Mostrar mensagens com a etiqueta mar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mar. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Sede Salgada

.
.
.

Os mares que que correm no bacalhau salgado,
Fazem correr rios que em minha boca desaguam,
Do sabor do suor que por mares de uvas foi pisado,
Emerge o sabor forte em rios de vinho naufragado,
De tão salgados, já meus sequiosos rios não suam,
Secam os nossos olhares que com os rios amuam,
    Não há bacalhau que seque neste mar acabado!...

Sacia-se o tempo,
Do tempo que não faz,
É o mar salgado mais sedento,
Quando a sede é um salgado tormento,
Que mais sede, cheia de sede, consigo trás,
Sem água nem vinho, só o lamento,
Desta insaciável sede voraz,
Sede sem fundamento,
    Só de sede capaz!...

Imaginam-se lençóis de água debaixo do lençol,
As sereias aguardam em salgados oceanos,
Esperam ser pescadas por doces enganos
Um sujo copo vazio morde o anzol,
Alucina o vinho debaixo do sol,
    Bebem do seu sal, os humanos!...


E continua o copo vazio,
Onde não há meio de chover,
O sal no bacalhau não para de crescer,
Enchem-se de sal os caudais secos do rio,
Cresce na boca água em pó com sabor a fastio,
Por afogamento, talvez a sede possa morrer,
  De sede não vá morrer a sede, por um fio,
     Fio d'água onde volte o vinho a correr!...


  
.
.
.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sal do Prefácio e da Vastidão

.
.
.

Escrevendo-me nos vastos prefácios do mar,
Fiz-me cada oceano das palavras navegáveis,
Da vastidão, fiz-me minúsculo para desaguar,
Nas frescas fontes onde tu te pudesses saciar,
   Fontes tuas, de tua sede, sempre insaciáveis!...

Escrevendo-me com minhas palavras salgadas,
Em barcos de papel, onde eu queria que fosses,
Fiz-me verbo escoado de lágrimas naufragadas,
Signifiquei-me em palavras de águas desejadas,
    Fazendo-me um imenso mar de palavras doces!...

Já não sou imenso nem sou mar contemplado,
Não sou o sal no prefácio azul das águas vastas,
Sou a falésia e a contemplação do mar passado,
Sou regato feliz percorrido por  palavras gastas,
   Palavras sempre frescas por ter-te encontrado!...

.
.
.


terça-feira, 2 de junho de 2015

Surfar das Giestas (contramão)


.
.
.

Navegando à flor do alcatrão,
Longe da fresca espuma do mar,
Conto quilômetros queimados no ar,
Vão ficando para trás as cores da razão,
Uma surfista rasga as flores só por diversão
Enfrenta o amarelo da berma que a vai rasgar;
Há giestas que ninguém vê engolidas pelo mar,
O giestal amarelo enegrece-se no coração,
    Uma giesta caída deixou de surfar!...

O mar pediu à onda e ao vento,
Que levasse a brancura da espuma,
Dissipa-se a espuma no pensamento,
Espumam as flores amarelas na bruma,
É volátil a maresia envolvida no momento,
É tão suave a gasolina em volátil movimento,
    O mar tinge-se de vermelho e se esfuma!...

Ficaram para trás as cores da razão,
Há giestas a surfar num florir violento,
    Conduzidas por giestas em contramão!...
.
.
.








quarta-feira, 15 de abril de 2015

Coisas e Tal... do Fado


.
.
.
Cantas o que eu canto tão mal,
Com dor na voz de quem canta,
Salgas as vozes do mar com sal,
O mar dói na tua voz, coisa e tal,
    É a voz da tua dor de garganta!...

Deixo navegar esta minha voz,
Nas tuas ondas de mar salgado,
Há este grande rio em todos nós,
Que leva o nosso canto até à foz,
    Coisas e tal do nosso triste fado!...

Canto mal como quem canta,
Canto muito mal mas sou feliz,
Dói-me a voz que não encanta,
Calo a voz que não se espanta,
  Com a tua voz, como quem diz,
     Que diz ser só dor de garganta!...

Continuo eu neste triste canto,
A cantar as dores do nosso mar,
E o doce sal, para meu espanto,
Coisa e tal, cantando, entretanto,
Canta as lágrimas que vai salgar,
   Para fazer doce o nosso pranto!...

Minha voz que continua a doer,
Não se cala à voz que se adianta,
Canta o triste fado sem o saber,
E antes que me mandem foder,
   Digo que é só dor de garganta!...

É grande a dor dos maus fadistas,
Já não cantam as dores de Portugal
Por tanto doer não os levam a mal,
Sentem o fado para dar nas vistas,
    Cantam alheios à dor e coisa e tal!...

Coisa e tal, ponho-me a pensar,
Se eu não podia cantar o fado,
Mesmo sem saber cantar,
  E nunca ter cantado!...
.
.
.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Nada Resta



.
.
.
Ao terceiro mês, os fetos afogaram-se no charco,
A inocência das águas amnióticas foi envenenada,
Inavegável o vazio da barriga esvaída do seu arco,
As mãos deslizam pela áspera liberdade abortada,
Um barco à vela perde-se na ventania apavorada,
Caruncho come a quilha perplexa do último barco,
Não resta mais nada!...

Queimam velas aos pés de corações de madeira,
No sangue corre a água de uma vida naufragada,
Cera fria escorre da memória de uma vida inteira,
 As labaredas congelaram no calor de sua fogueira,
  E fecharam-se em pontes de água e fé congelada,
  Os olhos de Deus ficaram censurados na fronteira,
Não resta mais nada!...

Do pinhal à beira mar, cortaram o último pinheiro,
Dos roseirais do mar arrancaram as últimas rosas,
Orações, de mãos atadas, rezaram a um madeiro,
Uma entrada e um sinal sem saída e sem dinheiro,
As preces apagaram-se entre lágrimas silenciosas,
 Árvores boas foram crucificadas no mundo inteiro,
      Madeira dos santos ainda verte lágrimas resinosas!...
     
Um mar de perdição em dois desertos sem moral,
Deserto e o sacrifício humano que se empesta,
 Águas apodrecidas à deriva no juízo final,
E do respeito pela justiça divinal,
     Já pouco mais de nada resta!...
.
.
.



terça-feira, 25 de junho de 2013

Sardinhas



.
.
.





Há um cerco apertado a Portugal,
Em pescas de cerco dos tubarões,
Afogam-nos numa dívida colossal,
Amargamos o mar salgado e o sal,
Dos pescadores iguais a mexilhões,
Vendidos aos polvos, seus patrões,
    Enlatados em subsídios de quintal!...

Ajoelha-se o coração do pescador,
Perante o ómega-3 da sua rainha,
Jamais se atrevera pescá-la à linha,
Dedica-lhe todo o respeito e amor,
Pela boa maré do mar, seu senhor,
Grato a Deus que vele sua vizinha,
     Reza por ela à espera de seu sabor!...

As lágrimas desaguam em alto mar,
Resta o sal dessas marcas salgadas,
Em cada olhar há lágrimas pescadas,
Barcos em terra dispostos a navegar,
     Afundaram-se entre redes enterradas!...

Bem gorda e tesa como um carapau,
Desfila na voz de uma linda mocinha,
Faz-se o oceano na boca, pela rainha,
Cede e desce do trono o rei bacalhau,
   É junho que chega e reina a sardinha!...
.
.
.
 


domingo, 7 de abril de 2013

Saber a mar!...


.
.
.



Aprendera a falar ao mar bravio,
Com as águas sossegadas do rio,
Confessa ao sal não saber a mar,
E ao sol o sabor de seu desvario,
Do sentir a felicidade a desaguar,
Nos olhos onde sabia encontrar,
     Um mar de amor sempre tardio!...

Há o saber a mar,
Dos rios enamorados,
Ansiosos por serem saboreados,
Pelas línguas salgadas do sabor amar,
Amor de doces lágrimas dadas a saborear,
Namoram por diferentes sabores separados,
   Até ao beijo tardio onde se vão encontrar!...

Ao entardecer, nos tardios lábios da foz,
Unem todos os desejos em segredo,
Num único sabor de estarem sós,
Prometem-se a uma só voz,
     E beijam-se sem medo!...
.
.
.