quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Dor de Amor

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Dói esta minha dor não partilhada,
Esta dor egoísta que tanto magoa,
Dói a perda desta dor encontrada,
É a minha esperança que se acaba,
Para que o teu amor em ti não doa,
 Será tão só minha a tua dor amada,
    Dor que no meu amor se amontoa!...

Fui escolhido para amar, sem saber,
Que o amar também pode ser dor,
Dói o sorriso que em ti eu posso ler,
 O livro só meu proibido de escrever,
Onde oculto tuas palavras de amor,
     Numa página que não pára de doer!...

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Todos os dias têm as horas contadas,
As semanas são contas pagas ao mês,
Os anos não hesitam que, por sua vez,
Deixam atrás, dívidas nunca saldadas,
Ficam para os próximos anos adiadas,
E logo passa o amor com tanta rapidez,
Que há livros d’amor a serem rasgados,
   Por quem pelo amor próprio pouco fez!...
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ponto de Luz (Estrela)

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Talvez fosse um mago, na noite, perdido,
Entre a escuridão e o que , por mim, desconheço,
Trespassou-me uma estrela de brilho entristecido,
Vejo seu voo triste e entristeço,
Falta-me a luz e anoiteço,
Procuro-me no sinal,
Na verbo impessoal,
Na escuridão e não me reconheço,
Sucumbo sob mim, triste e enfraquecido,
Não sei com quem,  na escuridão, me pareço,
Dou-me a mim mesmo como desaparecido,
Espero a estrela que brilhava comigo,
Aquela guia universal,
Luz de Deus consensual,
A mesma luz que a Vida trás consigo,
   Sinto que a Vida nasce e amanheço,
Chega a natividade que persigo,
Não sei se tal Luz mereço,
Nasce a Luz de Natal,
    Sorrio e adormeço!...
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domingo, 18 de dezembro de 2016

As Duas Vezes do Bêbado

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Um bêbado deve ouvir-se duas vezes,
Uma, antes de ser ouvido,
Outra, antes de ter caído;
Um bêbado sem dizer nada tem muito a dizer,
Abre a boca duas vezes:
Uma para dizer a verdade e outra para beber,
Enquanto bebe nada diz,
Só em seu copo mete o nariz,
E todos à sua volta bebem,
São todos o espelho do país,
Mas só os bêbados pagam o que devem,
Pagam até o que não bebem,
Pagam o que muitos bebem sem pagar,
Só ao bêbado ninguém paga para se embebedar;
Paga a conta quando cai,
Quem não paga solta um ai,
Levanta-se o bêbado a cambalear,
Segue por onde o vinho vai,
Entre trambolhões e sem ninguém para o ajudar,
Lá chega a casa quando a mulher sai,
Sem nada dizer, muito diz sem falar,
E não há chaves que abram o raio daquela porta!...
A chave está torta,
A fechadura está torta,
E aquela mulher que saiu,
Não parece ser a mesma que a sogra pariu,
Ou a vida está muito torta,
Ou não foi a sua mulher que viu,
Mas, não importa,
Uma porta é uma porta,
 As chaves já antes esta porta abriu,
Só não se lembra daquela horta,
         E o rolo da massa sumiu!!!!!!!...
-Que se lixe, fico mesmo aqui,
Já não me lembro do que bebi,
     Mas, ao pé desta porta até que se está bem,
A porta de minha casa que nunca vi,
Casa minha e de mais alguém,
     Com quem nunca vivi!...

“Alô, Maria...
    O meu Manel está à tua porta a dormir?!!...
E disse ele que ontem não se embebedaria,
Por isso aproveitei para sair com quem queria,
E passei a noite com o Zé que não parou de se rir;
A propósito, obrigado pela tua casa, mas é muito fria,
Vi o meu Manel chegar a tua casa quando eu saía,
      Mas ele não me conheceu quando estava a saír!...”

Um bêbado deve ouvir-se duas vezes antes de beber,

Uma, antes de, por todas as razões, ser fodido,
    Outra, antes de alguém, por causa do vinho, o foder!...
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Não Sei o Que Dizer

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Tantas são as palavras de amor,
Tão pública a compaixão pelo mais pobre ser,
E, não sabendo, aqui estou eu sem nada saber,
Pouco ou nada sei, afinal, sobre a explícita dor,
Pouco sei do que sabe Deus e Nosso Senhor,
Nem sei com quantas palavras fazer,
O que não faço por não perceber,
As silenciosas Palavras do Criador,
E ao seu sábio silêncio me submeter,
Na esperança de ser-me posto ao dispor,
A Fé inabalável de jamais deixar de crer,
Nesta alma aprisionada em meu exterior;
-Liberta minha Alma em meu interior,
Anseio por meu coração enternecer,
Liberto do limite, fazer-me crescer,
Ser como teu terno coração acolhedor,
Onde eu acolha toda a vontade de merecer,
Tua divina força que me convide a fortalecer,
Até à força de ajoelhar-me como humilde vencedor,
Até ser capaz de todas as fomes, humildemente, vencer,
Derrotar, meigamente, guerras e provar o divino sabor,
    Do que a tua doce bondade me possa conceder!...

Não sei que dizer,
Desta fome que não pára de alastrar,
De todas as lágrimas que já deixaram de brilhar,
Das crianças que deviam ter lugar em nossos corações,
As nossas crianças que não aprenderam como não chorar,
Choram por todas as lágrimas ausentes de todas as nações,
Só não aprenderam a chorar pelas suas cruéis privações,
Não sabem a quem suas lágrimas, brilho estão a dar,
Lágrimas cantadas em valiosas canções,
Música e diamantes que a fome continua a alimentar,
Sobre tocantes lágrimas de caridade, erguem-se instituições,
Em nome de Deus e dessa caridade incapaz de ajudar,
O coração sem Alma de todas as frias emoções!...

E esta minha vergonha que não pára de crescer,
Cercada por terços feitos de lágrimas em suas orações...
   Diz-me Tu, meu Deus, porque eu não sei o que dizer!...
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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Fonte Eterna

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… e quando tua fonte secar,
Beberei toda a sede que deixares,
Serei a tua fonte de onde vai brotar,
Toda a nossa insaciável sede de amar,
E se, tão sedenta de mim, me amares,
Seremos a fonte de todos os lugares,
     Serás minha água e o meu saciar!...

Nada espero dos rios incansáveis,
Nada peço à fúria das águas doces,
Somos sal dos mares inalcançáveis,
E, fosses tu a água que não fosses,
    Seremos duas águas inseparáveis!...

E quando todas as fontes brotarem,
Serão teus doces lábios, todas as bicas,
Para meus lábios, teus lábios beijarem,
    Serás toda a água que em mim ficas!...

… e quando secar esta nossa fonte,
Nossa água fresca continuará a correr,
  Lembras-te de tua primeira água eu beber?...
Continuas fresca nascente no cimo do monte,
Flutuam nossos beijos de água sob a ponte,
     Onde nos debruçamos para a água nos ver!...
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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Não Obstante...

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Obsta o poeta os poetas,
E não obstante,
Num exercício constante,
Poetisa revoltas indirectas,
Sobre a razão dos profetas,
Em seu clamor dissonante,
  E outras revoltas secretas!...

Obsta o carneiro no pasto,
 Não obstante,
Pisa a verde erva, petulante,
E arrasta consigo, por arrasto,
A razão de um prado já gasto,
  Pelo apetite mais alucinante!...

E volta o poeta que garante,
Todas as prometidas razões,
Clama sobre doces corações,
E sobre um poema distante,
Versado por doces emoções,
No sentimento redundante,
Quiçá, de lúdicas sensações,
 Brincando, não obstante!...
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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A Nobreza das Mãos e das Línguas (ou dos cus)

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De sujar suas ávidas mãos,
Há quem de muito nunca se farte,
Gente muito fina de escrúpulos vãos;

Há em cada mão cinco ímpares irmãos,
Por quem, muita porcaria, a mão reparte,
Limpam o belo cu aos ricos, estes cortesãos,
    Para quem lamber ricos cus é uma arte!...

Gente fina de muita fineza,
Capazes da excepcional proeza,
Limpam magras carteira aos pobres,
Sem nunca deixarem de ser nobres,
Na arte de semear a pobreza!...

Que ninguém os roube,
Que ninguém ouse enganá-los;
Houve quem enganá-los não soube,
Alguém que soube como acusá-los,
A justiça, de tanto em si não coube,
    Lambeu-os e mandou libertá-los!...

Há línguas que me levam ao vómito,
Há lábios lambuzados com tanta graxa,
 Que há sempre aquele merdeiro que acha,
Ser o exemplo do puro-sangue indómito,
    E, apesar de ser merda, limpo se acha!...

Se para cada empregado, há um certo patrão,
Quem de vocês não conhece rastejantes assim?...
As línguas folgadas na trampa respondem que não,

   Os que trabalham por todos eles, dizem que sim!...
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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Confissão dos Pecados Inconfessáveis

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Todos temos inconfessáveis pecados,
Escondidos no inferno da consciência,
Alguns permanecem bem guardados,
E logo vem o castigo pela confidência,
  Dura lei dos pecadores inconfessados,
    Que auferem de decisória tendência!...

Exibimos os pecados que não temos,
Atrás dos pecados que escondemos,
Pecamos por virtude,
E por vício para que vícios paguemos,
Absolvida vicissitude,
De pecados, amiúde,
 Antes que os pecados confessemos!...

Também eu me confesso,
Dos pecados que não tenho,
Confesso que de mim desdenho,
Por ter culpas do que não expresso,
Parto do pecado, inconfessável regresso,
  Sou um caminho de pecados por onde venho,
      Sou cada pedra do meu caminho onde tropeço!...
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domingo, 13 de novembro de 2016

Tempo do Silêncio e das Folhas

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Vejo as minhas velhas folhas caírem,
Em cada folha a queda de um desejo,
Em cada desejo, o adeus de sentirem,
    As tuas caídas folhas que só eu vejo!...

São as folhas que o tempo amontoa,
Amontoadas pelo tempo que passa,
Folhas a quem o tempo não perdoa,
A cada folha que o tempo desfaça!...

É folha a quem o tempo não perdoa,
Como se fosse culpada de ter nascido,
Folha que por si cai e por cair não voa;

Voam velhas folhas por terem caído,
Voa o silêncio que pelo tempo entoa,
    Desfolhado no silêncio por ter vivido!...
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Mensageira e a Morte

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Ordenou-lhe que, por si, se adiantasse,
Que fosse à sua frente e cumprisse sua missão,
Ordenou-lhe que o último baque não roubasse,
Por mais vontade que tivesse e que a tentasse,
Teria de cuidar da última réstia do coração!...

Jamais alguém a convidou,
Mal vinda, fez-se convidada,
Sempre bateu à porta e entrou,
Por medo, quase ninguém a notou,
    É o fim do tudo e o inicio do nada!...

O mal inesperado já estava feito,
As primeiras lágrimas desferiram o corte,
Juntaram-se todas as lágrimas no peito,
Choradas pelo coração mais forte;

As lágrimas murchas, lençol do leito,
As súplicas a Deus e à maldita da sorte,
A revolta profunda de não haver o direito,
     De abrirem-se todas as portas à morte!...

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   Truz, truz…
     Já se foi a doença?!...
    Não que isso importe,
    Sou quem o medo pensa,
    Sou a…
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