.
.
.
E na vaidade daquele Douro macio,
Onde se miraram as castas mais castas,
Navegam os rabelos sobre um curso vazio,
Demarca-se o Marquês da demarca do seu rio,
Onde, agora, as putas das videiras mais
gastas,
Perderam as velhas uvas assexuadas de cio!...
A touriga nacional já por demais
prostituída,
Nestes bordel onde Baco já caga na Tinta Roriz,
As vinhas são o putedo da colheita mais infeliz,
As vinhas são o putedo da colheita mais infeliz,
Ninguém sabe dizer qual a puta que foi
incluída,
“A histórica colheita do Douro está
perdida”,
Diz o histórico marquês,
Com toda a sua sábia polidez!...
Atrás de uma puta veio outra puta mais sabida,
Atrás de uma puta veio outra puta mais sabida,
Trouxeram mais putas para foderem o que
se fez,
E, de uma só vez,
A casta do Douro, tida como tida,
É uma puta pior do que o míldio, talvez,
Novas castas de uma vinha esventrada e sem
vida,
Essa vida sem raízes, enxertada na
estupidez,
Desaguada num Douro de História fodida!...
Desaguada num Douro de História fodida!...
Pobre, pobre douro inocente,
Que tantas saudades tens, dos melhores
dias,
Das vinhas, dos vinhos e da alma pura da tua
gente,
Hoje fodem o teu leito ao longo de estranhas
orgias,
Violam-te com as mais estranhas
mercadorias,
Vendem-te como quem acha e não sente,
O Douro que foste e que jamais serias!...
E sentes que mentem,
As putas que não se confessam,
Essas castas de putas que não sentem,
O tesão dos teus socalcos onde torpeçam;
Flutuam agora bordéis, antes que os
impeçam,
Já não há rabelos fortes e úteis que os
aguentem,
Hajam cais firmes que as putas das castas
enfrentem,
Cais que não afundem, ainda antes que lho peçam!...
Cais que não afundem, ainda antes que lho peçam!...
Mistura-se o Douro em gin e na traição de
mil licores,
Corrompem-se as águas e suas correntes perturbadas,
Ruby, Tawny e Vintage, são o amor de
raízes atraiçoadas,
Os amantes do Douro, embriagados em juras
de amores,
Prometeram, no altar dos socalcos,
protegê-lo das dores,
Há um Douro sem identidade a vaguear em
águas agitadas,
Do seu doce sangue, pouco mais restam do
que suas cores,
A Alma dos Barcos Rabelos está exposta em águas paradas!...
.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário