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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Degraus da Fé... (essas Pedras de Coração Aberto)

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Às vezes, dava por mim perdido,
Ali, num lugar privilegiado da história,
À procura das estórias de santo sossego;
Embala-me cada degrau onde me aconchego,
E subo entre memórias ao encontro da memória,
Seguindo a luz padroeira que amamenta a trajectória,
   Até ao efeito mais profundo, lá no alto de Lamego!...

A mais pequena pedra de cada monumento,
Era uma pequena parte do rosto de alguém,
Quase podia sentir em mim, cada momento,
Olhares das almas gravados num fragmento,
Meus olhos procurados pela alma, também,
Para serem as testemunhas do sacramento,
    E, juntos, subirem até ao amor de Mãe!...

Imagino incrustar-me no rosto da fé anunciada,
Esculpir-me na promessa e ser degrau contemplativo,
Sentir as dores sobre cada degrau de dívida saldada,
E obter uma resposta diferente da sempre dada,
Por cada lágrima de pedra no rosto meio vivo,
Uma atrás de outra lágrima ressuscitada,
   Até ser divino remédio compassivo!...

Aproximo-me, pé-ante-pé,
Observo pecados intermédios,
Assediadores são vítimas de assédios,
Mercadores crentes no amor da sagrada Fé,
  Em Nossa Senhora dos Remédios!...
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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Viagem ( A descoberta)

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Tudo, meus olhos quiseram possuir,
Quiseram ser vistos por todo o olhar,
Que todos os olhos me vissem viajar,
Por esse mundo fora, sempre quis ir,
Ver os outros olhos verem-me partir,
 Vê-los invejosos ao verem-me voltar,
   Logo partindo, para continuar a vir!...

Continua minha satisfação insatisfeita,
E não sei qual a razão dessa miragem,
Tudo foge deste olhar que se estreita,
Há um olhar meu que me espreita,
Bem dentro de mim,
Desconhecido jardim,
Vou para fora de meu ser em viagem,
Há uma saudade que comigo se deita,
Viajamos fora de nós, de passagem,
Aproximo-me do fim,
E volto vazio de tudo, sem bagagem,
De olhar vazio, sem a viagem perfeita,
Enche-se, meu olhar, de coragem,
  E comigo se deita,
      Viajando… assim!...

...tão perto eu estive do que era,
Do vivo regato que em mim vive,
 Onde bebe, eterna, a Primavera,
 Saciando-me como eu o quisera,
  Procurei-me onde nunca estive,
     Na Alma onde sempre estivera!...

Viajo agora por mim adentro,
Numa viagem onde me confesso,
Descubro a minha Alma no centro,
    Viagem sem partida nem regresso!...


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domingo, 9 de agosto de 2015

Tão... Tantas, as Almas...


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Tantas almas perdidas,
Á espera das despedidas,
Tantos, os lenços sem dono,
Tantas, as almas ressentidas,
Á espera do seu fiel patrono,
Tantas, as almas ao abandono,
Tantas, as primaveras fingidas,
Á espera de um triste Outono,
   Tantas são as árvores despidas,
Por seus deuses em seu trono,
     Tanta fé à espera das partidas!...

Tanto santo lenhoso,
Tanta santa de porcelana,
Á espera do machado piedoso,
Á espera da beata pedrada insana,
Tão lenhosa é a pobre alma humana,
Tão insignificante é o lenho milagroso,
 Á espera da religiosa alma profana,
  Tão profano é pecado religioso,
     Que por Deus se engana!...

Tão pouca fé no semelhante,
Tão pouca fé na fé viva da Vida,
Tanta é a fé no caruncho cintilante,
Tão pouca é a fé na fé d’Ele renascida,
Tanta é a fé na vaidade degradante,
     Tão pouca, a fé em desgraça caída!...

Tão perto está o pessimismo,
Tão longe está o pessimista,
Tão perto está o abismo,
Tão longe o humanista,
     Tão em nós, o egoísmo!...

Tão ocos de alma,
Tão vazios da verdade,
Tão insaciáveis de vaidade,
 Que nem Deus os acalma,
      Em sua infinita bondade!...
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Perto da Longa distância de Mim...


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Sabia que o fim do mundo existia!... Não o fim, não o mundo, nem o fim de qualquer procura cinzelado na poeira do tempo que pudesse perder-se na pré definição de um sonho concrectizado… ou apenas sonho, ou apenas a concrectização irrealizável de acordar no mundo e seu mundo, serenamente expandido dentro de si mesmo até à relação com outros mundos, milhões de mundos. Pelo menos, mais de meia dúzia de mundos e menos do que aqueles, impossíveis de serem tidos como razão!...
A distância e o caminho, o caminho e as encruzilhadas e, ainda, o trajecto da cruz e o carrego, o peso de si mesmo e da distância entre si e si mesmo, distantes da carne e distantes da alma, tudo entrelaçado num ADN de pensamento único. Passava o tempo, passava a distância de um tempo até ao tempo que não era outro, senão aquele que passava, sem relevância, sem esperança de memória. O tempo que passava, não passava das costas, jamais seria tempo de olhar em frente ou uma partícula empoeirada de tempo, com ou sem esperança. O tempo esquecido, não seria lamentado pelos olhos fixos no outro lado das costas voltadas para o que ia passando, deixado lá ficar, caído na sombra do esmorecimento do tempo que não interessava ao futuro afixado nos olhos fixos no outro lado das costas do aborrecimento!... Aí, estavam todas as cores vivas, toda a luz e os olhos cheios, a transbordar reflexos de sorrisos, de beijos transformados em borboletas coloridas com as cores, jamais imaginadas, dos mais belos arco-íris!... A distância do que está perto, entre o tempo dado como perdido, esquecido lá atrás, e o que falta e sempre faltará percorrer, afirmando a certeza de um horizonte lento, muito lento, quase imóvel, a movimentar-se, imperceptível, ao longo de uma linha interminável que vai do olhar que antecede o sentido mais periférico, para os sonhos permitidos aos olhos dos olhares sem periferia, por tão periféricos!...
Há uma sensação de vertigem na sensação dos caminhos que se movem dentro de nós, em meu próprio movimento de mim, e a satisfação plena de anular todas as distâncias entre o que eu sou e o que não sou, por mais longe que eu esteja de tudo, longe do que não é possível estar mais perto, de mim, inclusive!... Talvez me perguntasse, numa encruzilhada por aonde passei,
Por cada cruz e distância que em mim vive,
De mim, até onde jamais me perdi e procurei,
No ser eu, íngreme, e ser meu próprio declive,
A tendência vertiginosa por onde sempre irei,
Achando as dúvidas cruzadas que não contive,
E só Deus sabe das certezas, o que eu não sei,
Talvez eu seja o horizonte onde sempre estive,
    Caminho que me trás ao mundo onde fiquei!...
Regresso, após não ter partido, não ter voado nem levado pela pressa da ventania instantânea, sem instante e sem urgência, apenas o pensamento longo, calmo e silencioso!... O tempo da cor da noite, a noite da cor do luto transcendente, mais do que celebrar a morte, a celebração da vida e, no luto e na cor, a brancura leve de uma pena, até ao resplandecer incomparável de ser princípio e fim do mundo, em si mesmo, com o mesmo amor em continuar o caminho que, partindo do mais íntimo de si, continuava até ao horizonte sempre longínquo, que o atravessava de um ponto, algures dentro de si, até ao ponto mais distante de si mesmo!...
Umas vezes, a brancura da pena do peito que da garça se soltou, flutua num contínuo pairar da sua leveza sobre as coisas mais densas, como o entardecer, como o peso do dia que vai adormecendo e se deita na noite, sem comoção, mas, apenas distante do peito que não é seu!... Perde-se a pena, a garça continua o seu voo em voos curtos sobre as longas margens do rio imperturbável, quase sereno, tão sereno quanto o voo solitário da única ave que ficou para sobrevoar o silêncio, a quietude, a paixão inexplicável pelas árvores vivas que, a seus pés, acarinham os ramos secos das árvores mortas. Um carinho distante, inconciliável, unidos pela mesma paixão da garça!... E o ninho que nunca foi visto, o saca-rabos e a raposa, a distância sempre presente e a ausência de Deus que está longe das garças. Um dia, a vida, no mesmo dia, a morte!... Os saca-rabos que nunca foram vistos e as raposas que, longe dos nossos olhos, existem, à distância de um voo cansado, de um poiso rasteiro… até ao dia seguinte onde apenas um longo pescoço branco, um longo bico pálido e a vida que se ausentou, para sempre, dos olhos de uma garça!... A pena que restou, o acaso da distância e a distância percorrida por essa pena até à minha pena, penas que emplumam a vida sobre as margens de um espaço livre, das dúvidas sem margem!....
Longe de mim, para lá de minha aprendizagem,
À margem dos meus pensamentos que longe de mim se vão encontrar,
Compreendi que, muito longe de nós, somos uma breve passagem,
Passamos por percorrer o mundo que queremos abraçar,
Todo, para lá dos nossos medos e nossa coragem,
Compramos o bilhete de acesso à viagem,
O acesso à liberdade de sonhar,
E depois de tanto procurar,
Encontramo-nos na mensagem:
    Saímos de nós para em nós querermos ficar!...
Longe de nós, onde estamos longe de todos, todos são o que somos, próximos de ir onde nunca fomos, não fosse a vida que em nós caminha, o caminho mais distante para chegar ao outro… seríamos nós, no nosso lugar, esse lugar de onde nunca saímos.
Distante!...
Á distância de mim!...


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terça-feira, 3 de março de 2015

400 Poemas d'Alma


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   Haverá mais poemas que estejam por vir?!...
Talvez um poema se revele no que vou vendo,
Há poesia que, nas palavras, se foi perdendo,
Palavras que deixaram de sentir,
Deixadas partir,
Com algum poema que o fosse sendo,
E com as suas palavras fosse crescendo,
Sentindo a saudade de nele prosseguir,
A saudade do silêncio e de o saber ouvir,
O não saber que do poema sabendo,
O saberia, sabendo como não sorrir,
Com as palavras fosse aprendendo,
E com o poema aprendesse a rir…
Rir de não saber o que se vai lendo,
Sem deixar de ler,
Sem deixar de mentir,
Mentir às palavras sentidas,
E deixar que nelas o poema as queira esconder,
Fazer delas o que lhe apetecer,
Dá-las como perdidas,
Encontrá-las escondidas,
Na vontade de as conceber,
Senti-las vivas e atrevidas,
      E vontade de as ter!...
Há sempre mais um poema à espera de existir,
Todas as palavras desconhecidas existem,
Os sentimentos não desistem,
É sã, a carne viva da emoção de existir,
É tão viva a dor e o prazer da razão de resistir,
Resistência à tentação dos vazios que persistem,
Vazios que se enchem dos interiores persistentes,
 E no sossego do nada desejar em que insistem,
Nadas moles, atormentados e insistentes,
 E nada há que os faça desistir…
O nada dos nadas que do nada não querem sair,
E por nada que seja, sem nada, se deixam ficar,
Sem nada querer, ou não, e gostar,
De todos os poemas ausentes,
      Sem nada das palavras esperar!...

Vagueando entre palavras sem rumo,
Entre costumários sinais de rumo certo,
Na certeza de rever-se num poema incerto,
E na sorte certa de perder-se num breve resumo,
Leve como o desvanecimento de uma língua de fumo,
Que se eleva nos leves braços doutro fumo descoberto,
   E se esfuma na palavra cúmplice com uma leve ironia!...
   Uma baforada de cachimbo, lúdica e plena?!...
  Um beijo e um olhar de melancolia?!...
Flutuando sem destino, desencontro-me do tema,
Procuro-me no destino do tema vadio de uma pena,
Escrevo o destino dos pássaros nas asas de cada dia,
Dou asas à infância escrita nas asas de minha fantasia,
Como se eu quisesse ser fumo que voa de um poema,
Ser todas as palavras de um beijo que bocas silencia,
Ser a criança beijada e ser o beijo que me acena,
Soprado por quatrocentos lábios de poesia!...



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sábado, 2 de agosto de 2014

Geração OLX


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Já lá vai o tempo de dar,
Um tempo dado à lembrança,
Estes novos tempos têm outro ar,
Tempos que parecem dar tudo a ganhar,
Tudo se vende,
Na venda da alma oferece-se a esperança,
Com nada conseguido compra-se desconfiança,
Que não rende,
Para pior tende,
Já nada temos e tudo temos para comprar,
Tudo o que não vendemos acaba por ficar,
E o que fica é a humilhante semelhança,
Ao pior que de nós, damos a trocar,
Ficando o remorso que nos cansa,
     Pela troca de ninguém ajudar!...

Há um irresistível chamariz,
Que apela a todo o nosso egoísmo,
Toda a indiferença que vendemos nos faz feliz,
Estamos sós e tão senhores do nosso nariz,
A saldo, vendemos o nosso altruísmo,
     Nesta geração que é ser OLX!...
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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

300

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Não me lembro do primeiro Poema!... Talvez não o tivesse deixado por aí, numa folha qualquer, na ponta da língua ou intitulado no dorso da alma. Por falta de muitas razões, não lhe atribuí um título, não o chamei disto ou daquilo ou certifiquei alguma relação com a minha identidade, a identidade do poema, de qualquer coisa guardada nas páginas viradas da vida e das que se vão virando, virando… até ao fim do livro!... Como poderia existir o livro se não existe o primeiro poema?!...  Também não guardo na memória, o segundo poema, nem a sombra do verso mais iluminado. Desisto de procurar uma razão para a existência do terceiro, do quarto, do quinto e por todas as páginas viradas de um livro, adentro na possibilidade remota de não encontrar todo o meu interior do lado de fora, simplesmente!...
Devo ter acarinhado letras e convencê-las a juntarem-se até às palavras, embalando-as, do embalo de um verso ao castigo de um poema sem nome, profundo que seria o castigo de quem o lesse!...
Chego às páginas em branco e tudo que devo ter escrito, se resume a essas páginas por tingir, por afagar com pena e pena tingida, de não as ter preenchido mais cedo. Como se uma página em branco me preenchesse mais do que qualquer página preenchida, albergue do primeiro, do segundo, do terceiro, do quarto, do quinto e de todos os possíveis poemas sem memória que me desmemoriaram da minha sombra à luz do consentimento involuntário da poesia dos outros!...
É do lado de fora que guardo o que arranquei de dentro, com mais ou menos dor,
Com mais ou menos amor,
Com muito prazer,
Constantemente!...
Nem sempre o tenha sabido fazer,
Muitas vezes devo ter sido um grande estupor,
Umas vezes por o querer,
Outras sem o saber,
Mas sempre em assunção de autor,
Inevitavelmente!...
E é do lado de dentro que fecho as chaves da gaveta, da porta, do cofre insuspeito à prova do meu lado de fora, em denúncia fúsil entre facções do mesmo corpo, da mesma alma e de todas as semelhanças com o que de mais diferente há no silêncio ou no grito!...
Eco dos estados comuns em que acredito,
O verdadeiro silêncio em precioso auxílio,
Do dito e do que dizer do não dito,
Nada dizendo do sentir mais restrito,
Mas sentindo, apesar da sensação de exílio,
Obrigado a ser seu verdadeiro domicílio,
Viver e estranhar a descoberta do fim do infinito…
E sobreviver!...

O Poema falou de ti, de ti e de ti!... E de ti também!... Transvestiu-se, transvestiu-te, despiu-se e expôs aquele pedacinho que guardavas só para ti… despiu-te!... Despojou-te de toda a pele exposta, de toda a carne cansada sobre os ossos e, por momentos, lambeu-te o espaço vazio entre o perónio e a tíbia!... Transversal, a língua e o vazio por onde ela passa. Momentoshouve em que a tibieza do vazio, atravessou o atrevimento da própria língua, da linguagem e do poema surpreendido, para surpresa de quem vê receber-se em embrulho de prenda, sem laços nem surpresa íntima!... Nunca houve dor para lá de qualquer linha de intenção, escapando à intenção do flagrante delito sem intenção clara, no seguimento das metáforas pertinentes!...
Como se desconfiasses da subentendida virtude,
E te entregasses às certezas mais incoerentes,
Indiferente às memórias adolescentes,
Apaziguando tua indiferença com atitude,
Por ser tão forte aquela sensação de juventude…
E como são jovens os versos do poema!...
Sem idade, a poesia sem idade aparente,
Lendo-se entre versos de inquietude,
Com o olhar brando de uma quietude latente…
E como é bela a Poesia sem idade e serena!...

A verdade, essa sim, fria e sem cálculos, envelhecia páginas vivas e, ávida como o tempo, refastelava-se à mesa da falta de cuidado, do abandono e esquecimento. Sem dó nem piedade!... E aqui está a desculpa, uma mísera tentativa vã de justificar o primeiro Poema inexistente, poema, esse, que deu origem à inexistência dos Poemas seguintes, como se eles não existissem no cheiro do teu livro, do teu e do teu… e do teu também!...

Os poemas sabem bem,
Sabem do cheiro dos eucaliptos abatidos,
Do papel dos livros envelhecidos,
E de outros papeis olhados com desdém,
Pelo papelão dos culturais adidos,
Esse bem tratado papel grosseiro,
De gente afetada e fina!...
Fina como a mentira jovem, sempre muito infantil, incapaz de merecer a generosidade do tempo… e morre. Insustentável, tenra e verde, antes da Poesia e da verdade que se mete na cabeça de todos e nem a morte a consegue desalojar. Sempre tive medo da morte, não da morte, morte, enquanto morte e fim de quase tudo que significasse a vida que quase ninguém quer perder; medo da morte da verdade, isso sim, de aceitá-la como verdade e ser capaz de “fazer-lhe a folha”, a mando ou traindo-me, anavalhando-me nas minhas próprias costas com um dos muitos corta-papéis que os falsos poetas usam para cortar métricas e rimas, sentidos e sentimentos, emoções e beleza emocionante… navalhadas na banalidade dos voos das borboletas e no cheiro poético das flores, facadas profundas no mel das abelhas e no pólen sensível das Primaveras!... Até, da queda lenta, muito, muito lenta da velha folha carregada de velhas nuances outonais, sobre a qual há universos de Poesia sem fim!...
Só Deus sabe onde está o meu primeiro Poema!... Só Deus sabe onde encontrar a minha última folha, quando eu for folha que cai lenta no tempo suspenso… até ao Poema que antecedeu o primeiro, logo a seguir ao indecifrável Poema derradeiro!... A imortalidade da Poesia nas mãos de alguns mortais, uns quantos, dos quais não souberam morrer nem souberam ensinar alguém a matá-los, acabando a sua imortalidade de consagrar-se entre outros poemas da humanidade comercial e capitalista. Pró diabo com o primeiro poema grátis, capitalizado pela morte do Poeta, carregado em ombros na noite do seu enterro, até à cova de onde jamais sairá para reivindicar o que é seu, por direito!... Afinal, diz-me o Poeta: “ -Reivindicar o quê?!... Dinheiro, honrarias e bocas pintadas de um forte vermelho dissimulado entre os lábios, sempre prontas a beijar qualquer morto que lhes abra a porta do paraíso, sem que o inferno onde arderão ao abandono da alma, lhes cause a mais pequena hesitação?!...”

Poetas, confiam às palavras, poemas sobre o Poeta que se virou de bruços e cavou um pouco mais além do último poema exumado!... “Reivindicar, o quê?”, desabafa o pobre coitado, enterrado e bem enterrado na interpretação mais errada daqueles que o enterraram para mais tarde o desenterrarem, com a pesada certeza daquele doido não sair do silêncio a que foi votado com toda a censura dos vivos, dos vivos e dos bem vivos também!... “Reivindicar o quê?... 

O que tu não sabes sobre o que sinto,
Quando sofres sem sofrimento pelo que sentes,
E por mais que tentes,
Serás sempre um papa-formigas faminto,
Matando a fome com o trabalho daqueles a quem mentes?...”
No primeiro livro do poeta extinto, extinto que foi o primeiro poema, os livros não acabam no princípio da poesia. É uma tal coisa!... Os pensamentos defuntos dos vivos que os vivos vão desenterrar aos mortos!... Só assim o Poeta existe, a Poesia existe. Só assim tu existes, tu existes, tu existes e tu existes, todos existem… uns mais do que outros e tu também!...

É!... Não me lembro do primeiro Poema que perdi,
Devo tê-lo perdido nas primeiras palavras levadas pelos ventos,
Bóreas, Noto, Zéfiro ou pelo Eurus das tempestades que nunca vi,
Mas tenho esta sensação inexplicável do que senti,
   Um só sentimento?... Quantos sentimentos!...
Uns cheios de paz, outros muito violentos,
Com alguns quase chorei,
Por outros cheguei mesmo a chorar,
Por todos os poemas eu ri,
Umas vezes de alegria pelo que li,
De outros, ri de tristeza, por momentos…
Voei com a leitura de quem sabe voar,
Nunca foi preciso saber rimar,
Sabem-no os atentos,
Basta respirar,
Amar e…
   Trezentos!...

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