficaram para trás as cores da razão,
Há giestas a surfar num florir violento,
Conduzidas por giestas em contramão!...
Conduzidas por giestas em contramão!...
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sábado, 23 de maio de 2015
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Exclusão do Olhar
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Dentro de
si,
O sangue
corre fora de ti,
Arrefece
os caminhos para o peito,
Excluíste
do teu coração, o calor e o respeito,
Exclusão
que dentro dos excluídos eu vi,
Incluída fora do pensamento desfeito!...
Vejo-te
viver sem qualquer razão,
Respiras
caminhos que não sentes,
Vejo-te
viver em anuente exclusão,
Há um
caminho ao qual tu mentes,
Vejo-te
viver sem coração!...
Só vês
caminhos recalcados,
E te
decalcas em passos perdidos,
Apenas
consegues ver objectivos repetidos,
E antes de
chegares aos milagres imaginados,
Vais
perder-te entre vivos caminhos truncados,
Onde a
esperança dos teus olhos desfalecidos,
Pela
esperança dos seixos da vida cegados,
Acaba entre sonhos nunca cumpridos!...
Nunca
observaste a vida nos caminhos,
A meta
brilhava com uma intensidade maior,
Não viste
a exclusão dos que caminhavam sozinhos,
Nunca te
deste conta de um caminho melhor,
De todos
os caminhos escolheste o pior,
Caminhar sem sentires os espinhos,
Nem a flor regada com o teu suor!...
As velas iluminam a triste cegueira,
Os olhos vão derretendo à vista das velas,
Há uma luz divina que, de muito longe, se abeira,
Entre a luz dos olhos e a da alma há uma fronteira,
Ninguém cruza o limite de suas lágrimas singelas,
Enquanto ardem os pecados em cada uma delas,
A cera vai cobrindo uma arrefecida vida inteira,
Que se derrete à luz das coisas mais belas!...
Um sorriso
cheio de luz,
Mães
acolhedoras à luz do dia,
A luz que
ilumina o caminho da cruz,
Os passos,
as Mães, a caminhada macia,
A
humildade que não se enfastia,
O Pai e o Pão!...
A partilha e a razão,
A partilha e a razão,
O amor que
não se esvazia,
Todos os
caminhos do coração,
O sangue
livre, de uma vida sadia,
Todas as
luzes sem ilusão,
A luz
nunca tardia,
Nunca a exclusão!...
Nunca a exclusão!...
sábado, 9 de maio de 2015
51
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…aos 51, deixo de fazer anos,
Já fiz os anos que tinha a fazer,
Dos velhos, restam novos planos,
É tempo de reconhecer os enganos,
E os velhos pecados não vou esquecer,
Dos anos feitos não me vou esconder,
Agora serei mais um dos humanos,
Que só fará anos… até morrer!...
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segunda-feira, 4 de maio de 2015
Soneto à Portuguesa (Soneto às Putas Honradas)
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Muitas mulheres honradas,
Que sempre desejaram ser putas,
Morreram de desejo, coitadas,
Com as saias muito curtas!...
Nunca desejaram ser fodidas,
Nunca desejaram ser fodidas,
E não sabem se alguém as fodeu,
Foderam a honra de muitas vidas,
E o homem que filhos lhes deu!...
Anoitecem putas sem o saber,
Dentro delas, amanhecem por fora,
Sem nunca chegarem a amanhecer;
São, de todos os dias, a aurora,
Putas como sempre quiseram ser,
As amanhecidas putas, d’agora!...
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