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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

À Distância de Nós

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Tão próximos de nos aproximar,
Pela distância a que nos entregamos,
Por estar mais perto não nos esforçamos,
A desculpa das palavras tomou nosso lugar,
Já não sentimos o amor de onde devíamos estar,
Quem nos ama espera por nós, mas não chegamos,
Nem lhes damos um sentido abraço e logo nos vamos,
Procuramos na maior distância o sentido de abraçar!...
   
Somos apenas o vazios das palavras do que nos resta,
Somos o resumo do nosso texto por todos partilhado,
Somos um resto de nós resumido,
Somos o livro em branco mal lido,
Somos a distância que nada nos dá e nada nos empresta,
Somos palavras de um livro do humano juízo esvaziado,
Somos desumanos sempre tristes e sempre em festa,
Somos o próximo que se aproxima do que detesta,
Somos matéria em movimento sem significado,
Somos o livro que todos lêem e não presta,
Somos palavras de um livro apressado,
Somos… nosso vómito engolido,
Somos o que podíamos ter sido,
O que passou sem passado,
      Sem ter-se apercebido!...

Tão distantes estamos de um abraço,
São tantos os abraços dados por dar,
É o grato amor  um bem tão escasso,
    E desse amor tantos falam por falar!...


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domingo, 18 de dezembro de 2016

As Duas Vezes do Bêbado

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Um bêbado deve ouvir-se duas vezes,
Uma, antes de ser ouvido,
Outra, antes de ter caído;
Um bêbado sem dizer nada tem muito a dizer,
Abre a boca duas vezes:
Uma para dizer a verdade e outra para beber,
Enquanto bebe nada diz,
Só em seu copo mete o nariz,
E todos à sua volta bebem,
São todos o espelho do país,
Mas só os bêbados pagam o que devem,
Pagam até o que não bebem,
Pagam o que muitos bebem sem pagar,
Só ao bêbado ninguém paga para se embebedar;
Paga a conta quando cai,
Quem não paga solta um ai,
Levanta-se o bêbado a cambalear,
Segue por onde o vinho vai,
Entre trambolhões e sem ninguém para o ajudar,
Lá chega a casa quando a mulher sai,
Sem nada dizer, muito diz sem falar,
E não há chaves que abram o raio daquela porta!...
A chave está torta,
A fechadura está torta,
E aquela mulher que saiu,
Não parece ser a mesma que a sogra pariu,
Ou a vida está muito torta,
Ou não foi a sua mulher que viu,
Mas, não importa,
Uma porta é uma porta,
 As chaves já antes esta porta abriu,
Só não se lembra daquela horta,
         E o rolo da massa sumiu!!!!!!!...
-Que se lixe, fico mesmo aqui,
Já não me lembro do que bebi,
     Mas, ao pé desta porta até que se está bem,
A porta de minha casa que nunca vi,
Casa minha e de mais alguém,
     Com quem nunca vivi!...

“Alô, Maria...
    O meu Manel está à tua porta a dormir?!!...
E disse ele que ontem não se embebedaria,
Por isso aproveitei para sair com quem queria,
E passei a noite com o Zé que não parou de se rir;
A propósito, obrigado pela tua casa, mas é muito fria,
Vi o meu Manel chegar a tua casa quando eu saía,
      Mas ele não me conheceu quando estava a saír!...”

Um bêbado deve ouvir-se duas vezes antes de beber,

Uma, antes de, por todas as razões, ser fodido,
    Outra, antes de alguém, por causa do vinho, o foder!...
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Voar?!...


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Simples, simples…
Tão simples é o teu leve voar,
O sonho no cume de tua imensa leveza,
Miras-te no espelho de uma vasta beleza,
Ainda mais leve é o teu tão diáfano olhar,
E a luz que envolve tua força indefesa,
Débil até ao volátil segredo de pairar,
E o voo acontece nos braços do ar,
Saboreias o sonho da surpresa,
     Sonhas que o voo vai acabar!...

A realidade debruça-se sobre teu espanto,
Voam leves borboletas que te querem beijar,
Suas asas intermitentes brilham por encanto,
A luz e o brilho do pólen até ao mágico pranto,
A magia da felicidade, a leve magia de sonhar,
As flores suspensas e suas cores de encantar,
Leves como luz tecida na ilusão de um manto,
E, finalmente…
Um clarão potente,
A luz branca e subitânea,
E a falta de forças para acreditar,
Em ambas e na realidade simultânea,
     Realidade do sonho, realidade do despertar!...

Simples, simples…
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Bolbo e a Leitura


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Talvez quisesse esquecer o primeiro livro e o prodígio das primeiras letras em sucessão soletradas!... Todas as árvores maiores chegavam ao céu azul, tão perto dos olhos, esses seus bolbos enxertados a meia dúzia de palmos, acima das primeiras palavras. Nunca se moldara à fantasia de um bolbo mágico a florir por cada leitura, mas era espantoso restituir-se como uma tendência irresistível. Devolvia-se ao esquecimento do nascer e não se lembrava da florescência, apagada pelo género singular do que lia… dos outros, que a escreviam sem a descreverem nos livros únicos sem conta!... Aceitava-se adnascente em perpétuo parto entre o futuro das pétalas imaginadas e o ângulo resguardado sob a folha. Quase se amava ao vislumbrar o gosto aparente desse pré-ponto de vista, quase vegetal, espreitando da folha e da folha da esperança em…
Escrevê-la,
Ao vê-la,
Resguardos escritos,
E descritos… na fantasia de sê-la,
Ser a folha e as palavras reivindicadas;
Depois os gritos,
A voz periférica dos tempos aflitos,
Da aflição do verso,
E do reverso,
Do verso e reverso das folhas rasgadas,
Da maldição dos veios benditos,
Ou o benfazejo dos verbos malditos…
E o crescer do universo...
O voo insaciável da ave de penas escanadas!...
A infância do mito e o mito das infâncias vigiadas pelas letras, pelos vocábulos atentos e a imposição do exercício. Depois veio a anestesia do gosto e do amor e mais amor, indiferente ao tempo, como se não existisse, nem o tempo nem a consciência da razão. Apenas o pensamento aprisionado na sensação oferecida pela misteriosa existência dos outros e de alguém sempre presente, fora e dentro de si, excluída do princípio e do fim do tempo e sua sensação de ausência infligida…
…A eternidade,
E outra vez a vez infantil esquecida,
A identidade…
A perda da vontade,
E a vontade cada vez mais forte de ler-se perdida,
Reencontro com a nova página onde lia promessa de outra página prometida,
E em cada próxima página, a revelação da verdade,
O adiamento,
Sem atraso,
O adiantamento,
A eternidade por acaso…
Toda a cultura adquirida,
O nascer do ocaso,
E da vaidade…
A realidade do bolbo ou do eterno rebento protegido pelo sentido lato das axilas pintadas na árvore milenar, já não tão próxima do céu menos azul. E das partículas de pó, essas letras sacudidas da poeira das palavras que não eram suas, quase à altura da fé enfraquecida no contínuo bolbo cheio de esperança, mas nem tanto...
Sem o espanto,
Nem a conquista do saber,
Incapaz de libertar-se do aprender,
Se alguma vez soubesse do encanto,
Que seria parar de ler,
E ler-se,
Escrever-se,
Partindo do desencanto,
Até ao tempo todo, sem eternidade, da eterna procura do significado do seu ser, do seu pensamento livre, livre da influência das palavras dos outros, do pensamento dos outros e da exclusiva existência dos donos das tendências!...
 E o Bolbo seria a sua história da própria árvore!...

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